Belmonte dos Cabrais: um caminhar por lugares históricos e turísticos

Por Jean Carlos Vieira Santos

Ao visitar Belmonte, em Portugal, é possível compreender que, historicamente, os familiares de Pedro Álvares Cabral, os “Cabrais”, foram grandes proprietários e a mais importante família desse destino turístico. Tais impressões deixam dúvidas e conhecimentos acerca de um edifício em que o Brasil também está presente.

Era preciso perpassar essa geografia. Assim, a visita teve o Largo Dr. António José de Almeida como ponto de partida, lugar que acende o imaginário do visitante e onde se encontram algumas residências, a pastelaria monumental, a escrita rebuscada de Pero Vaz de Caminha em uma rocha e, principalmente, a estátua de Pedro Álvares Cabral. Nesse sítio, provei o inigualável pastel de nata, tirei algumas fotos e, depois de um tempo em reflexão inconclusa, continuei pela rua homônima ao viajante representado artisticamente no Rossio.

Minha intromissão, associada ao desejo de “turistar” por essa paisagem, me fez chegar ao Museu dos Descobrimentos. Para mim, esse centro de interpretação também poderia ser chamado de “Museu das Grandes Viagens que ocorreram há mais de 500 anos”. Tal espaço comunicativo me levou a entendê-lo como lugar para celebrar a viagem, sua história e grandes figuras, com a exatidão de que a travessia do Atlântico nunca foi uma aposta.

Belmonte. Foto Jean Santos

Entre as experiências vividas no laboratório turístico Belmonte, é impossível não associar meu olhar ao edifício da Biblioteca Municipal, ao lado do Museu dos Descobrimentos, com uma arquitetura singular e enriquecedora para quem observa a paisagem. Diante desses lugares merecedores de atenção no destino, é oportuno também destacar os Museus do Azeite e Judaico, onde pude romper com as expectativas sobre essa paragem lusitana repleta de significados. Tenho certeza de que a escolha por essas visitas foi assertiva e que o consumo turístico do território não se resume ao legado deixado pelos Cabrais, ato que me fez mais interessado pela cultura judaica e a dos olivais.

Outros atrativos a serem citados dizem respeito ao Castelo da Cidade e à Igreja de Santiago – inclusive, o Panteão dos Cabrais se encontra adossado ao monumento religioso. Nesse momento, o percurso se transforma em meditação, e o turista, um mero aprendiz da história do lugar, cujo percorrer não se desprende do acadêmico. Aponto que o Castelo, com as bandeiras da União Europeia, de Portugal e do Brasil a tremularem, se sobressai entre as rochas da sua base e o céu da Beira Baixa.

Evidentemente, essa viagem me fez sentir mais culto e levou os olhares além dos muros do Castelo, ao permitir a rápida e cuidadosa leitura empírica em relação aos sujeitos do lugar e ao seu modo de vida. Tais aspectos se associam a ruas, muros, residências de pedras, geologia e geomorfologia, produtos geoturísticos do destino percebidos apenas por aqueles que respeitam as formas resistentes, nas quais os séculos não conseguem apagar a presença no território. Considero, pois, que as pedras também são componentes da cultura local e foram moldadas pela existência secular do homem na região.

Assim, o dia havia se passado e compreendi que o destino belmontense se sustenta por aprendizagem, impressão e sentimento. A arte de viajar não tem em si apenas o valor da liberdade ou o rompimento com os limites daquilo que pensamos ser cotidiano. Portanto, Belmonte nos convida a uma conversa com a história e sua geografia, ao oferecer sapiência e cenários incomparáveis e de beleza incontornável para quem a visita de fato.

 

Por Jean Carlos Vieira Santos

Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutorado em Turismo pela Universidade do Algarve (UALg/Portugal) e Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).

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