MENS SANA, CORPORE SANA

Considerado o primeiro hotel-spa holístico do País, o Ponto de Luz propõe ao hóspede um descanso triplo – corpo, mente e espírito – e é procurado até por empresas.Fernando Porto e Leila Fernanda Melo Porto de Notícias

 

Junto com Shiva e Brahma, Vishnu forma trindade divina hindu e é responsável pela manutenção do universo. Em um pequeno templo meditativo, situado em uma área rural do interior de São Paulo, a deidade está lá representada por uma estátua com múltiplas cabeças e braços, auxiliando os adeptos a encontrarem a Verdade por trás da ilusão terrena e a eliminarem os maus sentimentos que impedem o crescimento espiritual.

Fernando Porto/APN

O templo, uma varanda descoberta nas laterais, não recebe apenas monges budistas e iogues tradicionais. Não é difícil encontrar no local visitantes em roupas de jogging, com aparências bem características de esgotados seres urbanos, tipicamente contaminados pelo ambiente estressante das grandes empresas, do capitalismo selvagem. Esses executivos trocam o terno e os compromissos "inadiáveis" de suas agendas por dias de convívio entre os colegas, com horas ininterruptas de meditação em postura de lótus, sob a orientação de um guia iogue. E testemunhados apenas pelos múltiplos olhos quase-vivos das cabeças de Vishnu. 

O cenário descrito faz parte da rotina do Hotel Ponto de Luz, considerado um dos pioneiros no Brasil na categoria "spa holístico", com a premissa de garantir não apenas o descanso do corpo, mas sim o tripé completo da filosofia holística, aliada à mente e ao espírito. Seu sucesso como refúgio anti-stress autêntico se moldou a partir da descoberta do local estrategicamente ideal, a 1.200 metros de altitude, cercado pela natureza selvagem da Serra da Mantiqueira. Ao conhecer o belo lugar na década de 90, a terapeuta holística Libertad – hoje com o nome adotado pela filosofia hindu de Ma Dhyan Bhavya – resolveu se unir ao também terapeuta Sérgio Savian para erguer um pequeno mosteiro para meditação, baseado na mesma linha rústica dos monges budistas. 

Com a decisão do sócio de seguir caminho independente logo no início, Bhavya prosseguiu com o objetivo de criar seu próprio "shangri-lá". O número de grupos interessados na vivência mística cresceu com o passar dos meses até que a terapeuta resolveu consolidá-lo como hotel-spa. Hoje, o estabelecimento recebe desde grupos organizados de empresas, interessados em vivências motivacionais, até grupos de casais para aprendizado do tantra ioga (a filosofia hindu de se atingir a evolução espiritual pelo sexo). Tudo – como nossa reportagem constatou – sem fanatismos ou imposições de crenças. Um ótimo sinal. 

A credibilidade do Ponto de Luz aumentou principalmente quando o mestre hindu Devipuri Maharaj Dundee Baba, o Babaji, visitou o local por dez dias no ano de 1999. A marcenaria, improvisada para que Babaji recebesse os adeptos, acabou se transformando posteriormente no templo em sua homenagem. A goiana Jorene Ferro, gerente do hotel desde 1994, e mais conhecida como Jô, conta que a estátua de Vishnu foi enviada de presente pelo próprio Babaji, da Índia. 

Hóspedes de várias cidades e Estados chegam todas as semanas em busca de paz e vida saudável. De início, uma boa notícia: o local não pega sinal de celular! Os quartos, com parede de tijolo à vista, oferecem simplicidade mas sem abrir mão do conforto de uma boa cama e chuveiro quente. Uma sacada com rede, em cada apartamento, garante ao visitante o olhar interminável para a mata deslumbrante. Outro deleite é poder dormir com o barulho da cachoeira, que fica bem próxima aos quartos. Para os viciados em tevê, um aviso: há um único aparelho, que fica em uma sala coletiva para não incomodar o sono dos hóspedes. No corredor em formato de meia-lua, que leva aos quartos (18 ao todo), recipientes com essências de alecrim – e outras plantas de boas "vibrações energéticas" – ficam queimando dia e noite para manter o bom astral da turma. A capacidade máxima do hotel-spa é para 45 pessoas – o que garante um ambiente mais silencioso e propício. 

As refeições, em sistema bufê, acompanham a filosofia do equilíbrio e bem estar, oferecendo variações da culinária vegetariana (todas verduras orgânicas da região) e doces da fazenda. Para os carnívoros inveterados, há sempre uma opção de carne branca (frango ou peixe). Ou seja, nada radical. Da mesma forma, os hóspedes não são obrigados a fazer as vivências coletivas. Um sino dá o aviso para o início de cada atividade. Quem não quiser, não faz – nada de monitores gritando. Há pelo menos duas vivências coletivas por dia, com práticas holísticas variadas – desde a conhecida ioga até as mais ocidentais, como a psico-dança.Fernando Porto/APN

As caminhadas ao ar livre são bem leves e tem mais uma proposta de contato com a natureza do que forçar o corpo. Contemplam-se nascentes, cachoeiras e a bela paisagem típica da comunidade rural. Na infra-estrutura de lazer, o Ponto de Luz conta com uma piscina ao ar livre e uma quadra de vôlei. Há também uma piscina coberta aquecida para a prática terapêutica de watsu (uma massagem aquática anti-stress) mas que é liberada para uso geral nos horários vagos. 

As terapias corporais – pagas à parte ou em pacotes semanais – são todas originárias das medicinas oriental e naturalista, assim como a aromaterapia e a fitoterapia. Além do já citado watsu, o hotel-spa dispõe de acupuntura, integração craniossacral, aplicação de pedras quentes, cromopuntura (método suíço de aplicação de luz e cor), e banhos terapêuticos – ofurô, de ervas, rosas ou escalda-pés. Para quem necessita de uma erva específica para tratamento de saúde, o Ponto de Luz conta com seu próprio herbário orgânico. Outras atividades são os cursos de culinária vegetariana e a Oficina de Pães – que propõe uma experiência sensorial relaxante e produtiva. Já as vivências no templo são para grupos fechados de empresas ou para inscrições individuais e chegam a custar R$ 715 por pessoa, em um fim de semana. "Esse programa se chama Ser Em Evidência e é muito usado por empresas para treinamento de lideranças e integração de grupos. É um workshop de meditação intensiva sob nossa orientação", explica Jô. 

Há também palestrantes convidados para abordar outras ciências holísticas, como a quirologia védica, iridologia, astrologia, entre outras. Em um dos fins de semana, por exemplo, a quiróloga Conceição Trucom deu palestra sobre seu trabalho. Os hóspedes podem inclusive agendar consultas no local (pagas à parte, cerca de R$ 100 em média, por pessoa). Jô define o Ponto de Luz como uma casa ecumênica, onde é possível conviver harmonicamente monges zen-budistas, xamãs e até psiquiatras. Tudo em nome do equilíbrio corpo-mente-espírito de cada visitante. São poucos, mas inesquecíveis os dias nos quais o ser urbano pode "calar" sua mente, esquecer os problemas e buscar força interior para superar os obstáculos da vida. Pensando bem, não é pouco para quem vive na paranóia eterna de uma metrópole.

 

As refeições, em sistema bufê, acompanham a filosofia do equilíbrio e bem estar, oferecendo variações da culinária vegetariana (todas verduras orgânicas da região) e doces da fazenda. Para os carnívoros inveterados, há sempre uma opção de carne branca (frango ou peixe). Ou seja, nada radical. Da mesma forma, os hóspedes não são obrigados a fazer as vivências coletivas. Um sino dá o aviso para o início de cada atividade. Quem não quiser, não faz – nada de monitores gritando. Há pelo menos duas vivências coletivas por dia, com práticas holísticas variadas – desde a conhecida ioga até as mais ocidentais, como a psico-dança.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: