Falando ao Parlamento, Zelensky pede apoio de Portugal para aderir à UE e junto dos PALOP

Mundo Lusíada com Lusa

Neste dia 21, o Presidente da Ucrânia pediu insistentemente o apoio de Portugal no processo para o seu país aderir à União Europeia e que use a sua influência nos países de língua portuguesa para estes estarem do lado dos ucranianos.

“A Ucrânia já está a caminho da União Europeia (…) Quando essa questão for colocada, peço-vos, peço-vos mais uma vez, que nos apoiem nesse caminho”, insistiu Volodymyr Zelensky, que falou numa intervenção por videoconferência no parlamento português.

“Estamos o mais a leste e vocês o mais a oeste, mas ambos sabemos que os valores que defendemos são iguais”, frisou o Presidente da Ucrânia, numa sessão solene com altas entidades do Estado e representantes da comunidade ucraniana nas galerias.

Ao dirigir-se aos deputados portugueses e altas individualidades convidadas, com a presença do Presidente da Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, Zelensky agradeceu o apoio humanitário, o acolhimento de milhares de ucranianos que fogem da guerra, mas pediu mais apoio militar, diplomático e político.

Para defender “a independência, a segurança, a democracia” a Ucrânia conta com o apoio de Portugal, disse o Presidente da Ucrânia, que declarou ainda esperar que as autoridades portuguesas possam transmitir essa mensagem a outros povos, referindo especificamente os países africanos lusófonos.

“Peço que lutem contra a propaganda russa usando a influência nesses países que são próximos de Portugal”, insistiu.

Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde abstiveram-se na votação na Assembleia-Geral das Nações Unidas, dia 07 de abril, de uma resolução que aprovou por 93 votos a favor a suspensão a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, devido a alegados crimes de guerra e crimes contra humanidade na Ucrânia.

Dos países lusófonos, apenas Portugal e Timor-Leste votaram a favor e os votos de São Tomé e Príncipe e da Guiné Equatorial não foram registrados na Assembleia-Geral. A resolução, apresentada pelos Estados Unidos da América (EUA) e apoiada pela Ucrânia e outros aliados, obteve 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções entre os 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU).

Hoje na Assembleia da República, e tal como fez em Espanha, onde se referiu ao bombardeamento de Guernica, ou em França, abordando a batalha de Verdun, o chefe de Estado ucraniano também recorreu a um momento histórico de Portugal para melhor mostrar a luta da Ucrânia.

“O vosso povo, que vai celebrar dentro de dias o aniversário da resolução dos cravos, percebe”, disse Zelensky, referindo-se às comemorações do 25 de Abril.

“Sabem o que estamos a sentir”, declarou, reafirmando que os ucranianos lutam porque “querem a liberdade”, porque “querem escolher o seu futuro”.

Armamento e sanções

Zelensky pediu armamento pesado e o reforço das sanções à Rússia, no discurso perante o parlamento português.

“Peço aceleração e reforço das sanções e também apoio militar, armamento” afirmou o chefe de Estado ucraniano, que pediu especificamente “armamento pesado”, numa sessão solene.

O Presidente da Ucrânia fez este apelo dirigindo-se às autoridades presentes e ao povo português: “Tudo aquilo em que puderem ajudar, eu apelo-vos, ao vosso país, para nos conseguirem ajudar”.

De acordo com a tradução simultânea de ucraniano para português transmitida na Sala das Sessões, Volodymyr Zelensky acusou a Federação Russa de crimes de guerra, afirmando que as forças russas já capturaram e deportaram “mais de 500 mil ucranianos” e observando: “É o tamanho da população da cidade do Porto duas vezes”.

Segundo Zelensky, “os deportados não têm direito a estabelecer ligação com as famílias, eles estão a ser deportados para as regiões mais longínquas da Rússia”, onde “fizeram campos especiais para que essas pessoas fossem divididas, alguns são mortos, as raparigas são violadas”.

“Imaginem se Portugal todo abandonasse o país”, acrescentou o Presidente da Ucrânia, referindo-se aos refugiados causados por esta ofensiva militar.

O chefe de Estado da Ucrânia manifestou a expectativa de que as pessoas que deixaram as suas casas “consigam em breve voltar”, mas acrescentou: “Contudo, não conseguimos garantir quando isto vai ser”.

Ao seu lado uma bandeira da Ucrânia, Zelensky falou durante cerca de quinze minutos. Na primeira parte da sua intervenção descreveu ataques das forças russas a civis em várias localidades da Ucrânia, relatando situações em que “os ocupantes mataram as pessoas só para se divertir” e “atiraram bombas contra escolas”.

Zelensky destacou a destruição da cidade de Mariupol, “tão grande como Lisboa”, onde disse que “não existe uma única habitação que esteja inteira”.

“Nessa cidade foram mortas dez mil pessoas ou mais, não temos certeza do número, porque fizeram crematórios móveis para destruir os corpos, para nunca mais podermos ter provas”, alegou.

“Nós estamos a lutar não apenas pela nossa independência, mas pela nossa sobrevivência, pelas nossas pessoas, pelos ucranianos, para eles não serem mortos, não serem torturados, para não serem violados, para que não sejam capturados pela Rússia”, declarou.

A assistir a esta sessão solene estiveram também o antigo Presidente da República António Ramalho Eanes, e o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, entre outros convidados.

Depois do discurso de Zelensky, a sessão solene de boas-vindas ao Presidente da Ucrânia incluiu apenas uma intervenção do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

Esta iniciativa foi proposta pela deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, e aprovada com o apoio de todos os partidos exceto o PCP, que se opôs à sua realização e faltou à sessão.

O chefe de Estado ucraniano discursou na Assembleia da República depois de já se ter dirigido aos deputados de vários países tais como o Japão, os Estados Unidos, o Reino Unido, a França ou a Austrália.

Esta foi a primeira vez que um chefe de Estado estrangeiro discursou na Assembleia da República por videoconferência.

A Federação Russa lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia com invasão por forças terrestres e bombardeamentos.

Esta ofensiva militar já matou mais de dois mil civis e causou a fuga de mais de 5 milhões de pessoas para fora da Ucrânia, segundo dados da ONU.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: