Arnaut: Presidente português promulga luto nacional após morte de ex-ministro

Mundo Lusíada
Com Lusa

O Presidente de Portugal vai promulgar o decreto do que declara um dia de luto nacional em memória do antigo ministro António Arnaut, na terça-feira, e cancelou a sua agenda amanhã pela manhã.

Segundo divulgou a Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa “aceitou a iniciativa do primeiro-ministro de decretar um dia de luto nacional” pela morte de António Arnaut.

Segundo a mesma nota, “o decreto do Governo que declara luto nacional no dia 22 de maio será assinado ainda hoje” e “a deslocação presidencial a Évora amanhã [terça-feira] foi cancelada”.

O antigo ministro dos Assuntos Sociais António Arnaut, considerado o “pai” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), fundador do PS, do qual era presidente honorário, morreu esta segunda-feira, em Coimbra, aos 82 anos.

Marcelo Rebelo de Sousa tinha previsto ir a Évora na terça-feira ao fim da manhã, para uma visita à fábrica da construtora aeronáutica Embraer e para o encerramento do 15.º Encontro Nacional de Inovação da organização empresarial Cotec.

Em declarações aos jornalistas no concelho de Gouveia, distrito da Guarda, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que António Arnaut foi “proponente de uma reforma do SNS há muito pouco tempo”.

O chefe de Estado expressou “um grande desgosto pessoal e também um grande desgosto enquanto cidadão e Presidente da República” com a notícia da sua morte.

“Eu tive a honra de o condecorar com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e queria, como amigo, recordar com saudade a pessoa – com quem estive, aliás, nos últimos meses, várias vezes – e, como Presidente da República, agradecer-lhe tudo o que fez por Portugal”, afirmou.

Durante uma visita a vários pontos do concelho de Gouveia, para se inteirar da situação no terreno na sequência dos incêndios de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu António Arnaut como um “cidadão impoluto, corajoso, destemido”, que “foi e é um exemplo de democrata, de lutador pela liberdade, de socialista empenhado na solidariedade social”.

O Presidente da República destacou a forma como o socialista era “sensível à justiça e à solidariedade”, acrescentando: “Daí ser o criador do SNS que é, porventura, uma das expressões máximas da solidariedade social acolhida na nossa Constituição”.

Marcelo Rebelo de Sousa recordou os tempos que viveram “em conjunto durante a revolução, colegas na [Assembleia] Constituinte” e os momentos que partilhou com Arnaut “quer no direito, quer fora do direito, até na literatura, acompanhando a sua obra”.

“Era de uma fidelidade, de uma lealdade, de uma persistência em relação aos amigos notável”, elogiou.

Numa nota entretanto divulgada no portal da Presidência da República, o chefe de Estado escreveu que “o nome de António Arnaut ficará para sempre inscrito na memória da democracia portuguesa como combatente pela liberdade, fundador e presidente do Partido Socialista e ‘pai do SNS'”.

O Presidente da República disse terem sido essas as razões pelas quais lhe atribuiu em 25 de abril de 2016 a grã-cruz da Ordem da Liberdade.

“O SNS muito deve, na sua gênese e no seu desenvolvimento, ao humanismo de António Arnaut, ao seu espírito de serviço à causa pública e à sua empenha atenção aos outros e à comunidade”, considerou.

Nesta mensagem, António Arnaut é recordado como “jurista prestigiado, homem de leis e de letras, cidadão de Coimbra e do mundo”.

Apresentando “sentidas condolências” à sua família, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou: “Deixa-nos um exemplo ímpar de republicanismo cívico e de patriotismo humanista, que os milhões de utentes do SNS – e, no fundo, todos os portugueses – jamais esquecerão”.

António Arnaut, advogado, nasceu na Cumeeira, Penela, no distrito de Coimbra, em 28 de janeiro de 1936, e estava internado nos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Presidente honorário do PS desde 2016, António Arnaut foi ministro dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano e foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade e com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Poeta e escritor, António Arnaut envolveu-se desde jovem na oposição ao Estado Novo e participou na comissão distrital de Coimbra da candidatura presidencial de Humberto Delgado.

Homenagem

O ex-candidato presidencial Manuel Alegre considerou que António Arnaut foi o socialista mais genuíno que conheceu, adiantando que a melhor homenagem que lhe pode ser feita é “salvar o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

“Estou muito abalado, era um dos meus maiores amigos de há muito tempo. António Arnaut é o socialista mais genuíno que conheci”, declarou o antigo conselheiro de Estado Manuel Alegre, dirigente “histórico” socialista.

Na sua mensagem, Manuel Alegre salientou que, enquanto ministro dos Assuntos Sociais do II Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, entre 1977 e 1978, o país “deve-lhe o SNS”. “A maior homenagem que se lhe pode fazer é cumprir o último apelo que António Arnaut fez: Salvar o SNS”, frisou.

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