Setor de turismo preocupado com a Dengue

Do Jornal Mundo Lusíada

Marcello Casal JR/ABr

CIDADE MARAVILHOSA >> O ambulante Roberto Galdino vende pelas ruas do centro da cidade a raquete elétrica, usada no combate ao mosquito da dengue

Um surto de dengue no Rio de Janeiro preocupa o governo e a população em geral. Depois de mais de 70 casos seguidos de morte, o governo brasileiro anunciou uma série de medidas para combater o mosquito da dengue, nos próximos três meses.

E não foi somente uma preocupação local. Outras medidas foram tomadas, por exemplo, pela companhia aérea portuguesa TAP, que decidiu reforçar a desinfestação em vôos do Rio, assegurando que “em situação alguma, haverá transporte de mosquitos” nos seus aparelhos. Esta desinfestação já é rotina em todos os vôos da companhia com origem na África, é “regular” nas ligações do Nordeste brasileiro e “ocasional” nas ligações com a Venezuela.

Já foram divulgados dois casos de portugueses, que visitaram o Brasil em março, infectados pela dengue. De acordo com a Direção Geral da Saúde (DGS), trata-se de um homem e uma mulher. Apesar de excluir um risco para a saúde pública em Portugal, as autoridades sanitárias já haviam advertido os médicos, antes do feriado de Páscoa, já que o Brasil é o destino preferido pelos portugueses no período. Segundo informações do O Globo, mais oito suspeitas de dengue, em portugueses que estiveram no Rio de Janeiro neste ano, estão sendo investigadas.

E o turismo já sofre seus efeitos diante da epidemia, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis seção Rio de Janeiro (AbihRJ), Alfredo Lopes de Souza Júnior. “A Barra da Tijuca já sofreu bastante pela proximidade com Jacarepaguá, que é um dos focos”. Os hotéis, segundo ele, têm recebido telefonemas de agências e turistas indagando se estão próximos de áreas infestadas. “O turismo de lazer foi afetado, mas não o de negócios – a pessoa que vem a trabalho procura ficar longe das maiores concentrações de focos do mosquito transmissor”, acrescentou. E indicou que é preciso identificar aos operadores de turismo onde estão os focos, para esclarecer dúvidas “quanto à localização, se Copacabana fica perto de Jacarepaguá, por exemplo, e que sejam noticiadas todas as medidas adotadas para debelar a crise”.

Alfredo Lopes destacou as ações conjuntas das três instâncias de governo, afirmando que agora “assumiram a crise, porque antes o mosquito não era municipal, nem estadual, nem federal – era do carioca”.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, decretou situação de emergência nas áreas afetadas no estado. O decreto autoriza os agentes da Defesa Civil e os funcionários designados para o combate à doença a entrar em residências “a qualquer hora do dia ou da noite, mesmo sem o consentimento do morador”. A medida tem vigência por 90 dias, podendo ser prorrogada por 180 dias, e o decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro em 25 de março.

De acordo com o Ministério brasileiro da Saúde, são 1.700 militares ajudando no combate à dengue no Rio de Janeiro. Em nota divulgada à imprensa, o ministério afirmou que 1.200 homens das forças armadas vão trabalhar nos três hospitais de campanha, que terão 130 pontos de hidratação para doentes. A previsão é que os outros 500 militares atuem, em conjunto com os bombeiros do estado, na busca e eliminação de focos do mosquito na capital fluminense.

E o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, admitiu falhas na prevenção. “O combate à dengue é uma tarefa da sociedade. É evidente que, se a situação chegou onde está, alguma coisa no processo de controle falhou. Vamos ter que sentar e refletir onde aconteceram essas falhas”, disse o ministro. Segundo Temporão, o governo federal vai “trabalhar duro” para que no próximo ano não se repita o que está ocorrendo. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, já houve mortes este ano registradas em Duque de Caxias, município com o segundo maior número de mortes, além de Miguel Pereira, Campos dos Goytacazes, São João de Meriti, Paracambi, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Angra dos Reis e Belford Roxo.

Em São PauloJá no estado vizinho, o número de casos de dengue registrados em São Paulo caiu 98% neste ano, comparado com o ano passado. De acordo a Secretaria Estadual de Saúde, até dia 26 de março, 917 ocorrências haviam sido detectadas. Campanhas de combate ao mosquito Aedes aegypti, promovidas principalmente entre agosto e outubro de 2007 – época de “entressafra” da procriação – resultaram na redução dos números, segundo a secretaria. Apesar de sob controle, a dengue continua sendo monitorada com atenção no estado de São Paulo.

Já a hipótese de uma epidemia em Portugal está descartada, afirma o epidemologista Pedro Simas, coordenador da Unidade de Patogenia Viral do Instituto Gulbenkian de Ciência. Em entrevista ao luso Diário de Notícias, confirma que o inseto transmissor da doença não encontra condições ideais para proliferar no país. "A dengue é um problema endémico de determinadas zonas onde a miséria impera, onde não há esgotos e onde tem de existir um clima propício. É por isso que a doença se limita ao estado do Rio de Janeiro, principalmente às favelas, e não se expande para outros estados brasileiros", assegura.

De acordo com Simas, nem mesmo no arquipélago da Madeira, onde existe o mosquito transmissor da dengue, existe o risco de epidemia. "O que não implica que as autoridades não estejam a fazer bem em encaminhar possíveis turistas contagiados para os hospitais, da mesma forma que a TAP também fez bem em desinfestar os seus aviões". Em Portugal, todos os anos são registrados uma média de 15 diagnósticos da doença, mas sem registros de mortes.

A Embaixada e os Consulados de Portugal no Brasil têm divulgado as recomendações que o Ministério da Saúde do Brasil difundiu. Em Portugal, os viajantes que desembarcam nos aeroportos da Portela (Lisboa) ou Francisco Sá Carneiro (Porto), com sintomas que possam indiciar uma infecção de dengue, as autoridades aeroportuárias aconselham voluntariamente uma consulta nos hospitais Santa Maria ou São João. Com Agencias

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