Fake News: Comissão parlamentar brasileira pede mais esforço de Portugal e da CPLP

Da Redação
Com Lusa

Em Brasília, o presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das ‘fake news’ apelou a Portugal e outros países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que intensifiquem ações contra as notícias falsas.

“Acho que o mundo tem de colocar as suas CPMIs para conter estas guerras tecnológicas. Se não fizermos isso a nível mundial, não adianta fazer só a nível nacional. Portugal tem de entrar também nessa grande cruzada de acabar com as ‘fake news’, todos os países da língua portuguesa têm de entrar nessa cruzada”, defendeu o presidente da CPMI, o senador Angelo Coronel.

“Há muitos financiadores que abrem um escritório (de notícias falsas) no país vizinho, para de lá enviarem as suas ‘fake news’ para o Brasil, como aconteceu nas eleições de 2018. O mundo é globalizado, não podemos fazer pressões apenas no nosso país. A França e Alemanha têm tomado as suas ações, mas todos os países têm de começar a abrir os olhos para as notícias falsas, porque, se não, vão-se transformar numa guerra tecnológica”, advogou em entrevista à Lusa.

Criada em agosto do ano passado, e presidida por Angelo Coronel (Partido Social Democrático), a CPMI das ‘fake news’ no Brasil foi fundada com o intuito de investigar as eleições de 2018, que resultaram na vitória de Jair Bolsonaro como chefe de Estado do país, a violência virtual, a proteção de dados, assim como a pedofilia.

Na visão de Angelo Coronel, além da pandemia do novo coronavírus que o mundo atravessa, os países também enfrentam uma “pandemia tecnológica, onde marginais fazem uso das redes sociais para atacar os seus alvos”.

“Não é possível que uma pessoa entre numa rede social, abra uma conta de telemóvel com um cartão falso, muitas vezes em nome de pessoas que já morreram, e o habilite numa conta nas redes sociais, para disparar notícias contra a comunidade brasileira”, disse.

As ‘fake news’ “não visam apenas a política, mas também a parte social. A nossa sociedade está a ser destruída e precisamos de conter esse mal, caso contrário, poderemos entrar numa terceira guerra mundial, mas desta vez será digital”, advogou o senador, abordando a realidade brasileira.

Para travar a disseminação de notícias falsas no Brasil, que, segundo especialistas, foram fulcrais na decisão das eleições presidenciais de 2018, em que Jair Bolsonaro saiu vencedor, a CPMI tem entrado em contacto com várias redes sociais, como Facebook, Instagram e Twitter, para que, em conjunto, travem “conteúdos duvidosos”, com o senador a garantir que não se trata de censura.

“Em relação ao WhatsApp, eu apresentei um projeto de lei para que os cartões de telemóvel só possam ser habilitados no Brasil com a presença física do utilizador numa loja da empresa telefónica. Hoje, aqui, é possível habilitar o cartão através da internet, o que faz com que existam muitos perfis falsos, de pessoas que já morreram”, explicou.

O presidente da CPMI indicou ainda dados de uma investigação que dá conta que em cada 10 notícias falsas que circulam nas redes sociais, os brasileiros acreditam em sete, o que mostra a vulnerabilidade da informação nos dias de hoje, com “mentiras a transformarem-se em verdade”.

“Quem se utilizou dessas notícias falsas nas eleições de 2018, com certeza foi muito beneficiado. Neste momento não posso julgar que foi o mais beneficiado, se Bolsonaro ou se os outros candidatos. Contudo, as suposições e denuncias levam a crer que o atual Presidente foi quem mais ganhou com o disparo de mensagens em massa, principalmente pelo WhatsApp”, afirmou Coronel.

Com eleições municipais agendadas para outubro deste ano, a CPMI já começou a notar o surgimento de informação falsa, o que levou a comissão a agir e a implementar uma aplicação móvel que permite a denúncia, em tempo real, de conteúdo duvidoso recebido através das redes sociais.

A pandemia do novo coronavírus obrigou a uma paragem nos trabalhos de audição e investigação da CPMI. Porém, com o adensar da crise de saúde no país, também o conteúdo falso em torno da covid-19 foi crescendo, o que levou a Comissão atuar, mesmo que virtualmente.

“Quando tivemos a vacinação para o Sarampo, descobrimos canais no YouTube que divulgavam matérias contra essa vacinação. Comunicamos isso ao Google, para que esses canais fossem retirados do ar. Queremos agora fazer a mesma coisa em relação ao coronavírus. Queremos que as nossas investigações cheguem a essas plataformas, e que esses canais sejam desativados. No Brasil, felizmente, as plataformas digitais têm contribuído e até mensagens do Presidente da República foram excluídas pelo Twitter”, concluiu o senador.

Em entrevista à Lusa, Angelo Coronel deu detalhes de um suposto grupo de disseminação de notícias falsas, conhecido como “gabinete do ódio”, instalado numa sala ao lado do gabinete do Presidente, Jair Bolsonaro, em Brasília, com “várias máquinas e pessoas a trabalhar” no disparo em massa de ‘fake news’, principalmente através da plataforma de mensagens WhatsApp.

Questionado se acredita que Bolsonaro tenha conhecimento da existência e trabalhe em conjunto com o “gabinete do ódio”, o senador afirmou ser “difícil confirmar”, mas advogou que o Presidente “não é tão inocente para deixar esse ato passar despercebido”.

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