Presidente recorda passado colonial e pede que se olhe para história sem complexos

Mundo Lusíada
Com Lusa

Neste 25 de Abril, o Presidente da República recordou no seu discurso o passado colonial de Portugal e pediu que se olhe para a História sem temores nem complexos, sem alimentar campanhas e combatendo intolerâncias.

Na sessão solene comemorativa do 47.º aniversário do 25 de Abril, na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa pediu que se faça “história da História” e que se “retire lições de uma e de outra, sem temores nem complexos, com a natural diversidade de juízos própria da democracia”.

“Mas que se não transforme o que liberta, e toda a revisitação, por mais serena liberta ou deve libertar, em mera prisão de sentimentos, úteis para campanhas de certos instantes, mas não úteis para a compreensão do passado, a pensar no presente e no futuro”, acrescentou.

O chefe de Estado referiu que os que fizeram o 25 de Abril de 1974 “souberam superar muitas das suas divisões durante a revolução e depois dela” e que “nações irmãs na língua” de Portugal “têm sabido julgar um percurso comum olhando para o futuro, ultrapassando séculos de dominação política, econômica, social, cultural e humana”.

“Que os anos que faltam até ao meio século do 25 de Abril sirvam a todos nós para trilharmos um tal caminho, como a maioria dos portugueses o tem feito nas décadas volvidas, fazendo de cada dia um passo mais as glórias que nos honram e os fracassos pelos quais nos responsabilizamos, e bem assim no construir hoje coesões e inclusões e no combater hoje intolerâncias pessoais ou sociais”, apelou.

O Presidente salientou ainda que quem faz este apelo “é o filho de um governante na ditadura e no império que viveu na que apelida de sua segunda pátria [Moçambique] o ocaso tardio inexorável desse império, e viveu depois, como constituinte, o arranque de um novo tempo democrático, charneira, como tantos portugueses, entre duas histórias da mesma História”.

“E nem por exercer a missão que exerce olvida ou apaga a História que testemunhou, como nem por ter testemunhado essa História deixou de ser eleito e reeleito pelos portugueses em democracia – democracia que ajudou a consagrar na Constituição que há 45 anos nos rege”, realçou.

Pobreza estrutural

Marcelo Rebelo considerou que o desenvolvimento, a liberdade e a democracia conquistados com o 25 de Abril de 1974 são imperfeitos porque ainda há pobreza estrutural de dois milhões de portugueses.

“Desenvolvimento, liberdade e democracia que, sabemo-lo todos, sempre foram imperfeitos, e por isso não plenos, porque nunca tendo resolvido uma pobreza estrutural de dois milhões de portugueses e desigualdades pessoais e territoriais e desinstitucionalizações”, acrescentou.

Segundo o Presidente da República, a pandemia de covid-19 “veio revelar e acentuar” essas desigualdades.

Como fez nas cinco sessões anteriores do 25 de Abril no parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa entrou no hemiciclo de cravo vermelho na mão – em vez de o usar na lapela como alguns, ou de não levar a flor símbolo da revolução, como outros, sobretudo à direita.

Legado

O presidente da Assembleia da República apelou aos deputados dos diferentes partidos a que se ultrapassem bloqueios políticos e honrem o legado dos constituintes, sendo capazes de convergir e traduzindo em leis soluções para o país.

Este desafio foi deixado por Ferro Rodrigues no discurso que abriu a sessão solene comemorativa do 47.º aniversário do 25 de Abril. “Neste dia, quero evocar todas e todos quantos, oriundos de projetos ideológicos tão distantes e quase incompatíveis, souberam convergir no essencial, elaborando e aprovando o ambicioso programa social, econômico e político que foi a Constituição da República Portuguesa de 1976, cuja entrada em vigor aconteceu neste dia, há precisamente 45 anos. Uma Constituição que possibilitou uma grande multiplicidade de soluções de Governo e, mais que tudo, uma Constituição que garantiu estabilidade política”, sustentou o presidente da Assembleia da República.

O presidente do parlamento defendeu depois que a Lei Fundamental tem sabido resistir à prova do tempo.

“É essa lição, plena de atualidade, e a experiência histórica da Assembleia Constituinte que hoje, num quadro de pandemia, quero e devo recordar, afirmando a importância de todos sermos parte da solução. Representando a diversidade e a pluralidade da sociedade portuguesa, é nossa obrigação honrar o legado dos constituintes, e das treze Legislaturas que se seguiram, ultrapassando bloqueios e traduzindo em lei as soluções para os problemas do país, e para os muitos, e cada vez mais exigentes, desafios com que nos deparamos e que teremos ainda pela frente”, declarou o antigo líder do PS.

A primeiras palavras de Ferro Rodrigues foram para se referir à atual situação de estado de emergência em Portugal por causa da covid-19, considerando que agora há um “horizonte de redobrada esperança” com as diferentes vacinas.

“Foi um ano de combate, em que os profissionais de saúde e todos os que permitiram que o país não parasse merecem reconhecimento nacional. Foi um ano com muitas vítimas, até ontem 16.957, que homenageamos nesta Assembleia da República há três dias”, observou.

Ferro Rodrigues assinalou ainda a coincidência de hoje se completarem 47 dias desde que Marcelo Rebelo de Sousa foi empossado para um segundo mandato como Presidente da República e de hoje também se comemorarem 47 anos do 25 de Abril de 1974.

“Com a honrosa presença de sua excelência o Presidente da República, 47 dias depois de tomar solenemente posse perante a Assembleia da República, iniciando, assim, o seu segundo mandato. Quarenta e sete é também o número de anos que levamos de liberdade e de democracia”, acrescentou.

Pela segunda vez consecutiva, a sessão solene comemorativa do 25 de Abril no parlamento acontece com um número reduzido de presenças em contexto de pandemia de covid-19 e com o estado de emergência em vigor.

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