Ex-presidente do BPN diz que presidente do Banco de Portugal ocultou informação

“O governador, sabendo muito mais do que nós, esperava que tivesse tido o gesto de me chamar e de me dar uma palavra sobre o modo como o grupo estava e os problemas que eu iria encontrar”, afirmou.

Da Redação Portugal Digital

Manuel de Almeida/Lusa Portugal

>> Carlos Santos, da área de supervisão do Banco de Portugal, fala na comissão de inquérito parlamentar sobre o caso BPN na Assembleia da República, Lisboa, 20 Janeiro 2009.

O ex-presidente do BPN-Banco Português de Negócios, Miguel Cadilhe, acusou, em 15 de janeiro, o governador do Banco de Portugal de ter agido sem frontalidade ao não o prevenir da situação crítica em que se encontrava aquele banco.

No âmbito da discussão parlamentar sobre a nacionalização do BPN, decidida pelo governo do primeiro-ministro José Sócrates, Cadilhe disse que se tivesse sido informado pelo Banco de Portugal da situação em que se encontrava o BPN não teria aceitado a presidência do conselho de administração.

“Antes da posse telefonei ao senhor governador (do Banco de Portugal, Vítor Constâncio), dizendo que estava a ponderar o convite [para liderar o BPN]. Constâncio disse que se aceitasse ficaria muito satisfeito”, mas que só poderia reunir com Cadilhe depois da eleição. “O governador, sabendo muito mais do que nós, esperava que tivesse tido o gesto de me chamar e de me dar uma palavra sobre o modo como o grupo estava e os problemas que eu iria encontrar”, afirmou Miguel Cadilhe, citado pelo Jornal de Negócios.

“O BdP tinha o dever de evitar que uma nova administração entrasse no BPN”, disse Cadilhe à Comissão Parlamentar de Inquérito.

Vítor Constâncio “tinha condições e poderes para intervir, mandando fazer uma auditoria, designando o auditor e substituindo a administração, no todo ou em parte”, considerou o ex-presidente do BPN.

Ainda de acordo com Cadilhe, quando a nova administração do BPN reuniu com o o governador do Banco de Portugal, "ele disse-nos que a situação era preocupante, mas não nos disse o que viemos a detectar pelas auditorias".

Cadilhe revelou ainda que as cartas entre BdP e o seu antecessor, Abdool Vakil, sobre Banco Insular, só diziam que havia activos de 600 milhões de euros, 400 milhões fora de balanço e 200 milhões no balanço. "Mas não falava em perdas", revelou.

Cadilhe reiterou a sua oposição à nacionalização do BPN. Segundo disse, a medida vai penalizar os contribuintes, ao contrário da sua proposta, que até remunerava o capital público.

“A primeira vez que se estava a levantar as imparidades, que se estava a chamar as pessoas às suas responsabilidades, que se estavam a travar as práticas ilícitas. Quanto tudo isto estava a acontecer, vem o Governo e lança a bomba atómica”, disse Cadilhe aos parlamentares de comissão parlamentar de inquérito da Assembleia da República.

"A nacionalização foi uma operação com fundamento político. Seria sempre uma decisão política. Mas há decisões políticas com fundamento económico e financeiro, que não vejo ter havido na nacionalização do BPN", avaliou.

"Não vimos fundamento econômico para a nossa proposta ser rejeitada. O ministro das Finanças disse que a nossa proposta se pendurava no dinheiro dos contribuintes, mas ela remunerava o capital público. A nacionalização é que se pendura no dinheiro dos contribuintes”, comentou. 

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