Reino Unido exclui Portugal continental da lista de países considerados seguros

Da Redação
Com Lusa

O Ministério dos Transportes britânico excluiu Portugal dos “corredores de viagem internacionais” com destinos turísticos que o Reino Unido vai abrir para permitir aos britânicos passarem férias sem cumprir quarentena no regresso.

Nesta sexta-feira, o ministro português dos Negócios Estrangeiros considerou que a decisão do Reino Unido de excluir Portugal dos “corredores de viagem internacionais” como um “absurdo”, “errada” e que causa “muito desapontamento”, trazendo ainda graves consequências econômicas e de confiança recíproca.

Em declarações à Lusa, Augusto Santos Silva garantiu que as autoridades portuguesas não irão tomar qualquer atitude de reciprocidade em relação aos britânicos que residem em Portugal, mais de 35 mil, disse, e que espera que o Reino Unido “corrija uma decisão errada rapidamente”.

O Reino Unido deixou de desaconselhar as viagens para a Madeira e Açores, juntamente com uma série de outros países, mas continua a advertir contra as visitas a Portugal continental.

“Estes países foram avaliados como não apresentando mais um risco inaceitavelmente alto para os britânicos que viajam para o estrangeiro”, refere o comunicado do Ministério, aludindo que os critérios incluem considerações sobre a saúde pública.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico mantinha desde meados de março um conselho contra “todas as viagens não essenciais em todo o mundo” devido à crise causada pelo novo coronavírus, embora continuem a circular aviões entre Portugal e o Reino Unido com serviços reduzidos.

Porém, nesta sexta-feira alterou este conselho para 33 países europeus, como Espanha, Alemanha, Bélgica ou Turquia, vários territórios ultramarinos britânicos e outros países como Austrália, Japão, Nova Zelândia ou Coreia do Sul.

A partir de 04 de julho, o conselho do Ministério contra todas as viagens internacionais não essenciais deixa de se aplicar à Madeira e Açores tendo em conta a avaliação atual dos riscos de infecção com o coronavírus.

Na Área Metropolitana de Lisboa têm surgido novos casos, principalmente nos concelhos de Sintra, Amadora, Loures, Odivelas e Lisboa, o que levou o Governo português a aplicar medidas específicas, sobretudo para 19 freguesias, onde continua a vigorar o estado de calamidade, enquanto a maior parte do território nacional passou a estado de alerta.

O conselho de viagem ao estrangeiro do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico é importante para efeitos de cobertura de seguro de viagem.

Esta lista coincide com a publicação de uma outra lista de 59 países e territórios isentos de cumprir quarentena na chegada ao Reino Unido emitida pelo ministério dos Transportes, da qual Portugal foi excluído, incluindo Açores e Madeira.

O sistema de “corredores de viagem” vai entrar em vigor na próxima sexta-feira 10 de julho e permite evitar que quem chegue destes países tenha de ficar 14 dias em isolamento, como acontece atualmente a todas as pessoas que chegam do estrangeiro, ou arriscam uma multa de mil libras (1.100 euros).

“Esta lista poderá ser aumentada nos próximos dias, após discussões adicionais entre o Reino Unido e parceiros internacionais”, refere a página na Internet do Ministério dos Transportes britânico.

Mesmo assim, todas as pessoas que chegam ao Reino Unido têm de preencher um formulário com os contatos pessoais e informações sobre o local onde vão ficar alojadas.

A lista de países foi elaborada após uma “avaliação de risco” pelo Centro de Biossegurança Comum [Joint Biosecurity Center], em conjunto com a direção geral da saúde de Inglaterra [Pubic Health England] e teve em conta fatores como a prevalência de coronavírus, o número de novos casos e a trajetória potencial da doença.

O anúncio aplica-se apenas a Inglaterra porque a Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte têm autonomia sobre matéria de saúde e cabe aos respectivos governos determinar as medidas que pretendem introduzir.

Falar a Verdade

O presidente do Turismo do Algarve considerou que Portugal foi “penalizado por falar a verdade” relativamente aos novos casos de covid-19, um dos critérios que levou à exclusão do país da lista do Reino Unido.

“Fomos penalizados, claramente, por falarmos verdade. Quando comparamos o número de testes por 100 mil habitantes dos diferentes países percebemos que há países que foram privilegiados nesta nova condição que testam três, quatro vezes menos do que Portugal”, afirmou João Fernandes.

O Reino Unido é o principal mercado emissor de turistas para Portugal, tendo representado 19,2% das dormidas de estrangeiros em 2019 e vindo a registar sucessivos crescimentos desde 2013, apenas interrompidos em 2018, de acordo com dados do INE.

Os destinos preferenciais dos hóspedes britânicos foram o Algarve (63,4% das dormidas do mercado), a Madeira (18,5%) e a Área Metropolitana de Lisboa (10,8%).

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 517 mil mortos e infetou mais de 10,76 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

O Reino Unido registou até quinta-feira 43,995 mortes (em 283.757 casos de infeção) durante a pandemia covid-19, o maior número na Europa e o terceiro maior no mundo, atrás dos EUA e Brasil.

Portugal contabiliza pelo menos 1.587 mortos associados à covid-19 em 42.782 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

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