Desemprego: Portugueses continuam a encarar o estrangeiro como solução

País entra em 2011 com mais de 600 mil desempregados. Há 30 anos que não se verificava um número tão elevado e os especialistas estimam que aumente.

Da RedaçãoCom agências

A crise internacional está a causar uma desaceleração dos fluxos migratórios desde 2008, com os tradicionais destinos da emigração a enfrentarem problemas de emprego e dificuldades em absorver trabalhadores portugueses, que continuam porém a encarar o estrangeiro como solução.

É neste sentido que apontam os dados mais recentes do Observatório da Emigração, que antes desta data indicavam a saída de 70 a 80 mil portugueses por ano.

Rui Pena Pires, Coordenador do Observatório em declarações recentes à agência Lusa, lembrou que não há contudo dados fiáveis já que as saídas do país não são controladas.

O boletim de estatísticas demográficas do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicado em novembro, estima que em 2009 tenham deixado Portugal 16.899 pessoas, contra as 20.357, em 2008.

Destas, 10.409 teriam como destino outro país da União Europeia e 6.490 um país terceiro. “Com exceção de Angola”, tem havido “uma quebra” desde 2008, porque “os destinos prioritários de emigração portuguesa” – Espanha e Reino Unido – registraram um aumento do desemprego e deixaram de ter capacidade para “absorver emigrantes portugueses ao ritmo que estavam a ser absorvidos”, explicou o sociólogo.

Rui Pena Pires rejeitou a ideia de que a crise esteja a gerar uma onda de emigração semelhante à dos anos sessenta, sublinhando que o “crescimento para números próximos dessa década é anterior à crise e não consequência da crise. A crise veio travar este movimento”.

A contrastar com esta leitura, o Diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Frei Francisco Sales Diniz, disse que continuam a ir muitos emigrantes portugueses para a Europa, a maioria jovens qualificados sem oportunidades profissionais em Portugal. Suíça, Luxemburgo, Reino Unido e França são os principais destinos embora seja difícil quantificar devido à não inscrição dos emigrantes nos Consulados.

Também Álvaro Santos Pereira, investigador da universidade canadiana Simon Fraser, sustenta que há uma nova vaga de emigração portuguesa.

Santos Pereira apoia-se em indicadores preliminares que revelam que a emigração continuou a evoluir em 2009, perante a crise econômica e financeira e o elevado desemprego.

Como exemplo apontou o caso de Angola, em que o número de vistos para portugueses mais do que duplicou de 2008 para 2009, passando de cerca de 20 mil para 46 mil.

Por seu lado, Jorge Arroteia, Coordenador da Academia Virtual da Emigração – Emigrateca, acredita que a situação atual do país gerará “um acréscimo dos fluxos emigratórios, a menos que a situação na Europa e noutros destinos de emigração, o não venha a permitir”.

Engrácia Leandro, da Universidade do Minho, considera que no contexto atual “a emigração pode afigurar-se um recurso muito plausível”. A catedrática de Sociologia alerta para o fato de estarmos longe do período dourado da emigração portuguesa. “Não vivemos hoje em ‘anos gloriosos’ como acontecia nos anos 1960 e 1970 em que se fazia insistentemente apelo à emigração (…), o que não é o caso atualmente, em que se procura por todos os meios fechar as portas”.

Ainda assim, acredita que não será por isso que os desempregados portugueses “deixarão de estar à espreita (…) das melhores oportunidades”.

 

2011: 600 mil desempregados  

Portugal chega a 2011 com mais de 600 mil desempregados, o nível mais alto em cerca de 30 anos, mas os economistas estimam que a trajetória de subida do desemprego ainda demore mais algum tempo a passar.

Depois de um ano difícil, com os sinais de recuperação da economia ainda fracos (o PIB avançou 0,3% no terceiro trimestre face ao anterior), e sendo o mercado de trabalho habitualmente o último a recuperar de um período de crise, as perspectivas para 2011 não são ainda otimistas.

De acordo com os últimos valores divulgados pelo INE, a taxa de desemprego em Portugal atingiu os 10,9% no terceiro trimestre de 2010, agravando-se dos 9,8% observados em igual período do ano passado.

 

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