Portugal lamenta incêndio em Museu Nacional no Rio como “perda irreparável”

Fotos Tomaz Silva/Agência Brasil

Mundo Lusíada
Com agencias

No Brasil, o ministro português da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, lamentou o incêndio que atingiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, classificando-o como “uma perda irreparável”.

“Estamos consternadíssimos. Nós sentimos também essa perda porque era um acervo importantíssimo da história natural do país, da sociedade brasileira e também da história política, sendo este o palácio onde o rei de Portugal se veio instalar quando levou a corte para o Brasil. É um monumento muito importante para a história dos dois países”, constatou o ministro no Rio.

Ele chegava ao Real Gabinete Português de Leitura, no Rio, onde iria abrir o 9º colóquio do polo de pesquisas luso-brasileiras, que acontece sob o tema “Relações luso-brasileiras: imagens e imaginários”.

A instituição, destruída pelo fogo, foi criada há 200 anos por João VI, de Portugal, e era o mais antigo e um dos mais importantes museus do Brasil.

“Portugal perde sempre. Perderam-se móveis de D. João VI, os diários da imperatriz Leopoldina. É patrimônio de origem portuguesa, mas é patrimônio cultural do Brasil”, referiu Luís Filipe Castro Mendes.

“É uma grande perda para o povo brasileiro, para os pesquisadores que trabalhavam naquele museu e nós sentimos uma profunda solidariedade com os brasileiros”, finalizou o responsável pela pasta da Cultura.

Na agenda do ministro segue-se uma visita ao Museu Histórico Nacional, também no Rio de Janeiro, para uma apresentação do projeto “O Retrato do Rei D. João VI”.

O acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, no Brasil, que foi consumido por um incêndio na noite de domingo e ao longo da madrugada de segunda-feira, tinha um dos maiores históricos e científicos do país, com cerca de 20 milhões de peças.

Entre os milhões de peças que retratavam os 200 anos de história brasileira estavam igualmente um diário da imperatriz Leopoldina e um trono do Reino de Daomé, dado em 1811 ao príncipe regente João VI.

O Ministério brasileiro da Cultura também emitiu um comunicado lamentando “profundamente” o incêndio que dizimou o acervo e as instalações do Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e considerou que “as causas e responsabilidades devem ser rigorosamente apuradas”.

Investigações

Controlado o incêndio no Museu Nacional, a previsão é que equipes de bombeiros entrem no prédio para avaliar as condições da estrutura. O trabalho de perícia e de investigação será conduzido por agentes da Polícia Federal da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio.

Não há previsão para o início da avaliação das condições do prédio nem da perícia, pois há locais ainda com focos de incêndio. A fachada foi atingida pelo fogo, desabou o teto e o interior do edifício foi praticamente destruído.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo foi controlado e os militares fazem o trabalho de rescaldo em pequenos focos de incêndio que ainda persistem, na tentativa de evitar o reinício das chamas, o que deve durar toda semana. “Em um prédio normal, nós levaríamos uns dois dias. No caso de um museu vai levar muito mais”, disse o comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Roberto Robadey, acrescentando que o trabalho será lento porque contará com a participação de funcionários do museu.

Segundo a imprensa brasileira, a queda de um balão poderia estar no início do fogo. “O que uma fonte do museu me disse é que eles estavam trabalhando com várias hipóteses. Uma delas seria a possibilidade de um curto circuito num laboratório, a outra poderia ser um balão porque, como o fogo começou no alto e depois foi descendo e na parte de trás, poderia ser um balão” disse o ministro da Cultura, Sergio Leitão.

Rede de apoio

Nesta segunda-feira, o presidente Michel Temer articulou a criação de uma rede de apoio econômico para viabilizar a reconstrução do museu.

Formado inicialmente pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Vale e Petrobras, o grupo deve se empenhar nesse objetivo “no tempo mais breve possível”, segundo divulgou o Palácio do Planalto.

“Outros participantes poderão ser agregados durante a elaboração do projeto. Os ministérios da Educação e Cultura estudam mecanismos para que as empresas se associem na reconstrução do edifício e na busca pela recomposição do acervo destruído ontem. Uma das primeiras alternativas é usar a Lei Rouanet para financiar a iniciativa”, diz o comunicado.

Também o ministro da Educação, Rossieli Soares, disse que o governo vai liberar recursos emergenciais para atender o Museu. Segundo ele, é necessário que se faça um projeto executivo após avaliar as perdas, para saber exatamente quanto terá de ser empregado para a recuperação do museu.

O ministro disse ainda que há cerca de dez dias encontrou o reitor Roberto Leher, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo museu, justamente para discutir a necessidade de reforma da instituição. “Um dos temas que tratamos era a reforma do museu com recursos angariados e aquilo no que o MEC precisaria atuar. A responsabilidade [do governo] existe, é histórica e nós entendemos que agora é o momento da reconstrução com todo mundo junto”.

Segundo ele, não apenas o museu, mas outros prédio da universidade precisam de cuidados. “A UFRJ é muito peculiar por ocupar muitos prédios históricos, esse será um dos temas de discussão [da reunião de hoje à tarde]”.

Perguntado sobre a responsabilidade do MEC pelo que ocorre, uma vez que o Museu Nacional é vinculado à UFRJ, que por sua vez é vinculada ao MEC, o ministro assumiu que a responsabilidade “é nossa, mas não é exclusiva de agora”.

“Fizemos um trabalho importante com a sanção do Orçamento do MEC sendo melhorado para 2019, o que é um sinal importante, mesmo em tempos difíceis”, afirmou e acrescentou: “Mas a reforma necessária, desde a época que se tinha mais recursos, não foi feita, provavelmente, a reforma necessária”.

Maior tragédia museológica

Para a UFRJ, o incêndio é “a maior tragédia museológica do país. Uma perda incalculável para o nosso patrimônio científico, histórico e cultural.”

Em nota, a UFRJ se solidariza, em nome do Instituto Brasileiro de Museus, com servidores e pesquisadores do Museu Nacional, no que considera um triste registro da história. “Tamanha perplexidade que toma a todos, nos defronta com o maior desafio dos museus: consolidar e implementar uma política pública que garanta, de forma efetiva, a manutenção e conservação de edifícios e acervos do patrimônio cultural brasileiro”, destaca a nota.

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, informou que terá ainda hoje uma reunião com o ministro da Educação, e cobrará do governo federal empenho para reconstruir o prédio e o acervo da instituição, que, segundo o próprio Museu Nacional, tem a maior coleção da América Latina.

Um protesto de indignação e solidariedade após o incêndio reuniu uma multidão na porta da Quinta da Boa Vista na manhã de deste dia 3. Com críticas ao poder público de modo geral e ao governo federal, o ato apontou descaso com a história do Brasil, com a ciência e instituições públicas de ensino e pesquisa. Os manifestantes começaram a chegar pouco depois das 9h, mas foram impedidos de entrar na Quinta da Boa Vista por guardas municipais.

O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, como é conhecido, fica instalado no bairro imperial de São Cristovão, zona norte da cidade, e reúne mais de 20 milhões de itens, divididos em coleções de paleontologia, zoologia, botânica, antropologia, arqueologia, entre outras. O lugar já foi residência oficial da família imperial brasileira. Dom João VI inaugurou em 1818 o museu com o nome de Museu Real, que funcionou primeiramente no Campo de Santana, no centro do Rio.

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