Europa está menos atrativa para imigrantes ilegais

Portugueses lançam uma ação social para vítimas da crise. Um grupo de instituições portuguesas apresentou a campanha "País Solidário", que começa com um milhão de euros e ocorre até o final do ano para ajudar famílias mais atingidas pela crise e desemprego.

Mundo Lusíada Com Lusa

Expresso das Ilhas/Lusa Portugal

>> Dois imigrantes ilegais viajaram durante três dias na manga do leme de um navio de carga que esta semana chegou a Cabo Verde, numa posição em que correram risco de vida permanente, Cidade da Praia, 17 de julho de 2008.

A crise econômica vai tornar a Europa em 2009 menos atrativa para os cidadãos de países de fora do bloco europeu que pretendem imigrar clandestinamente para trabalhar nos Estados-membros, segundo a organização que coordena a gestão das fronteiras externas da União Européia.

Em entrevista à Agência Lusa, o diretor-adjunto da Agência Européia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros da União Européia (Frontex), Gil Árias Fernández, afirma que Portugal está fora dos grandes fluxos de ilegais e deve preocupar-se, sobretudo, com os imigrantes que chegam aos seus aeroportos. A situação de Portugal é diferente de Espanha, Itália e Grécia, que lutam contra a chegada de ilegais às suas fronteiras terrestres e marítimas.

"Pensamos que a crise financeira vai fazer com que haja um incremento dos ilegais dentro dos 27 e uma diminuição dos fluxos de clandestinos do exterior", disse Fernández. Ele explica que, devido à crise, muitos estrangeiros que hoje estão morando e trabalhando legalmente nos países da UE irão perder o emprego, assim como a autorização de residência, passando a ser "ilegais".

A crise também fará diminuir as oportunidades de trabalho, um elemento que irá "desencorajar" a vinda de imigrantes para a Europa.

Segundo dados divulgados pelas autoridades espanholas, o número de imigrantes clandestinos chegados a Espanha diminuiu mais de 25% em 2008. A tendência de redução é fruto do reforço do dispositivo europeu de controle marítimo, coordenado pela Frontex, assim como da cooperação internacional em matéria de asilo, principalmente da Seahorse, uma rede de troca de informação via satélite entre Espanha, Portugal, Mauritânia, Senegal e Cabo Verde. Mesmo as preocupações de prevenção que inicialmente iam até Cabo Verde têm diminuído na escala de prioridades da Agência.

Para ele, Portugal está fora dos grandes fluxos de imigração ilegal. O trajeto desde a costa africana até Portugal é muito longo e os imigrantes, para alcançarem o litoral luso, teriam que sair do Marrocos, o que não acontece, já que as autoridades marroquinas estão atentas e cooperam com os europeus.

"Hoje em dia o problema para Portugal é, sobretudo, pela via aérea", afirma Fernandez, acrescentando que, mesmo assim, "não é uma questão que deva preocupar as autoridades portuguesas", porque o número de imigrantes é "pouco significativo" (cerca de 7%) quando comparado com o geral.

Ação social lusa para vítimas da crise Um grupo de instituições portuguesas apresentou a campanha de solidariedade "País Solidário", que começa com um milhão de euros (R$ 3,079 milhões no câmbio atual) e ocorre até o final do ano para ajudar as famílias mais atingidas pela crise e pelo desemprego.

Rui Vilar, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, a quem coube a apresentação da iniciativa, classificou-a como "um ato de solidariedade da sociedade civil, que visa dar resposta a algumas situações de pobreza que se têm intensificado em Portugal".

Numa fase inicial, o "País Solidário" vai incidir em quatro áreas "mais afetadas pela crise e pelo desemprego", segundo o presidente: as regiões do Grande Porto, Vale do Ave, Península de Setúbal e municípios do Tâmega. O objetivo é ampliar a ação a todas as áreas carentes do país.

"Estas quatro áreas iniciais foram escolhidas porque apresentam altos indicadores de precariedade familiar", de acordo com Rui Vilar, "com muitas famílias cujos membros perdem rendimentos, porque ficam desempregados, e têm a seu cargo, muitas vezes, crianças ou idosos".

Para o desenvolvimento das diversas ações esta campanha conta com a participação de três instituições de solidariedade social que tratarão de receber os pedidos de ajuda e averiguar quais as famílias mais carentes, que mais urgentemente precisam de apoio.

Assim, a Cáritas Portuguesa trabalhará de forma mais presente na área do Grande Porto e da Península de Setúbal, a Cruz Vermelha Portuguesa irá ocupar-se da zona de Vale do Ave e a Federação dos Bancos Alimentares contra a Fome irá contribuir com diversos apoios alimentares. "Toda a campanha vai funcionar sem custos estruturais e vai haver também um apoio específico na área da Educação, já que as famílias vão ter 50% de apoio nos custos com a educação dos seus filhos".

Já o presidente da Fundação EDP, Francisco Sánchez, defendeu que "todas as pessoas terão a oportunidade de participar ativamente nesta campanha e que só com os seus contributos será possível chegar a cada vez mais pessoas carenciadas". A campanha está sendo promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação EDP, Fundação Millenium BCP, Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, RTP, SIC, TVI, AR Telecom e Mr.NET. O "País Solidário" tem um número de telefone para contribuição, uma conta bancária e um site na Internet: www.paissolidario.org.

Bancos perdem e taxa de desemprego nos 10% A taxa de desemprego na União Européia (UE) e nos Estados Unidos irá atingir os 10%, neste ano, de acordo com declarações do secretário geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurria. “Não há precedentes [desta situação]; não vemos isto há muitas décadas”, disse Gurria em entrevista à televisão italiana.

A OCDE prevê uma contração entre 4,2% e 4,3% para os países mais industrializados do mundo. As últimas estimativas, apresentadas em novembro, apontavam para uma contração de 0,3%. “Um pacote de estímulos modesto não é suficiente, devido ao abrandamento, a recessão econômica foi muito mais profunda do que pensamos, por isso precisamos mais para sair desta recessão”, afirmou.

“Alguns países, como os EUA, estão a puxar mais, por que estão a fazer esforços muito grandes”, bem como a China, mas “eles não podem carregar toda a gente nos ombros; eles precisam que toda a gente o faça, e o resto do mundo tem capacidades diferentes para fazer esta expansão fiscal”, disse o secretário-geral da OCDE.

Em Portugal, a taxa de desemprego calculada pelo gabinete de estatística europeu, a Eurostat, aumentou para 8,3%, com um aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao mês anterior, mantendo a tendência de subida iniciada em novembro. Na UE, a taxa de desemprego estabeleceu-se em fevereiro nos 7,9% contra 7,7% no mês anterior. De acordo com o Eurostat, 19,156 milhões de homens e mulheres estavam sem trabalho na UE-27, dos quais 13,486 milhões na zona do euro. Em comparação a janeiro, o número de desempregados aumentou em 478 mil na UE-27, dos quais 319 mil na zona do euro.

Já os lucros dos bancos a operar em Portugal registraram queda de 400 milhões de euros, em 2008, o que representa perda de 16,5% face ao período homólogo, de acordo com dados da Associação Portuguesa de Bancos (APB). No total, os bancos em Portugal registraram lucros de 2,051 bilhões de euros, em 2008, o que significa queda de 16,5%, comparando com os 2,455 bilhões de euros obtidos em 2007.

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