Grupo de brasileiras expõe centenas de relatos de assédio e xenofobia em Portugal

Por Carolina de Ré
Agência Lusa

‘Brasileiras não se calam’ é um movimento criado nas redes sociais há cerca de um mês por mulheres nascidas no Brasil para denunciar e dar apoio a mulheres que vivem e são vítimas de assédio, violência e xenofobia em Portugal.

Com mais de uma centena de histórias já publicadas no Instagram, onde a página do grupo supera 12 mil seguidores, e também no Facebook, o projeto foi idealizado por cinco brasileiras que moram no Porto.

A Lusa falou com uma delas, que será identificada apenas como Maria. A jovem, de 23 anos, pediu anonimato porque o movimento tem sido alvo de ofensas.

“Mandaram-nos mensagens dizendo coisas como ‘volta para a sua terra’, por isso, queremos preservar a nossa identidade. Estou em Portugal há 5 anos, vim estudar. Somos cinco mulheres e decidimos criar o grupo porque não tenho nenhuma amiga, nenhuma conhecida brasileira que não foi vítima. Todas têm estas histórias para contar”, disse Maria.

A porta-voz do ‘Brasileiras não se calam’ contou que o projeto começou depois de uma participante do Big Brother Portugal ter feito um comentário preconceituoso sobre as mulheres brasileiras.

“Ela falou que as brasileiras já têm a perna aberta. Eu fiquei muito chocada porque isto foi dito num programa de televisão. Causou uma grande polémica, isto foi muito noticiado. É uma coisa que sabemos que acontece, mas nos revoltou porque pareceu que era algo que estava a ser normalizado”, afirmou.

Maria acrescentou que este foi o mote, mas que já estava cansada de ser alvo de assédio de homens em Portugal que, sabendo da sua nacionalidade, por exemplo tocavam no seu corpo sem permissão. A brasileira disse que vive estas situações de constrangimento e assédio mesmo quando está apenas a andar na rua ou em transporte público.

“Pelo meu corpo, pelo meu cabelo, pela cor da minha pele, pelo meu jeito de me expressar, de sorrir, de ser educada e até por dar bom dia. Já sofri muitas formas de assédio (…) Já chegaram a perseguir-me na rua, estava com um grupo de amigas, alguns portugueses ouviram o nosso sotaque e começaram a andar atrás da gente e a dizer coisas ofensivas”, afirmou.

Os relatos publicados nas páginas “Brasileiras não se calam” do Facebook e do Instagram são anônimos para preservar a segurança das vítimas.

Maria disse que a maioria dos casos se referem a histórias ocorridas em Portugal, onde estas situações são mais frequentes e mais graves, embora existam também relatos de situações de assédio, xenofobia e violência vividas por brasileiras na Alemanha, Suíça, Espanha, Estados Unidos, Austrália e outros locais.

“Trabalhava num restaurante e o gerente só me chamava de bonita e sempre fazia piadas de duplo sentido sobre brasileiras. Os outros funcionários homens também me assediavam. Cheguei ao ponto de ficar na cozinha sozinha, tive uma crise de ansiedade e pedi a demissão 15 dias depois”, diz uma das mulheres, num relato publicado no Instagram do grupo.

“Faço mestrado e quando fui apresentar um trabalho a professora disse: Vejamos o que sai desta. Os brasileiros são preguiçosos! Tirei 19″, relatou outra brasileira, que estuda em Portugal.

“Estava na escola e dois colegas levaram-me para dentro de uma sala, seguraram-me e passaram as mãos pelo meu corpo. Eu debati-me e consegui sair, mas nunca esqueci a sensação de que para eles eu não poderia ser uma colega de sala, eu já era a ‘zuca’, a p**a. Eu tinha 12 anos, sabe”, relatou outra vítima nas redes sociais do grupo.

Questionada pela Lusa sobre os objetivos do grupo, Maria explicou que é dar apoio e inclusive farão reuniões online com outras brasileiras vítimas. Embora as páginas nas redes sociais sejam recentes, o projeto já se expandiu e sete advogadas prontificaram-se a ajudar as mulheres que contam as suas histórias às administradoras do grupo, responsáveis por publicar os relatos.

“Criamos o grupo para que estas mulheres possam ter voz. Depois apareceram outras mulheres que se voluntariaram para nos ajudar de alguma forma (…) Sete advogadas ofereceram-se para fazer trabalho voluntário e nos prestar uma ajuda. Percebemos que falta às mulheres que são vítimas destes crimes informações sobre como denunciar. A ideia é que as advogadas façam este trabalho informativo”, contou Maria.

“Já surgiu um caso de uma senhora que precisou de ajuda. Ela entrou com um processo, uma causa, e elas [advogadas] estão a ajudá-la de forma pro bono [gratuitamente]”, disse a porta-voz do ‘Brasileiras não se calam’.

Questionada sobre se sabe o motivo deste tipo de tratamento, Maria disse não ser capaz de o explicar totalmente, mas contou que muitos portugueses justificam este comportamento dizendo que no passado muitas brasileiras foram para o país para se prostituírem ou conseguirem um passaporte europeu através do casamento.

“Eu não tenho como dizer o porquê. O que aparece na página, as brasileiras sempre citam esta questão do passaporte e da prostituição (…) Não são todos os portugueses que nos tratam assim. Há algumas pessoas aqui que acham estas coisas um absurdo e nos apoiam, mas há muita gente que considera um exagero quando reclamamos e dizem que isto [a discriminação, caos de assédio] não acontece ou alegam que nós, brasileiras, somos muito sensíveis”, concluiu.

1 Comment

  1. Na minha modesta opinião, esta mini manifestação é ridícula pelos seguintes motivos:
    1 – Os senhorios são livres de arrendar casas a quem quiserem num país livre e democrático. É conhecido por muitos, que em Portugal já houve casas arrendadas a cidadãos brasileiros(as) e que: destruíram/causaram danos nos imóveis, saíram sem pagar as últimas mensalidades, fizeram subarrendamento ilegal a conterrâneos ou faziam dos apartamentos recepção para prazer nocturno. Portanto, se agora há brasileiras inocentes a pagar pelo sucedido, tenham vergonha na cara e não exijam petulantemente na terra dos outros! Reclamem com os vossos conterrâneos anteriores, brasileiros(as) que cá estiveram antes a fazer porcaria e deram uma péssima imagem de vós.
    2 – A ideia que se tem da mulher como objecto sexual, não é só um problema das brasileiras e muito menos um problema só de Portugal. Mas volto ao argumento do ponto um: durante muitos anos chegavam a Portugal e outros países da Europa só para a prostituição e agora querem o quê?! Reclamem com as vossas conterrâneas brasileiras que passam má imagem de vós! Fui emigrante na Suíça e na prostituição só se viam brasileiras, tailandesas e de países africanos… Sendo um problema transversal no mundo, que tal fazerem manifestações para começar, no Brasil, vosso país?! Aí sim, poderão exigir mais um pouco! Falem com o Lula ou o Bolsonaro… Agora, virem a achar que são especiais aqui, não! Vocês não vêem as portuguesas em manifestações ridículas dessas. Não têm tempo, estão a trabalhar sabem? Nem vêm portugueses a exigir o que quer que seja na terra dos outros quando emigram. Não há portugueses(as) à manifestarem-se no Brasil e o nível de falta de direitos e segurança por lá é ridiculamente mais grave que na Europa!
    3 – Se vêm para trabalhar tranquilamente ok. Agora, mentalizem-se que aqui não são especiais, nem mais que as portuguesas, angolanas, cabo-verdianas, ucranianas, etc… Se não estão satisfeitas e se querem mais direitos que teriam no Brasil, têm bom remédio, imigrem para outro país qualquer ou voltem ao Brasil e não percam tempo a tentar chamar atenção com manifestações idiotas, comparando com coisas e situações graves de guerra e fome pelo mundo. Tenham alguma vergonha na cara, humildade e dignidade para não exigirem o que não têm nem no vosso país. Reclamem com os vossos brasileiros que fizeram aqui porcaria ao invés de quererem direitos dos portugueses que não têm nenhuma obrigação de vos dar! Sou portuguesa e as minhas 2 filhas têm dupla nacionalidade porque o meu marido também a tem; nasceu no Brasil e está emigrado em Portugal faz 22 anos (mais portuga que brasuca) e todos nós tivemos vergonha dessa vossa manifestação petulante e orgulhosa, de achar que têm direitos a mais que os outros… Ridículo! Tenham vergonha e vão trabalhar, pois se vêm para Portugal para manifestações, vão passar fome!
    E a situação descrita no SEF, ainda nem foi provada…

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