Protesto contra política do Governo reúne milhares em diversas cidades lusas

Mensagens de solidariedade para com a “geração à rasca” chegaram de todos os pontos do país e de várias cidades europeias onde se encontram portugueses através do Facebook, onde nasceu a mobilização de milhares de pessoas.

Mundo Lusíada

Com Lusa

Protesto “Geração à rasca” reúne milhares na Avenida dos Aliados, no Porto. Foto: ESTELA SILVA/LUSA

A manifestação do movimento “Geração à rasca”, convocada a partir de redes sociais, encheu a avenida da Liberdade, teve muitos jovens, poucos políticos, organização caótica e movimentos totalmente heterogêneos, desde neo-nazis aos defensores dos direitos homossexuais.

No Rossio, uma rapariga pegou no megafone para transmitir um número megalómano sobre a adesão ao protesto de Lisboa: falou em 200 mil pessoas. Muito longe desse número, a verdade é que esta foi uma das manifestações em que foi mais difícil estimar-se quantas dezenas de milhares nela participaram, porque às 15h (hora local marcada para o início) e no local da concentração (Cinema São Jorge) não estariam mais de duas mil pessoas.

Mas, trinta minutos depois, dos dois extremos da avenida da Liberdade, começaram a chegar milhares e milhares de jovens, além dos muitos cidadãos que se deslocaram a esta zona central de Lisboa para assistir ao desenrolar do protesto e assim manifestarem a sua solidariedade com os mais novos.

Outra originalidade desta “manif” é que não houve quase organização. Desceu-se até ao Rossio, mas ninguém sabia bem onde o protesto acabava. Os “slogan” e as palavras de ordem também variaram muito, tendo em comum apenas um ponto: A crítica à política do Governo português.

“PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento) para quê se quem nos rouba nem nos vê”; “País precário saiu do armário”; “Chega, basta de viver à rasca”; “Sócrates e Governo, vamos corrê-los a pontapé” eram algumas das mensagens nas placas dos manifestantes.

Jovens deputados do Bloco de Esquerda e do PCP, ex-candidatos presidenciais José Manuel Coelho e Garcia Pereira, dirigentes da Juventude Social Democrata, assim como sindicalistas da CGTP-IN, andaram pelo protesto, mas estiveram longe de ocupar o palco, que desta vez pertenceu só aos jovens espontâneos.

O protesto auto-denominado “Geração à Rasca” decorreu em 11 cidades do país mas teve o seu ponto alto na Avenida da Liberdade. Ao protesto se associaram várias juventudes partidárias, organizações de extrema-direita, anarquias, sindicatos e partidos políticos.

Iniciado no Facebook

Mensagens de solidariedade para com a “geração à rasca” chegaram de todos os pontos do país e de várias cidades europeias onde se encontram portugueses através do Facebook, onde nasceu a mobilização de milhares de pessoas.

“Estou solidário”, “Força, estou convosco. Viva a Liberdade”, “Viva os jovens em Luta” e “Viva o protesto do povo” são algumas das mensagens deixadas na rede social depois de ter início o protesto nas ruas.

A “Pedra Filosofal”, cantada por Manuel Freire, ou “Talking about a Revolution”, de Tracy Chapman, estão entre as canções colocadas na página do Facebook dedicada ao evento.

Os mais jovens regozijam-se com a cobertura mediática do acontecimento, que conseguiu chamar a atenção do Financial Times e dos diretos televisivos.

A frase “Eu vou” foi substituída na rede social por “Estou a participar” e “Vou sair do trabalho e também vou fazer História”.

A maior parte dos participantes que se comprometeram a participar são jovens desempregados ou em situações precárias e a mobilização, que começou via redes sociais online, ganhou uma expressão maior através da associação a hinos musicais, como a música dos Deolinda “Que parva eu sou”, num retrato de uma geração de “quinhentoseuristas” que não consegue ser autônoma dos pais e tem formação superior qualificada.

Numa carta aberta dirigida aos cidadãos e a qualquer organização da sociedade civil, os promotores explicam que o protesto é “fruto da insatisfação de um grupo de jovens que sentiram ser preciso fazer algo de modo a alertar para a deterioração das condições de trabalho e da educação em Portugal”.

“Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida”, sustentam os promotores.

“Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas”, prometeram.

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