Milhares de migrantes na peregrinação de agosto que começa em Fátima

Mundo Lusíada com Lusa

Milhares de migrantes começaram nesta sexta-feira a chegar ao Santuário de Fátima, na peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de agosto, considerada a peregrinação dos emigrantes, presidida pelo bispo de Fall River (Estados Unidos da América), Edgar Cunha.

As celebrações integram a peregrinação do migrante e do refugiado, no âmbito da 50.ª Semana Nacional de Migrações, que começou na segunda-feira e termina no domingo, sob o tema “Construir o futuro com migrantes e refugiados”. Este é o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinala em 25 de setembro.

A Semana Nacional de Migrações é uma iniciativa da Obra Católica Portuguesa de Migrações, organismo da Conferência Episcopal Portuguesa que em 2022 faz 60 anos.

A peregrinação começa nesta noite, às 21:30 com a recitação do terço, seguindo-se a procissão das velas e a celebração da palavra. No sábado, às 09:00, é recitado o terço, realizando-se, uma hora mais tarde, a missa, que inclui uma palavra dirigida aos doentes. As celebrações terminam com a procissão do adeus.

Na peregrinação, é retomada a vigília de oração animada pelos secretariados diocesanos de migrações, comunidades católicas da diáspora e capelania nacional ucraniana, informou o Santuário de Fátima.

A peregrinação inclui, ainda, no sábado, a tradicional oferta de trigo, ação que se repete pela 82.ª vez, iniciada por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica, de 17 paróquias da Diocese de Leiria, que em 1940 ofereceu 30 alqueires de trigo, destinados ao fabrico de hóstias para consumo no Santuário de Fátima.

“Desde aquele ano, os peregrinos, já não só de Leiria, mas também de outras dioceses do país, e até do estrangeiro, têm vindo a dar continuidade, ano após ano, a este ofertório”, referiu o santuário.

Segundo dados do templo mariano, no ano passado, “consumiram-se, nas celebrações, 569.960 partículas, 820 hóstias médias, 60 hóstias grandes e 45 partículas para celíacos”.

Para esta peregrinação, estavam inscritos, na quarta-feira, três grupos da Polônia, dois grupos de Portugal e outros dois da Alemanha e de Espanha, além de peregrinos da Áustria, Bélgica, França, Irlanda, Israel, Itália e Vietname, com um grupo cada.

O bispo de Fall River, no estado norte-americano de Massachussets, é natural de Nova Fátima, no estado brasileiro da Bahia, e foi o primeiro prelado dos Estados Unidos nascido no Brasil.

“Neste momento preside a uma das mais importantes e significativas comunidades portuguesas dos Estados Unidos, onde reside uma numerosa comunidade açoriana”, adiantou o Santuário de Fátima.

Edgar Moreira da Cunha, nascido em 1953, foi ordenado padre em 27 de março de 1982, na Igreja de São Miguel, em Newark, no estado norte-americano de New Jersey, onde também reside uma importante comunidade portuguesa, sobretudo do norte e centro de Portugal continental, acrescentou o santuário.

A GNR vai executar entre 13 e 15 de agosto, em Fátima, a operação “Migrante 2022”, para “garantir a segurança e a tranquilidade pública”, o controlo rodoviário e a prevenção criminal tanto no santuário como na área envolvente.

Segundo nota, a GNR irá implementar um dispositivo especial e intensificar ações de patrulhamento, para apoiar e garantir a segurança dos peregrinos.

Paz no mundo entre pedidos

“Paz para o mundo. É o pedido número um, sem dúvida alguma. É o que nós precisamos”, afirma André Fonseca, de 31 anos, do Porto, sentado numa escadaria do templo, onde pelas 12:00 ainda fazia sombra.

Referindo-se concretamente à Ucrânia, o jovem, que traz ao pescoço um terço e veste uma camiseta na qual se lê “fé, Fátima, Portugal”, manifesta desassossego perante uma guerra que “não vai parar”.

Gilberto Brito, de 49 anos, subscreve o pedido – “paz para o mundo, principalmente” -, acrescentando “saúde para a família” e o poder regressar de novo a Fátima no próximo ano.

Este angolano, que aos 18 anos deixou Luanda e imigrou para Portugal, é agora emigrante em França, país para onde a ‘troika’ o empurrou quando deixou de ter trabalho.

“Primeiro fui eu sozinho, depois a família. E todos os anos venho a Fátima, agradecer o ano em que trabalhei, em que tive saúde”, justifica a passagem como que obrigatória pela cidade-santuário durante as férias no primeiro país que o recebeu.

Admitindo um regresso a Portugal, onde residia na zona de Lisboa, Gilberto Brito refere que em França, onde trabalha na construção civil, o idioma foi uma dificuldade e, quanto à eventualidade de ser vítima de racismo, é perentório: “Uma pessoa sente lá como cá, nas atitudes”.

Ex-emigrante no Canadá, António Marques, de Condeixa-a-Nova, distrito de Coimbra, faz igual apelo de “paz para o mundo”, temendo que não cessem as consequências na economia, o mesmo é dizer no bolso dos cidadãos, perante o “custo de vida que é o dobro”.

O peregrino, que se encontrava nas imediações do santuário, repete em agosto o que fazia quando Toronto era a sua morada: “Sempre que vinha a Portugal, vinha a Fátima. Quando chegamos a esta zona, parece que nos sentimos mais alegres”.

A tradição ou o hábito repete-se também para o francês David Clément, de 40 anos, cuja família é originária de Pombal (Leiria). “Estou em Fátima pela história da minha família”, explica o peregrino, relatando a promessa cumprida pela avó relacionada com a saúde do pai de David, que “melhorou”.

É para cumprir uma promessa que Marília Sousa, 55 anos, de Arouca (Aveiro), e emigrante há 10 anos em França, se deslocou a Fátima, juntamente com marido, filho, nora e neto. “Por promessa e porque gosto de vir aqui ao pé de Nossa Senhora”, relata, elencando os pedidos que quer deixar: “Muita saúde, muita paz”.

A nora, de 28 anos, acrescenta: “E inteligência para aquele que está a fazer a guerra”, numa alusão ao Presidente da Rússia.

Questionada sobre a divulgação, nas últimas semanas, de notícias de alegados abusos sexuais cometidos por sacerdotes, assim como do suposto encobrimento por parte de elementos da hierarquia da Igreja Católica, Marília Sousa diz-se triste.

“A minha avó, que morreu aos 97 anos, dizia que ‘para o fim do mundo iam aparecer coisas que nunca se viram’”, refere, ao mesmo tempo que desabafa “as crianças a sofrer…”.

André Fonseca acrescenta preocupação com estes acontecimentos, pedindo uma clarificação, “para que ficasse tudo em pratos limpos”.

As celebrações, que terminam no sábado, integram a peregrinação do migrante e do refugiado, no âmbito da 50.ª Semana Nacional de Migrações, sob o tema “Construir o futuro com migrantes e refugiados”.

A Semana Nacional de Migrações é uma iniciativa da Obra Católica Portuguesa de Migrações, organismo da Conferência Episcopal Portuguesa que em 2022 faz 60 anos.

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