Deputadas portuguesas são alvo de ameaças dirigidas ao SOS Racismo

Mundo Lusíada
Com Lusa

As deputadas do Bloco de Esquerda Beatriz Dias e Mariana Mortágua, a deputada não inscrita (ex-Livre) Joacine Katar Moreira e mais sete ativistas são visados num email contendo ameaças dirigido ao SOS Racismo.

“Informamos que foi atribuído um prazo de 48 horas para os dirigentes antifascistas e antirracistas incluídos nesta lista, para rescindirem das suas funções políticas e deixarem o território português”, lê-se no e-mail em causa, divulgado pela Lusa.

No e-mail, refere-se que se o prazo for ultrapassado “medidas serão tomadas contra estes dirigentes e os seus familiares, de forma a garantir a segurança do povo português” e que “o mês de agosto será o mês do reerguer nacionalista”.

Com data de 11 de agosto, a mensagem de correio eletrônico foi enviada a partir de um endereço criado num ‘site’ de e-mails temporários para o SOS Racismo, e é assinada “Nova Ordem de Avis” – Resistência Nacional”.

O Ministério Público instaurou um inquérito-crime na sequência das ameaças via e-mail e depois da autoproclamada “Nova Ordem de Avis – Resistência Nacional” ter feito uma vigília junto à associação.

“Confirma-se a instauração de inquérito, no âmbito do qual serão investigados todos factos que vieram a público nos últimos dias”, respondeu a Procuradoria-Geral da República à agência Lusa.

Antes, comentando o assunto, o Presidente de Portugal recomendou aos democratas “tolerância zero” e “sensatez” para combater o racismo, ao comentar as ameaças de que foram alvo três deputadas e outros sete ativistas.

“Os democratas devem ser muito firmes nos seus princípios e, ao mesmo tempo, ser sensatos na sua defesa. Firmes nos princípios significa uma tolerância zero em relação àquilo que é condenado pela Constituição [da República Portuguesa], sensatez significa estar atento às campanhas e escaladas que é fácil fazer a propósito de temas sensíveis na sociedade portuguesa”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

“É tão condenável uma atuação racista que tenha contornos criminosos contra deputados como contra qualquer cidadão português. Não há cidadãos de primeira e de segunda. Evidente que, sendo contra titulares do poder político, ganha outra dimensão”, continuou.

Para Rebelo de Sousa, há que “perceber a utilização, instrumentalização e manipulação desses temas, que tem sido, noutros países, uma forma de radicalizar a vida política e promover fenômenos antissistêmicos e debilitar a democracia”.

“Temos de saber responder a esse tipo de desafios com inteligência: não fazer aquilo que quem promove esse tipo de escalada pretende que seja feito, que é criar um clima emocional de clivagem na sociedade portuguesa”, defendeu, frisando também a necessidade de “apoiar a atuação das autoridades encarregadas de fazer Justiça, neste caso o Ministério Público.

Partidos

A vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Constança Urbano de Sousa, considerou “intoleráveis” as ameaças de que foram alvo três deputadas e outros sete ativistas e defendeu a necessidade de “aplicar com determinação” as leis existentes.

“Este tipo de acontecimentos são intoleráveis na sociedade portuguesa. Nós já temos um quadro legislativo exigente e robusto e este tipo de situações deve ser rapidamente investigada pelas autoridades competentes”, salientou a deputada socialista.

O líder do CDS-PP condenou qualquer tipo de ameaça de caráter racista, considerando que o discurso de extrema-direita é alimentado pelos movimentos de extrema-esquerda e criticou a “normalização” de “discursos bárbaros” por “alguns partidos”.

“Nos últimos tempos alguns partidos têm infelizmente insistido em normalizar e acomodar discursos bárbaros e investido numa guerrilha extremista no seio da nossa vida política e comunitária. O resultado está à vista”, criticou Francisco Rodrigues dos Santos, numa nota enviada às redações e publicada nas redes sociais.

Para o líder do CDS-PP, “grupelhos de extrema-direita – alimentados pelo discurso radical de sinal contrário dos movimentos de extrema-esquerda – com as suas agendas racistas, xenófobas e violentas, não podem ser tolerados em Portugal”.

Francisco Rodrigues dos Santos aditou ainda que “uns e outros, que instrumentalizam estes fenômenos para sua afirmação, apesar de representarem uma franja ultra-minoritária da nossa sociedade” devem ser “corajosamente reprimidos e censurados”.

Também Luís Newton, presidente do PSD-Lisboa, defendeu que atos de racismo “são intoleráveis seja contra quem forem praticados”. O social-democrata defende que “não podemos permitir que no nosso país se propaguem discursos de ódio e manifestações como as que vimos no sábado em Lisboa, à porta da SOS Racismo”.

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