Exposição Atlântico Sul na Construção do Brasil mostra importância da cartografia para independência

Da Redação

Como parte integrante dos 200 anos da independência do Brasil, está em cartaz no Rio de Janeiro a exposição “O Atlântico Sul na Construção do Brasil Independente”, em exibição gratuita no Museu Naval da Marinha do Brasil, até o próximo mês de junho.

A mostra foi selecionada a partir de pesquisa realizada pela docente Iris Kantor, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP; Heloisa Meireles Gesteira, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), e Maria Dulce de Faria, da Biblioteca Nacional do Brasil.

A exibição conta com cartas náuticas manuscritas inéditas e mapas gravados da coleção cartográfica dos séculos 18 e 19, preservados pela Biblioteca da Marinha do Brasil. “As cartas geográficas confeccionadas entre 1753 e 1822 demonstram que havia uma clara percepção das fronteiras territoriais, tanto continental quanto marítima, dada à acumulação de conhecimentos geográficos reunidos ao longo de mais de décadas de levantamento topográfico desde o Tratado de Madrid de 1750″, disse ao Jornal da USP a professora Iris Kantor sobre a curadoria da exposição.

A mostra está organizada em três ambientes. O primeiro deles tem como objetivo apresentar instituições relacionadas à formação científica dos cartógrafos que elaboraram mapas sobre o território brasileiro, incluindo também os instrumentos de medição usados para observações astronômicas durante as expedições.

O segundo ambiente explora uma variedade de mapas náuticos manuscritos confeccionados nas cidades portuárias brasileiras e de Atlas marítimos impressos pelas Marinhas da Inglaterra, França e Espanha, produzidos no contexto das guerras pelo controle dos portos nos três oceanos. A produção desses mapas fez parte de uma estratégia política e comercial que visava transformar a Marinha numa alavanca do desenvolvimento econômico do império português.

A exposição apresenta pela primeira vez cartas náuticas elaborados por membros da Sociedade Real Marítima e Militar, uma instituição em Lisboa em 1798. “Essa sociedade reunia engenheiros militares e navais, pilotos, astrônomos e matemáticos; e foi reinstalada no Rio de Janeiro em 1808″. A Sociedade funcionou com uma verdadeira academia científica, onde os trabalhos náuticos eram apresentados em sessões públicas, e eram apreciados segundo sua qualidade e acurácia”, explicou a professora Iris.

Já o último ambiente recria a Biblioteca Real dos Guarda-Marinhas, transferida de Portugal para o Brasil em 1808 com a vinda da família real portuguesa. O acervo deu origem à atual Biblioteca da Marinha do Brasil. Uma das atrações da exposição é o curioso Catálogo dos livros no qual se descrevem os itens bibliográficos e mapas do acervo em 1812. Trata-se de um documento manuscrito singularmente raro e essencial para o conhecimento da formação dos cartógrafos e engenheiros navais daquele período.

“O domínio do conhecimento náutico constituiu uma moeda de troca, do meu ponto de vista, no processo de emancipação política e na construção do futuro Estado imperial brasileiro, como se pode atestar pela qualidade das cartas geográficas do Atlântico Sul. Não por acaso, essa produção coincide com o ápice da deportação de pessoas escravizadas embarcadas nos portos africanos nas primeiras duas décadas do século 19”, afirmou Iris Kantor, ao Jornal da USP.

A exposição é realizada pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, com apoio institucional do Abrigo do Marinheiro (AMN) e patrocínio da Associação da Poupança e Empréstimo (Poupex).

Neste ano, a Marinha promove uma série de eventos que relembram a história do Brasil e apresentam a importância do Poder Naval para a consolidação do processo de Independência. As atividades são de caráter cívico-militar, cultural, esportivo, ecológico, social e beneficente, incluindo a participação de instituições extra-Marinha. Confira mais da programação:

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