Lisboa vai receber cruzeiro com centenas de brasileiros a bordo

Um dos brasileiros a bordo é Cláudio de Oliveira Ferreira.

Por Igor Lopes 
Em e-Global

Um cruzeiro operado pela empresa MSC, que inicialmente faria o trajeto Brasil-Itália, está previsto para chegar a capital portuguesa, Lisboa, na próxima segunda-feira, dia 23, com centenas de brasileiros a bordo, que dizem não terem nenhuma informação sobre como vão poder retornar para as suas casas no Brasil. Ainda a bordo, os brasileiros solicitaram ao comandante que o navio voltasse para o Brasil, mas o pedido foi negado.
Um dos brasileiros a bordo é Cláudio de Oliveira Ferreira, que viaja acompanhado pela esposa. Segundo ele, não há registo de que haja alguém infetado com o covid-19 no navio.
“Não tem ninguém a bordo doente, porém, tem muitos idosos”, contou esse passageiro.
Cláudio Ferreira revelou que iniciou a viagem no Rio de Janeiro, dia 9 de março, já que a empresa responsável pelo navio “garantiu que o roteiro estava mantido”. O destino final da embarcação seria Gênova, na Itália, dia 28 deste mês, mas, ao chegar ao porto de Maceió, no estado de Alagoas, ainda na costa brasileira, os passageiros tomaram conhecimento, “por parte de amigos e familiares”, dos problemas na Itália e do encerramento dos portos nesse país europeu, em virtude da pandemia. Diante desse cenário, “mais de mil passageiros decidiram desembarcar e voltar para as suas casas”. Mas Cláudio, a esposa e outras centenas de passageiros seguiram viagem.
“Quem desceu em Maceió foi obrigado a assinar um documento a dizer que estava desembarcando por sua vontade, isentando a MSC de responsabilidades. Também por isso não desembarcamos. Não concordei com os termos e a MSC garantiu que haveria as paradas nos portos previstos no roteiro, mas avisou que o final da viagem seria em Marselha”, reforçou Ferreira, que nos disse que a situação dos passageiros está ainda indefinida.
“Estamos há dias em alto mar, na travessia até a Europa. Ficamos sem Internet, sem televisão. A nossa rota incluía paradas em Tenerife e no Funchal. Nos informaram que a rota seria mantida. Mas não paramos no Funchal, apenas em Tenerife para abastecimento. Fomos informados de que o nosso destino final, que era a Itália, passaria a ser Marselha, na França. Muitos passageiros que retornariam para o Brasil saindo da Itália trocaram os seus bilhetes de avião para retornar ao Brasil saindo da França. O nosso regresso ao Brasil seria pela TAP a partir de Roma, passando por Lisboa, com destino a Salvador. Por precaução, não mudamos os nossos bilhetes. Estávamos aguardando novas informações. Há alguns dias, nos informaram que o destino final seria mudado para Lisboa, único local que aceitou receber o navio, e que deveríamos seguir, escoltados, direto para o aeroporto. Durante toda a travessia do oceano Atlântico ficamos sem informações concretas. Querem apenas nos deixar em Lisboa sem garantia de retorno”, narrou Claúdio, que recordou que os passageiros de nacionalidade brasileira procuraram uma solução junto ao comandante do navio.
“Na última quinta-feira, dia 19, os brasileiros se uniram e solicitaram uma solução por parte da empresa. Esse grupo redigiu um manifesto solicitando providências da MSC e hospedagem a bordo até o retorno ao Brasil. Não queremos ficar largados na rua de Lisboa. Dissemos que não poderíamos desembarcar sem garantia de retorno, para não ficarmos acampados no aeroporto, pois há muitos idosos entre nós e corremos o perigo de contágio. Sugerimos que o navio retornasse ao Brasil, pois somos quase 700 brasileiros a bordo. Numa aeronave cabem no máximo 230 passageiros, mas, no navio cabem 3.500. Os grandes problemas são as informações desencontradas por parte dos tripulantes da MSC e a falta de apoio da TAP, além das taxas altíssimas de remarcação”, reclamou Cláudio.
De acordo com esse passageiro, foram feitas tentativas de remarcar bilhetes com a TAP, “mas a empresa não estaria a remarcar as viagens e estaria a “cobrar cerca de 1.500 dólares em taxas, em alguns casos”.
Apurámos que Claúdio Ferreira e a esposa, que estão no navio numa “terceira lua de mel”, conseguiram bilhetes de avião, “pagando valores extras”, pela Latam, apenas para um voo no dia 27 deste mês. A ideia do casal era visitar o Vaticano e Fátima, em Portugal.
Medidas anunciadas
Em nota enviada à nossa reportagem, a MSC esclareceu que está a tomar providências em relação ao caso.
“À medida que essa emergência de saúde pública continua evoluindo, as autoridades de todos os países do itinerário da Grand Voyage do MSC Fantasia fecharam efetivamente os seus portos para todos os navios de cruzeiro. Devido a isso, o navio está navegando em direção a Lisboa, que será o seu destino final, e chegará no dia 23 de março, onde todos os hóspedes desembarcarão. As operações de desembarque ocorrerão nos dias seguintes, até 26 de março, com o objetivo de oferecer maior flexibilidade para a escolha do voo de retorno pelos hóspedes. Os hóspedes que reservaram os seus voos com a MSC Cruzeiros, a companhia remarcará automaticamente o voo de volta. Os hóspedes que reservaram os seus voos de forma independente devem entrar em contato com a sua agência de viagens ou com a companhia aérea para remarcá-lo ou com o seguro de viagem”, informou a empresa.
Sobre os prejuízos sofridos pelos passageiros, a MSC garantiu que todos “receberão uma carta de crédito no valor do pacote do cruzeiro, que poderá ser resgatado em um cruzeiro futuro, a qualquer momento até o final de 2021, e um crédito a bordo de 200 Euros/Dólares, por cabine, reembolsável, a ser utilizado no futuro cruzeiro”. Além disso, “quaisquer pacotes pré-pagos (bebidas, excursões, etc.), proporcionais aos dias não usufruídos do cruzeiro, também serão automaticamente reembolsados”, orientou a MSC, que disse ainda estar fornecendo “acesso gratuito à internet” até o final da viagem no cruzeiro.
Diplomacia brasileira atenta
À nossa reportagem, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse que a situação dos brasileiros em Portugal está sendo acompanhada pelo Consulado em Lisboa.
“O Itamaraty – em Brasília e por meio das Embaixadas e Consulados no exterior – está trabalhando com total prioridade para viabilizar, em coordenação com outros governos e, quando necessário, com as companhias aéreas, o retorno ao Brasil dos viajantes brasileiros que enfrentam dificuldades em países estrangeiros por restrições ligadas ao coronavírus. Consulados e Embaixadas do Brasil permanecem à disposição para receber demandas dos brasileiros geradas por essa situação, sempre buscando prestar toda a assistência consular possível em cada caso concreto. Recomenda-se a todos os cidadãos brasileiros no exterior que mantenham a serenidade e observem estritamente as medidas determinadas pelas autoridades locais, e que, se necessário, busquem contato direto com o Consulado ou Embaixada do Brasil responsável pela região onde se encontram. Ressalta-se que nenhuma Embaixada ou Consulado brasileiros encontra-se fechado. No entanto, por conta das restrições impostas pelas autoridades locais, muitas vezes foi necessário adaptar o regime de trabalho, com horários especiais de atendimento ou teletrabalho”, afirmou a nota da diplomacia brasileira.
Por seu turno, a embaixada do Brasil em Lisboa disse estar “em estreita coordenação com o Consulado-Geral do Brasil com vistas a fazer frente à emergência gerada pela epidemia causada pelo coronavírus COVID-19, que inclui “a situação dos brasileiros retidos em Portugal por cancelamento de voos e problemas correlatos”.
“Com vistas a dar uma satisfação preliminar aos pedidos que tem recebido, a embaixada esclarece que lhe compete manter interlocução política com o governo português sobre o tema. Isso posto, a Embaixada informa que todos os postos da rede diplomática e consular estão em contato direto com o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para mantê-lo a par da situação e buscar construir soluções que atendam a todos os brasileiros em necessidade. O consulado-geral já foi instruído a fornecer estimativa do número de nacionais nessa situação, com vistas a facilitar a pronta tomada de decisões a respeito”, reforçou a embaixada brasileira em Lisboa.
Destino final
Contatamos também a Administração do Porto de Lisboa, que, até o fecho desta edição, não respondeu as nossas perguntas. Contudo, em comunicado publicado na Internet, essa entidade apresentou algumas medidas de contingência de saúde pública sobre o covid-19. Segundo o texto, o Conselho de Administração dessa entidade “deu (…) seguimento à aplicação da medida extraordinária aprovada pelo Conselho de Ministros, no sentido da proibição do desembarque de passageiros e tripulações de navios de cruzeiros”, desde o último dia 16.

1 Comment

  1. Gente estúpida! A MSC deu a alternativa para todos que estivessem com cruzeiros marcados, para remarcar ou ainda seria garantido o valor pago como bônus para um futuro cruzeiro. Será que essa epidemia era surpresa para essas pessoas que resolveram continuar no navio rumo à Europa? Agora arquem com as consequências!

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