Presidente considera que Igreja Católica tem sido “verdadeiramente exemplar”

Da Redação
Com Lusa

O Presidente de Portugal considerou neste sábado, em Fátima, que a Igreja Católica tem sido “verdadeiramente exemplar” perante a pandemia da Covid-19, abdicando de realização de celebrações relevantes, como o 13 de maio.

Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro, António Costa, assistiram à missa em homenagem às vítimas da covid-19, presidida pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas Carvalho, que decorreu na Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima.

“Queria assinalar e agradecer à Igreja Católica, que tem sabido interpretar os valores da vida e da saúde, que são valores essenciais para o cristianismo e, nessa medida, tem sido exemplar nas celebrações, todas elas aqui em Fátima”, começou por referir Marcelo Rebelo de Sousa, no final da celebração religiosa.

O chefe de Estado exemplificou com a decisão que a igreja “tomou ao abdicar da celebração do 13 de maio” e a “forma como foi assinalado e celebrado o 13 de outubro”.

“Foram esforços muito grandes. Ainda agora, falando com o presidente da Conferência Episcopal [disse] o que tem feito a Igreja Católica é verdadeiramente exemplar de serviço, de valores fundamentais, mas também de serviço da comunidade portuguesa”.

Para o Presidente da República, a cerimónia de homenagem “é muito simbólica”.

“Quiseram todos os bispos, em conjunto, evocar os mortos, quer os diretamente da covid-19, quer os mortos de doenças não covid-19, neste período doloroso que temos estado a atravessar”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa no final da celebração religiosa.

Durante a homília, José Ornelas Carvalho afirmou que a celebração em memória das vítimas diretas e indiretas da pandemia é “reconhecê-las não apenas como números de uma estatística, mas como criaturas amadas de Deus”.

A eucaristia evocou ainda famílias, profissionais da saúde, investigadores e cuidadores, por toda a sua “dedicação, esforço, inteligência e abnegação”.

“Se aprendermos desta epidemia a cuidar uns dos outros e juntos deste mundo, teremos feito justiça e boa memória dos que partiram e dos esforços de quantos os acompanharam na última etapa da vida nesta terra”, acrescentou o também bispo de Setúbal.

José Ornelas Carvalho referiu ainda que a crise tem mostrado que “o sofrimento e a morte não podem ser confinados e que só juntos, com o esforço e a responsabilidade de todos, podemos construir um mundo aceitável para todos, em que nos cuidemos mutuamente”.

“A pandemia que está a condicionar todo o planeta coloca-nos diante da evidência do dom precioso da vida humana e de todas as capacidades de que somos capazes, mas igualmente da fragilidade do nosso ser individual, das nossas realizações sociais, políticas, econômicas e científicas, bem como do próprio mundo que habitamos”, acrescentou ainda o bispo.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.305.039 mortos resultantes de mais de 53,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 3.305 pessoas dos 211.266 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

Missa do Galo

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa admitiu, em Fátima, suspender a realização da tradicional Missa do Galo, no Natal, se os números da pandemia de covid-19 continuarem preocupantes, para proteger vidas.

José Ornelas disse aguardar pela evolução do número de infetados pelo SARS-CoV-2, mas admitiu suspender a missa. “Se for necessário, para defender a vida, vamos fazê-lo”, disse.

“Não brincamos com a saúde das pessoas. Iremos resolver os problemas com os mesmos princípios, com as mesmas preocupações, mas também com o mesmo sentido de equilíbrio, para não morrermos nem do vírus nem da sua cura”, sublinhou.

Segundo o também bispo de Setúbal, a igreja tem “normas muito claras que foram acertadas com a Direção-Geral da Saúde, até ao pormenor” e tudo tem feito para garantir a segurança nas celebrações.

“Não posso assegurar que não vai haver algum contágio, pois a maioria das pessoas infetadas são assintomáticas, mas é muito mais fácil contagiarmo-nos no supermercado ou no restaurante do que nas igrejas, até pela natureza da comunidade que se junta, a forma como está e o que faz”, afirmou José Ornelas.

A principal preocupação para o presidente da CEP são os contágios em casa. “Não é mal celebrar em casa, mas não pode ser a grande família. Quem é que não gostaria de estar em casa com a grande família, todos juntos? Mas, para que os nossos avós cheguem ao próximo natal, se calhar, é necessário que neste Natal não estejamos juntos, porquanto isso seja triste e desolador”, acrescentou.

José Ornelas não tem dúvidas de que “se for necessário contenção”, a igreja irá tê-la e apontou a troca de mensagens através de aplicações de internet como forma de “amenizar aquilo que não for possível realizar presencialmente”.

O presidente da CEP considerou ainda que as “sacudidelas” desta pandemia “são ocasiões de pensar muito as maneiras de viver”.

“Não estou a dizer que causamos esta pandemia, mas temos de pensar que preparação é que tínhamos para responder a desafios destes? O que tínhamos investido nos meios de saúde e na capacidade que temos de organizar a nossa vida”, questionou, lembrando que agora é necessário “tentar equilibrar todos os aspetos da vida entre economia, estar em casa, cuidar-se, cuidar do ambiente e deste planeta”.

José Ornelas lamentou que a pandemia tenha mostrado todo o tipo de atitudes. “Temos visto gente com abnegação total, que renuncia a si própria e à família e temos visto correntes de solidariedade muito tocantes, mesmo em termos da sociedade civil. Mas, também temos visto uma utilização e manipulação de tudo isto, uma linguagem negacionista e populista”, afirmou.

O bispo destacou ainda os “passos que a Europa tem dado no sentido dessa solidariedade, quando se diz que quando chegarem as vacinas não são só para quem tem poder de pagar”.

“Dizer-se que temos de trabalhar mais em conjunto e também usar a fragilidade dos outros para obter proveitos próprios, seja a nível político, estratégico ou militar é a maior vergonha da humanidade. Espero que esta seja uma ocasião para pensar um mundo melhor”, concluiu.

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