Socialistas querem nova solução para Grécia, Passos acha “abuso” usar situação para repensar Europa

Mundo Lusíada
Com Lusa

UE-investe-7-bilhoes-eurosOs Socialistas Europeus defendem “uma nova solução para a Grécia”, que seja negociada entre o novo Governo de Tsipras e as instituições europeias, sem mais supervisão da ‘troika’, segundo disse em Estrasburgo a eurodeputada Maria João Rodrigues.

A deputada do PS, que é vice-presidente dos Socialistas Europeus (S&D), foi a autora de um documento sobre a situação da Grécia aprovado dia 09, em Estrasburgo, por este grupo político (o segundo maior da assembleia europeia, apenas atrás do Partido Popular Europeu).

“O grupo acaba de aprovar uma posição sobre a situação na Grécia que diz que a partir de agora o povo grego precisa de outra solução, e que essa solução deve ser negociada diretamente com as instituições europeias, ou seja, Comissão Europeia, Conselho e com o seguimento também da parte do Parlamento. Nós precisamos de um verdadeiro programa conjunto entre instituições europeias e Grécia”, frisou a eurodeputada, à Lusa.

Apontando que o S&D “não concorda com o método seguido até agora, que é o de utilizar uma equipe chamada ‘troika’, há que “abrir para a Grécia uma real possibilidade de reduzir o peso da dívida”, seja através de melhorias em matéria de taxas de juro e maturidades, seja através de outras formas de pagar a dívida, como por exemplo indexando-a ao crescimento do PIB.

Este grupo defendeu ainda que é preciso dar mais tempo a Atenas para equilibrar o seu orçamento e negociar um programa que incorpore algumas reformas, “mas com prioridades diferentes daquelas praticadas até agora” e que deve assentar numa “grande prioridade para o investimento e criação de emprego”.

“Eu devo dizer que, nesta ronda de capitais que foi feita pelo novo Governo grego, se percebeu que há sensibilidades diferentes, e posso dizer que os governos que pertencem à família socialista têm uma posição de maior abertura”, disse, apontando que, neste momento, existe, de fato, “uma dificuldade particular o com governo alemão, designadamente com o ministro das Finanças (Schauble) e com a chanceler (Merkel).

Questionada sobre as implicações que uma renegociação dos termos da ajuda à Grécia pode ter para Portugal, a eurodeputada do PS apontou que a situação é diferente, pois Portugal já não está sob programa, mas admitiu que “a lógica subjacente a outra solução na Grécia pode abrir perspectivas interessantes para Portugal”, com a devida adaptação.

Deste modo, Maria João Rodrigues discorda da posição que o Governo PSD/CDS-PP tem adotado, considerando-a “um erro de avaliação política”, já que, na sua opinião, “a Grécia tem algumas particularidades”, mas também é vítima, como Portugal, “de uma questão mais geral, que é um funcionamento da União Econômica e Monetária que tende a penalizar os países menos competitivos e a agravar as divergências econômicas e sociais”.

Passos Coelhos
O primeiro-ministro português defendeu ser “um abuso” usar a situação da Grécia para repensar toda a Europa que, disse, tem progredido muito mas tem de criar novos mecanismos de desenvolvimento.

Para Passos Coelho é preciso, sim, “olhar para Europa e não a confundir com a questão da Grécia”, esperando que aquele país consiga, também com a ajuda de Portugal, ultrapassar os seus problemas que não devem ser confundidos com os problemas da União Europeia.

“Nós ultrapassamos as nossas [dificuldades], os irlandeses também ultrapassaram, a Espanha também, a Grécia ainda não conseguiu e, como no passado, cá estaremos todos para ajudar a Grécia a resolver os seus problemas, mas não parece que os problemas da Grécia sejam os problemas que a Europa tem de resolver”, frisou.

Destacou, contudo, que “a Europa ainda tem problemas” e que, “de um modo geral”, dá um “salto qualitativo muito grande quando há uma crise”. “Apesar dos problemas que a Grécia ainda está a passar, eu julgo que a Europa evoluiu muitíssimo nestes anos. E foi isso que permitiu que se criassem instrumentos para que muitos países resolvessem problemas graves que estavam a viver”, sublinhou.

Afiançou esperar, contudo, que “não seja preciso mais uma grande crise” a nível europeu para que os seus mecanismos sejam melhorados, até porque “quem vive sob a mesma moeda, precisa de uma grande articulação econômica e financeira” tal como “tem de ter uma capacidade orçamental própria para países que precisam de ajustamentos mais drásticos”.

Sobre Portugal, e sobre o resultado do trabalho dos últimos anos, assinalou que Portugal já ultrapassou o “risco de colapso” da sociedade em que se encontrava enquanto “país que não consegue obter financiamento” ou “não consegue dar resposta à emergência”.

Neste dia 09, a imprensa portuguesa divulgou uma entrevista do ministro grego das Finanças que, comentando a atual situação do país, afirmou que se a Grécia sair do euro, Portugal e Itália saem a seguir. “Quem será o próximo depois de nós? Portugal? O que vai acontecer quando a Itália descobre que é impossível manter-se dentro da camisa de força da austeridade?”, afirmou Yanis Varoufakis à televisão italiana RAI.

O novo governo grego, liderado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, do partido de esquerda radical Syriza, foi eleito em janeiro. O programa de ajuda externa à Grécia termina no final do mês e, até lá, tem de ser encontrada uma solução para que o país não entre em falência.

Tsipras apresentou-se a eleições com a promessa de reduzir a dívida grega (mais de 175% do Produto Interno Bruto – PIB) e acabar com a austeridade imposta pela ‘troika’, o que é rejeitado por muitos dos seus parceiros da zona euro, a começar pela Alemanha.

A Grécia está sob assistência financeira internacional desde 2010, com dois empréstimos concedidos pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, em troca de duras medidas de austeridade.

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