Governo e oposição divergem sobre situação de Portugal em clima pré-eleitoral

Da Redação
Com Lusa

Milhares marcham em Lisboa em frente ao Parlamento. MIGUEL A. LOPES/LUSANo último ‘Estado da Nação’ da legislatura, Governo e oposição divergiram neste 08 de julho em absoluto no diagnóstico sobre o país, num debate recheado de imagens bíblicas e que decorreu em clima de pré-campanha eleitoral.

Na sua intervenção de abertura, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, defendeu que o Governo seguiu a estratégia mais acertada para proteger os portugueses e dramatizou uma eventual inversão de ciclo, afirmando que a desorientação política é uma ameaça coletiva e que a coligação PSD/CDS-PP nunca fará dos portugueses cobaias de experiências políticas.

O mote das imagens bíblicas foi dado pelo líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, que retomou as acusações feitas nos últimos dias pelo secretário-geral socialista, António Costa, acusando o executivo de ter cometido “sete pecados capitais” nos quatro anos de governação, entre os quais incluiu as promessas não cumpridas e o empobrecimento do país.

Na resposta, Pedro Passos Coelho contrapôs com o que chamou as “dez pragas socialistas”, como “as obras faraónicas” e as Parcerias Público-Privadas (PPP).

Também o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, aproveitou o tom e acusou o Governo de não ter atuado como “inseticida” contra as pragas que se abateram no país: “Qual foi a posição do seu partido perante essas pragas? Não foi inseticida, foi parte integrante dessas pragas que se abateram sobre o país”, acusou o comunista.

Mais tarde, também Telmo Correia, pelo CDS-PP, viria a apelar à desconfiança “nos falsos profetas”, seguindo a linha do seu líder parlamentar, Nuno Magalhães, que alertou que se o PS voltar a ter responsabilidades governativas levará o país ao quarto pedido de ajuda externa da sua história.

O presidente da bancada do PSD, Luís Montenegro, defendeu que os partidos da oposição também estavam em julgamento no debate, ao terem “falhado redondamente” as suas previsões, que, no seu entender, colocariam Portugal como a Grécia.

A situação da Grécia perpassou por toda a discussão parlamentar, com a maioria a insistir nas diferenças com a situação portuguesa, e Passos Coelho a garantir que não há qualquer chantagem da União Europeia e que todos os países estão disponíveis para continuar a ajudar os gregos.

O BE centrou as suas intervenções em temas económicos, com a porta-voz Catarina Martins a acusar o Governo de promover uma “venda de garagem” do país através das privatizações e a deputada Mariana Mortágua a introduzir o tema da venda do Novo Banco, dizendo que o Governo aceitou reestruturar a dívida da banca por 20 anos.

A este propósito, o primeiro-ministro disse não ter nenhuma razão para supor que a venda do Novo Banco possa pôr em causa a estabilidade do sistema financeiro ou os empréstimos realizados pelo Tesouro.

Num debate mais tenso que o habitual, a cerca de três meses das legislativas, deputados socialistas acusaram Passos Coelho de mentir, o que levou o primeiro-ministro a lamentar o recurso à ofensa.

A encerrar o debate, o vice-primeiro, Paulo Portas, voltou ao tema da próxima legislatura e defendeu que é a maioria e não a oposição que transporta a legitimidade de mudança, numa intervenção em que citou o antigo Presidente da República Jorge Sampaio – ao concordar que ‘há mais vida para além do défice’ – mas também o autor de “O Capital” e coautor do Manifesto Comunista, Karl Marx, na sua célebre citação sobre a repetição da história, primeiro como tragédia e depois como farsa.

“O maior partido da oposição não é mudança, é apenas o risco de um regresso e isso transporta-nos para um passado que não é aconselhável revisitar”, disse o também líder do CDS-PP.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: