AS GUERRAS DO TURISMO

Por Francisco Seixas da Costa

Populares desfrutam de uma praia em Armação de Pera, Algarve. As temperaturas máximas vão subir gradualmente entre oito e dez graus Celsius entre hoje e sábado, o que levou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a aumentar o número de distritos sob aviso amarelo de oito para 12, deixando apenas de fora Viana do Castelo, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu e Faro. Nas ilhas, o aviso abrange apenas a ilha de Porto Santo. LUIS FORRA/LUSA
LUIS FORRA/LUSA

O atentado de ontem em Bangkok veio chamar uma vez mais a atenção para a imensa fragilidade que sofrem, nos dias de hoje, as economias que têm uma forte dependência das receitas do turismo. Aos movimentos e forças políticas, internas ou externas, que pretendem instabilizar esses países basta-lhes “plantarem” uma bomba ou organizarem um atentado, que terão uma expressão mediática global, para induzirem nos potenciais visitantes um automático receio, que os levará à escolha de destinos alternativos. As férias são um tempo de lazer, normalmente com famílias, no qual se procura precisamente a calma, o sossego e a segurança. Ao mais leve sinal de distúrbio num destino turístico que alguém estiver a considerar, é óbvio que o viajante irá procurar outras paragens.
Não vale a pena iludir que Portugal, e Lisboa em particular, está a beneficiar muito da instabilidade que afeta outros destinos turísticos tradicionalmente interessantes para os europeus. O que se passa no norte de África e até o ambiente social na Grécia acabaram por colocar Portugal na rota de muita gente que nunca nos tinha no mapa das suas preferências para férias. O surto de construção de hotéis e de instalação de hostels deve-se muito a este movimento, o qual, contudo, não nos deve iludir em definitivo.
Portugal tem condições excecionais para o turismo, desde o clima à gastronomia, da capacidade acolhedora das pessoas aos preços baixos, do golfe a destino para seniores. Mas é bom que se entenda que não somos, nem seremos nunca, um destino turístico com uma identidade própria muito forte, como é Paris ou Londres, como Nova Iorque ou Roma, que sempre serão polos de atração mundial, aconteça o que acontecer por lá. Também não temos pirâmides como o Egito, não temos Machu Pichu como o Perú, não temos Petra como a Jordânia, não temos Angkhor como o Cambodja. Assim, em caso de por cá vir a acontecer – lagarto! lagarto! – uma desgraça securitária, a nossa capacidade de recuperação, como destino turístico de massas, será muito mais difícil do que em qualquer daqueles outros destinos, à partida privilegiados por condições de atração únicas.
O que quis dizer com isto? Duas coisas: que a preservação da segurança deve, cada vez mais, estar na nossa agenda pública de preocupações e que é importante não nos deixarmos iludir muito pelo papel que o turismo pode continuar a ter na nossa economia.
Aproveitar esta “onda” turística, explorá-la inteligentemente para melhorar e qualificar as nossas estruturas, materiais e humanas, de acolhimento é um imperativo. Mas, em matéria de planificação dos caminhos de futuro para a nossa economia, nunca devemos perder de vista que o turismo é uma atividade que depende muito da vontade dos outros, tem o caráter de um produto supletivo e não essencial e é passível de fortes variações conjunturais. Não ter isto em permanente conta pode acabar por conduzir o país a uma imensa ilusão.

 

Por Francisco Seixas da Costa
Diplomata português. Ex-Embaixador de Portugal no Brasil.

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