Eixo Atlântico descarta novo fecho de fronteiras entre Portugal e Espanha

Mundo Lusíada
Com Lusa

O secretário-geral do Eixo Atlântico, Xoan Mão, considerou nesta quinta-feira não existirem motivos que justifiquem um novo encerramento de fronteiras entre Portugal e Espanha, defendendo antes um reforço das medidas preventivas da doença de covid-19.

“Não vejo que a situação atual da pandemia de covid-19 nos dois países justifique o encerramento de fronteiras. Há um aumento do número de casos de infeção nos dois países, mas não está a pôr em risco os hospitais, nem as Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Por outro lado, também não está a registar-se um aumento do número de mortes como aconteceu durante o período de confinamento, quando foram repostas as fronteiras”, afirmou o responsável.

A propósito de uma eventual nova limitação à mobilidade entre os dois países, no âmbito da avaliação à evolução da covid-19 que os governos dos dois países vão fazer nos próximos dias, o secretário-geral da associação transfronteiriça explicou que a evolução da doença na Galiza “está a ser vivida com normalidade” e adiantou “não estar em cima da mesa novo confinamento”.

“Tanto quanto sei, em Portugal esse cenário também não está em cima da mesa. A subida do número de casos da doença está relacionada com o período de férias, mas a situação sanitária está longe de ser aquela que motivou o confinamento em março”, reforçou.

Xoan Mao defendeu a necessidade de “serem reforçadas as medidas de prevenção da doença”.

“Há que reforçar e muito as medidas de prevenção, que foram um pouco esquecidas durante o período de férias, mas não vejo motivos para novo encerramento das fronteiras. Se isso acontecesse seria um autêntico desastre financeiro”, reforçou.

Na terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros português afirmou que vai abordar a evolução da pandemia de covid-19 em Portugal e Espanha com a homóloga espanhola na sexta-feira, destacando o trabalho “de forma muito coordenada” entre os dois países.

“Eu terei o prazer de receber a minha colega espanhola [Arancha González Laya] na próxima sexta-feira, dia 18. Teremos depois a cimeira bilateral entre os dois países, no dia 02 de outubro, e, naturalmente, essas são oportunidades para nós trocarmos informação sobre o modo como estamos a acompanhar a evolução da pandemia e das medidas que todos estamos a tomar para combatê-la”, disse à Lusa Augusto Santos Silva.

O ministro dos Negócios Estrangeiros acrescentou que tem havido um trabalho “de forma muito coordenada com as autoridades espanholas”, exemplificando que a fronteira entre Portugal e Espanha esteve encerrada, entre 16 de março e 30 de junho, “por decisão conjunta dos dois Estados”.

Questionado sobre a necessidade de uma eventual nova limitação à mobilidade entre os dois países, depois de as autoridades espanholas terem anunciado, na segunda-feira, 27.404 novos casos desde sexta-feira, Augusto Santos Silva sublinhou que as decisões recaem sobre os ministros da Administração Interna de Portugal e do Interior de Espanha.

Miranda do Douro

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, disse que as populações transfronteiriças “não podem ser apunhaladas pelas costas” de novo com um encerramento das fronteiras com Espanha.

“É preocupante para os territórios de fronteira que os governos de Portugal e Espanha tenham de novo o assunto em cima da mesa, e as populações não podem ser apunhaladas pelas costas com estas decisões. O período que vivemos com o encerramento das fronteiras foi dramático para os empresários e comerciantes”, afirmou à Lusa César João.

Para o representante dos comerciantes e industriais do concelho de Miranda do Douro, “não passa pela cabeça de ninguém que o encerramento das fronteiras possa ser uma realidade”.

César João considerou que o Governo apresenta “um discurso virado para a dinamização das regiões do interior e depois, na primeira oportunidade que há, fecha-se a porta à entrada do desenvolvimento”. “Há aqui um profundo contrassenso no discurso nos nossos governantes”, vincou.

O território do Planalto Mirandês tem três fronteiras com a província espanhola da Castela e Leão: Três Marras (Vimioso), Miranda do Douro e Bemposta (Mogadouro). Mais a sul, e já no Douro Superior, fica a fronteira de Saucelle, junto a Freixo de Espada à Cinta (distrito da Guarda).

Também o diretor do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) do Rio Minho defendeu que um novo encerramento de fronteiras “não resolve” a propagação do novo coronavírus e representaria “um duro golpe para a economia transfronteiriça”.

“A confirmar-se um novo encerramento de fronteiras, será um duro golpe para a economia de fronteira e mais um contratempo nas relações transfronteiriças”, disse o também presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, no distrito de Viana do Castelo.

Constituído em fevereiro de 2018 e com sede em Valença, no distrito de Viana do Castelo, o AECT Rio Minho abrange um total de 26 concelhos: os 10 municípios do distrito de Viana do Castelo que compõe a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho e 16 concelhos galegos da província de Pontevedra.

Em junho, o AECT do Rio Minho liderou vários protestos realizados nas pontes internacionais que ligam os municípios do Norte de Portugal e da Galiza exigindo a reabertura total das fronteiras entre os dois países, repostas entre março e junho.

De acordo com dados recentes do Observatório Transfronteiriço Espanha-Portugal, dos 60 pontos existentes entre ambos os países, os de Valença-Tui, Cerveira-Tomiño e Monção-Salvaterra do Minho estão entre os seis com maior fluxo de tráfego transfronteiriço, somando, entre as três, mais do 50% do trânsito de veículos”.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 936.095 mortos e mais de 29,6 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.878 pessoas dos 65.626 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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