Certificados de vacinação não devem restringir liberdade individual – ministro brasileiro

Da Redação com Lusa

Em Lisboa, o ministro da Saúde do Brasil garantiu que o país já tem o certificado para todos os cidadãos que se vacinaram contra a covid-19, mas sublinhou que o documento não pode ser uma restrição à liberdade individual.

“[O sistema brasileiro] já tem o certificado para todos os que se vacinaram e estamos a trabalhar para que este seja reconhecido internacionalmente”, afirmou Marcelo Queiroga, numa entrevista à Lusa em Lisboa.

Agora, sublinhou, o Governo brasileiro “defende a vida e defende a liberdade”.

“Então nós achamos que esses certificados não devem restringir a liberdade individual das pessoas, assim como leis para obrigar ao uso da máscara”, frisou o ministro, após ter participado numa conferência na Faculdade de Medicina de Lisboa.

Lembrando que é médico há 35 anos, Marcelo Queiroga sublinhou que nunca conseguiu nada dos seus pacientes “obrigando eles a fazer”. “Só consegui convencendo”, acrescentou.

Assim, pede que lhe mostrem “uma pesquisa científica mostrando que a lei é melhor do que convencimento das pessoas”, porque na sua opinião, duvida dessa posição.

“A mesma coisa [se passa] em relação ao passaporte da vacina”, frisou.

Hoje,”nove em cada 10 brasileiros querem tomar a vacina”, garantiu, salientando que isto é diferente do que se passa em “determinados países onde as pessoas não querem ser vacinadas”.

Nesses países, onde as pessoas não se querem vacinar “eventualmente, algum tipo de medida nesse sentido pode surtir efeito”, reconheceu. Mas num país como o Brasil, “onde as pessoas às vezes até quase brigam para se vacinar, eu vejo que é uma forma de dividir a sociedade e este é um momento de unir a sociedade”, concluiu.

Para o ministro, “a defesa da liberdade individual, das pessoas acessarem livremente às políticas públicas de saúde faz parte de uma ambiência de mais harmonia, para fazer com que as políticas públicas tenham consecução”.

“Pelo menos esse é o nosso entendimento e nós temos trabalhado nesse sentido”, adiantou o responsável do executivo brasileiro.

Na opinião de Marcelo Queiroga, houve um “conjunto de fatores que interferiram” na pandemia, porque esta não é só um problema sanitário, mas é também “um momento de eferverscência política, cultural e científica”.

“Naturalmente, que o SUS [Sistema de Universal de Saúde] é um patrimônio do povo brasileiro, mas num país com 210 milhões de habitantes, que ousou há 30 anos construir um sistema de acesso universal e gratuito, há muitas heterogeneidades”, reconheceu, citando como exemplo o da “disponibilidade de leitos de terapia intensiva”, considerou.

O ministro destacou os ganhos na prestação de cuidados de saúde: “Havia 20 mil leitos e hoje nós temos 40 mil”, todos “habilitados e equipados pelo governo federal” no apoio aos Estados e municípios do país para enfrentarem a pandemia de covid-19.

“Então, num crescendo, fomos fortalecendo o nosso sistema de saúde, e fomo-nos capacitando a atender os pacientes mais graves, seja no setor público seja no setor privado e lidamos contra um inimigo imprevisível”, recordando que o país foi afetado por várias variantes do vírus.

No rescaldo de picos da pandemia, o ministro sublinhou que “é importante reforçar o serviço universal de saúde”.

Quanto às consequências econômicas da pandemia, referiu que “são importantes”. O orçamento do ministério ronda os 130 mil milhões de reais e no ano de 2020 foi necessário alocar 50 mil milhões a mais, exemplificou.

Bolsonaro

O ministro ainda disse que o Presidente Bolsonaro foi mal interpretado quando falou do risco de Aids para os vacinados contra a covid-19, publicação que foi retirada pelas redes sociais por ser considerada desinformação.

“O Presidente Bolsonaro replicou uma notícia publicada numa revista de grande circulação nacional e se as pessoas estiverem atenção de verificar o vídeo ele diz ‘não vou fazer juízo de valor acerca do que está nessa matéria’”, mas ao que se assistiu “depois são narrativas como o presidente é contra a vacina”, ao mesmo tempo que o governo tem “um dos maiores programas de vacinação do mundo, com 26 bilhões de reais alocados”, afirmou Marcelo Queiroga, à agência Lusa.

Em causa está uma reportagem da revista Exame de outubro de 2020 que citava uma carta publicada pela Lancet, em que um grupo de quatro cientistas se mostrou preocupado por algumas das vacinas então em pesquisa usarem um tipo específico de adenovírus, o adenovírus 5, que, no passado, em estudos para uma vacina contra o HIV, foi utilizado como vetor viral.

Em outubro de 2020, a Exame salientava na reportagem que, “até agora, não se comprovou que alguma vacina contra a covid-19 reduza a imunidade a ponto de facilitar a infecção em caso de exposição ao vírus [do HIV]”.

Segundo o ministro brasileiro, o Brasil “não é o país que, proporcionalmente, tem o maior número de óbitos de longe”, porque há “muitos outros países que têm subnotificação de casos e de óbitos”.

No seu entender, “o Brasil adotou as providências adequadas” para conter a pandemia, recusando as acusações de que a política do governo de Jair Bolsonaro, considerado negacionista pelos seus opositores, tenha acelerado a doença e limitado a ação dos serviços de saúde.

CPI

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da covid-19, a decorrer no Senado brasileiro, que hoje vota o relatório final que pede o indiciamento do Presidente Bolsonaro, por nove crimes e o aprofundamento das investigações contra outros suspeitos.

Com 1.180 páginas, o documento apresentado na semana passada pelo senador Renan Calheiros recomenda o indiciamento de outras 65 pessoas e de duas empresas suspeitas de cometerem crimes durante a pandemia de covid-19, que já causou mais de 605 mil mortos e 21,7 milhões de infectados no Brasil.

Os pedidos de indiciamento serão encaminhados para o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF), caso o relatório seja aprovado pela maioria dos membros da CPI.

O relatório da CPI também poderá ser enviado a entidades multilaterais, como o Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia.

A maioria das acusações estão relacionadas com ações negacionistas, suspeitas de corrupção e de omissão em relação ao novo coronavírus e às vacinas, que teria aumentado o número de mortos no Brasil.

Marcelo Queiroga é um dos visados pela investigação da comissão parlamentar de inquérito que ao longo dos últimos meses avaliou falhas e omissões na ação do Governo brasileiro na gestão da pandemia de covid-19, havendo a recomendação para que seja indiciado por dois crimes – prevaricação e epidemia com resultado de morte.

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