No Prêmio Camões, escritor Raduan Nassar critica Governo de Temer e diz que “nada é tão azul no Brasil”

Da Redação
Com Lusa

logo_Brasil-Portugal-bandeiraO escritor brasileiro Raduan Nassar, que recebeu dia 17 o Prêmio Camões de 2016 no Museu Lasar Segall, em São Paulo, mas aproveitou o momento para fazer duras críticas ao Governo do Brasil.

Após agradecer ao Governo de Portugal pelo prêmio e relembrar uma visita que fez ao país em 1976, Raduan Nassar afirmou: “Infelizmente nada é tão azul no nosso Brasil. Vivemos tempos sombrios, muito sombrios”. As palavras foram recebidas com um coro de aplausos, que acompanhou o escritor enquanto ele lia um discurso de duas páginas no qual classificou o presidente brasileiro, Michel Temer, de “golpista”.

Raduan Nassar, que apoia publicamente o Partido dos Trabalhadores (PT) e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, mencionou como exemplo destes “tempos sombrios” a indicação do ministro da Justiça Alexandre de Moraes ao cargo de juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) e a nomeação de políticos investigados em casos de corrupção para cargos de alto escalão.

Em tom crítico, Nassar encerrou lembrando o papel de políticos investigados nos esquemas de corrupção da Petrobras no processo de destituição de Dilma Rousseff, concluindo com a frase: “O golpe estava consumado, não há como ficar calado”.

Contraponto
Invertendo o protocolo oficial da entrega do Prêmio Camões, o ministro da Cultura do Brasil, Roberto Freire, falou depois de Raduan Nassar e aproveitou o momento para responder ao escritor, levando a um bate-boca com pessoas que acompanhavam o evento.

O ministro brasileiro foi vaiado algumas vezes e, para contradizer a tese de que o Brasil sofreu um “golpe”, disse que o atual governo é tão democrático que estava premiando a um adversário. “Quem dá prêmio para adversário político não é a ditadura, a ditadura não reconhece [seus adversários políticos]. Este prêmio não está dando apenas o reconhecimento, mas um algo concreto, real, que é dado pelo Governo democrático brasileiro” rebateu Roberto Freire.

Em representação de Portugal estavam na cerimônia o embaixador no Brasil, Jorge Cabral, e o cônsul-geral de Portugal em São Paulo, Paulo Lopes Lourenço.

Raduan Nassar nasceu em Pindorama, no estado de São Paulo, em 1935, descendente de uma família libanesa, estudou Direito e Letras na Universidade de São Paulo, onde acabou por concluir a formação académica em Filosofia.

A sua obra é curta, mas as edições e traduções, especialmente de “Lavoura Arcaica” e “Um Copo de Cólera”, não param de crescer. O autor fez parte, no ano passado, da lista inicial do Man Booker International Prize, com a tradução inglesa de “Um Copo de Cólera”.

Em Portugal, Raduan Nassar foi publicado apenas em 1998, quase 20 anos após a edição original de “Um copo de cólera”, quando a obra surgiu no catálogo da Relógio d’Água. Seguir-se-ia, na mesma editora, um ano depois, “Lavoura Arcaica”, o romance de estreia do escritor (1975), com um estudo da professora Sabrina Sedlmayer.

Em 2000, a coletânea de contos “Menina a caminho” foi publicada pela editora Livros Cotovia, que, em 2003, recuperaria o escritor para a antologia “Fotografia de grupo”, de vários autores.

A obra completa de Raduan Nassar, porém, só ficou disponível em Portugal este mês, com a publicação, pela Companhia das Letras, de uma edição alargada de “Menina a Caminho”, com três contos inéditos do escritor brasileiro entretanto descobertos.

Com o valor de 100 mil euros, repartidos igualmente por Portugal e Brasil, o Prêmio Camões é a mais importante distinção literária dos países de língua portuguesa, e celebrou no ano passado a 28.ª edição.

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