Série “História da Alimentação no Brasil” passa pela relação com Portugal

Da Redação

O livro “História da Alimentação no Brasil” já fez 50 anos de lançamento e é considerado o maior registro histórico e sociológico sobre a culinária brasileira. Agora, deu vida a uma série de mesmo nome, lançada na Amazon Prime, que passeia por cidades portuguesas até o interior brasileiro para abordar todo seu conteúdo.

Dividida em duas partes, a obra faz um minucioso levantamento das tradições alimentares brasileiras, fruto da miscigenação entre povos originários do Brasil, da população africana escravizada e dos portugueses. Aborda desde a aclimatação da doçaria portuguesa no Brasil com ingredientes nacionais, passando pelo processamento da farinha de mandioca, até o óleo de palma trazido pelos portugueses, feito com técnicas africanas.

Luis Câmara Cascudo viajou pelo Brasil de 1943 a 1962, entrevistou ex-escravos, pessoas nas feiras, especialistas, donas de casa, visitou casas de brasileiros de todos os tipos, estudou a cultura indígena, debruçou-se sobre uma bibliografia extensíssima e foi à África conhecer as origens de vários dos nossos pratos.

Através da sua pesquisa, ele descobriu de onde vieram certos ingredientes, utensílios, temperos, receitas, e entendeu, pelas tranças históricas e geográficas, como foi se formando nossa cultura à mesa.

Seguindo os passos de Cascudo, a equipe da série também viajou por diversas cidades do país, conversando com todo tipo de gente. Entre os estados visitados estão Bahia, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Pernambuco.

Esteve em 11 cidades portuguesas, como Lisboa, Porto, Évora e Mirandela, em busca das raízes dos modos de alimentação, retratando desde a doçaria conventual (como os pastéis de Tentúgal), as Tripas à moda do Porto e os Cuscos transmontanos.

A série História da Alimentação no Brasil segue a sequência de capítulos do livro, e traz depoimentos de diversos personagens brasileiros: chefs, artistas, estudiosos e personagens anônimos de diversas regiões do Brasil e de Portugal, compondo um perfil da cultura e identidade brasileira.

Entre os entrevistados estão Carlos Alberto Dória (sociólogo), Mara Salles (chef), Ana Luiza Trajano (chef), Alberto da Costa e Silva (historiador), Chico César (cantor), José Avillez (chef), entre outros. Os 13 episódios da primeira temporada da série são uma tradução visual do próprio tema do livro. Além do material original, a série utiliza um rico material de arquivo, com filmes raros e alguns inéditos, como longas e curtas-metragens de Humberto Mauro, Heinz Forthmann, Caravana Farkas, acervos do Instituto Câmara Cascudo, CTAV, Museu do Índio, Cinemateca Portuguesa, Câmara Municipal de Lisboa e acervos particulares.

Os entrevistados mostram por vários pontos de vista como a comida é um personagem ativo, com história, participante das relações sociais. No episódio 1 – A Rainha do Brasil, por exemplo, a série defende a tese de Cascudo de que a mandioca, um dos primeiros alimentos citados nos registros portugueses, é um ingrediente soberano. Um narrador pontua os episódios com informações históricas na forma de trechos breves do livro e as cenas são entremeadas por imagens de feiras brasileiras icônicas, preparação de pratos, reproduções de livros, pinturas, trabalhos artísticos e fotos antigas. A trilha sonora, criada especialmente para a série, abarca uma multiplicidade enorme de ritmos africanos, brasileiros e portugueses, misturando referências tradicionais e contemporâneas.

O episódio 09, “Ementa Portuguesa”, mostra a relação entre as culinárias brasileira e portuguesa. Os primeiros colonizadores europeus trouxeram mantimentos de sua terra natal, mas também se depararam com a necessidade de adequar seus hábitos à oferta local de alimento. Ao longo do tempo, criou-se uma “cultura transatlântica” da comida, na qual os dois lados promoviam o intercâmbio de costumes alimentares.

A carne de porco, os frutos do mar, o pão, as hortaliças, a preparação de um prato clássico, as tripas à moda do Porto, e uma releitura do cozido à portuguesa nas mãos de um chef-estrela de Lisboa, estão em destaque.

Entre pesquisadores, escritores e chefs, estão neste tema o português José Avillez (do restaurante Belcanto), num episódio gravado no Porto, Rio de Janeiro, Mirandela, Belo Horizonte.

Constam como principais apoiadores da série o Instituto Ludovicus – Luís da Câmara Cascudo, Centro Técnico Audiovisual (CTAV), Cinemateca Portuguesa e TV Cultura. A série, dirigida por Eugenio Puppo, também está disponível no Cinebrasil TV.

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