Empresas brasileiras financiam-se em Portugal, diz Câmara

Da Agencia Lusa

As empresas brasileiras usam Portugal como base para se internacionalizarem na África e na Europa, além de como fonte de financiamento, que tem custo alto no Brasil, defende o presidente da Câmara de Comércio Luso-Brasileira, Antônio Bustorff.

Na véspera da 11ª cúpula Luso-Brasileira, que acontece nesta terça-feira, 28 de outubro em Salvador, Bustorff disse que a internacionalização das empresas brasileiras passa estrategicamente pela busca de oportunidades no exterior, mas também pelo acesso a recursos financeiros mais baratos, "que é uma questão ainda crítica no mercado brasileiro".

Assim, por meio da instalação de unidades em outros mercados, sobretudo no português, as empresas "conseguem financiar as atividades nos países destino e mesmo no Brasil. Ou seja, usam a capacidade de alavancagem no exterior para financiar a sua expansão no próprio território".

O custo desse financiamento no Brasil é muito mais alto que nos mercados para onde se expandem, explicou Antônio Bustorff, acrescentando "que no Brasil tem havido uma carência muito grande de recursos de longo prazo".

Influência brasileira Apesar de em menor número que as empresas portuguesas no Brasil, várias companhias brasileiras têm continuado a apostar em Portugal, especialmente na área de construção e obras públicas, aviação, siderurgia, finanças e, recentemente, no software de gestão empresarial.

"O peso mais relevante em termos históricos vai para o setor da construção e das obras públicas. Há duas empresas brasileiras em Portugal, aliás, empresas lusas adquiridas por grandes empreiteiras brasileiras – o Grupo Odebrecht e o Grupo Andrade Gutierrez – que adquiriram respectivamente a Bento Pedroso Construções e a Zagope", explicou Antônio Bustorff.

Sob a gestão da Odebrecht desde 1988, a Bento Pedroso Construções esteve envolvida em empreendimentos como a ponte Vasco da Gama, a Barragem do Alqueva e a Gare do Oriente, bem como as obras do metrô de Lisboa, da ponte do Carregado.

Já a Zagope, que também participou na ponte Vasco da Gama, faz parte do consórcio Elos – Ligações de Alta Velocidade, que é liderado pela Brisa e Soares da Costa, para a construção do primeiro trecho do trem de alta-velocidade Lisboa-Madrid.

Este projeto volta a juntar as duas principais empreiteiras brasileiras em Portugal, já que o grupo Elos integra também a Bento Pedroso.

Na siderurgia, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) adquiriu em 2003 a Lusosider Aços Planos.

A CSN tem negociado nos últimos anos com o governo um pacote de investimentos em Portugal que pode chegar a 1 bilhão de euros (R$ 2,94 bilhões) e que, se for concretizado, fará da Lusodier a segunda maior exportadora industrial portuguesa.

No campo da aeronáutica, a quarta maior fabricante mundial de aviões, a Embraer, está integrada no consórcio vencedor da privatização da OGMA.

Além disso, em setembro foram aprovados contratos de investimento para construir duas fábricas em Évora, sul de Portugal, num investimento avaliado em 170 milhões de euros (R$ 499 milhões).

Internacionalização Antônio Bustorff frisou também a entrada em Portugal, no final do ano passado, da Totvs, fabricante de softwares cotada na Bolsa de São Paulo (Bovespa) e que escolheu Lisboa para iniciar as suas operações na Europa.

A primeira unidade desenvolve software de gestão e está focada inicialmente nos mercados de Portugal e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), com uma carteira de 18 clientes em Portugal e seis em Angola.

"A aproximação tende a aumentar", considerou Antônio Bustorff. "Há esta rede de pequenas e médias empresas (PME) que vão dar consistência às relações econômicas. É a malha de interesses das PME que dá densidade no tempo a essas relações", concluiu.

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