Acordo com Grécia não pode ser encarado “como uma humilhação”, diz Passos

Passos assegurou que “Portugal manteve uma atitude construtiva” nas negociações e apontou que foi uma ideia sua que ajudou a desbloquear o último obstáculo.

 

Mundo Lusíada
Com Lusa

PassosCoelho_PrimeiroMinistroO primeiro-ministro português considerou que “o acordo de princípio” alcançado com a Grécia, após uma maratona negocial em Bruxelas, “é equilibrado” e rejeitou a ideia de que Atenas tenha sido alvo de ameaças ou humilhação.

Numa conferência de imprensa no final de uma cimeira da zona euro que terminou em 13 de julho de manhã, depois de 17 horas, com um compromisso sobre um terceiro “resgate” à Grécia em troca de uma série de condicionalidades, por muitos classificadas como “humilhantes” para Atenas, Pedro Passos Coelho disse que não vê “como possa ser encarado como uma humilhação” uma nova ajuda de “quase mais 86 mil milhões de euros, mais do que Portugal recebeu num só programa”.

O primeiro-ministro português apontou que, entre financiamentos anteriores, à luz dos dois anteriores programas de assistência e de dívida perdoada, “a Grécia terá recebido e visto perdoados mais de 400 mil milhões de euros”, a que acrescerão agora 86 mil milhões de euros, pelo que tal só pode ser visto como “uma ação responsável e solidária” dos parceiros de Atenas.

Quanto ao fantasma de uma expulsão da Grécia da zona euro, o chamado “Grexit”, apontou que, de fato, “durante a reunião do Eurogrupo não deixou de se considerar a possibilidade de uma saída da Grécia da zona euro se um acordo não fosse encontrado”, mas considerou que tal não pode ser considerado uma ameaça, mas antes “uma constatação de uma consequência natural se não existisse um acordo”, já que, nesse caso, a Grécia “não teria condições de permanecer” no espaço monetário único.

Passos Coelho assegurou que “Portugal manteve sempre uma atitude muito construtiva” nas negociações com a Grécia e apontou que foi inclusivamente uma ideia sua que ajudou a desbloquear o último obstáculo. “Devo dizer até que, curiosamente, a solução que acabou por desbloquear o último problema que estava em aberto, que era justamente a solução quanto à utilização do fundo [de privatizações], partiu de uma ideia que eu próprio sugeri. Quer dizer que até tivemos, por acaso, uma intervenção que ajudou a desbloquear o problema”, disse em conferência de imprensa.

Segundo Passos Coelho, foi Portugal que sugeriu que, do valor de 50 mil milhões de euros do fundo, “25 mil milhões pudessem ser utilizados para, de certa maneira, poder privatizar os bancos que estão agora a ser recapitalizados” e que, “acima desse valor, se pudesse então fazer uma utilização quer para abater à divida publica, quer para se poder financiar o crescimento em partes iguais”.

“Foi justamente uma ideia que eu sugeri e que verifico que acabou por ser utilizada pelos negociadores com o primeiro-ministro grego”, Alexis Tsipras, indicou. E acredita que o Governo grego vai realmente honrar o compromisso acordado com os parceiros e não aproveitar o primeiro pretexto para novos jogos políticos.

“Acho que este acordo mostra que é necessário, era necessário e continua a ser necessário recuperar a confiança entre todos aqueles que estavam a negociar. Eu recordo que as últimas negociações foram abandonadas pelo Governo grego, que decidiu convocar um referendo e deixar, portanto, todos aqueles que estavam a procurar um acordo nas negociações a falar sozinhos”, disse Pedro Passos Coelho.

Em conferência, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirma que chegou-se a um acordo que permitirá “à Grécia manter-se de pé”. “Lutamos duramente até ao fim”, declarou Tsipras, mas foi evitada a “transferência de ativos gregos para fora do país”, uma vez que foi levantada a hipótese de estes ativos serem transferidos para o Luxemburgo.

“Enfrentamos dilemas difíceis e tivemos que fazer difíceis concessões para evitar a aplicação dos planos de alguns círculos ultraconservadores europeus”, disse Tsipras no final da cimeira da zona euro, depois de alcançado um acordo sobre a Grécia

“Evitamos o colapso do sistema bancário” e “conseguimos uma vitória na reestruturação da dívida e no financiamento de transição”. Contudo, a Grécia terá um período de carência mais longo e prazos mais dilatados para reembolsar a dívida.

Programa impossível
Antes, no fim de semana, Passos Coelho declarou que várias vezes se sentiu “muito próximo do abismo”, de não achar possível conseguir alcançar os resultados indispensáveis a Portugal. O primeiro-ministro defendeu que Portugal tem autoridade dentro da zona euro porque concluiu um programa de resgate “quase impossível”, que tinha metas orçamentais “incumpríveis”, tendo estado à beira de “uma falência de crédito”.

O chefe do executivo PSD/CDS-PP apontou, em particular, as metas fixadas para a redução do déficit: “Na verdade, estes objetivos eram incumpríveis. Nenhum destes objetivos era alcançável pelos meios naturais que estavam previstos no programa de ajustamento”. “Os objetivos orçamentais eram absolutamente irrealistas e só foram cumpríveis em 2011, como se recordam, graças a medidas de caráter absolutamente extraordinário”, acrescentou.

Segundo o primeiro-ministro, o programa de resgate “foi sendo flexibilizado nas suas metas, à medida que o país foi mostrando capacidade para cumprir a suas responsabilidades e os seus compromissos”.

Golpe de Estado
Para a porta-voz do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, a cimeira da zona euro foi “um verdadeiro golpe de Estado”, considerando o acordo de princípio para um novo resgate uma imposição do estilo “colonialista”.

Catarina Martins disse que aquilo a que se assistiu durante a cimeira da zona euro, iniciada domingo à tarde e que terminou pela manhã com um acordo de princípio para um resgate para três anos, “não foi um acordo, foi uma imposição”.

Segundo ela, a cimeira “foi um verdadeiro golpe de Estado, que põe em causa o próprio regime da União Europeia”, sublinhando que “a democracia foi completamente varrida do mapa para dar lugar a imposições do estilo colonialista”.

Essas mesmas “imposições”, disse, “põem em causa a sobrevivência da União Europeia”, frisou a porta-voz do BE, que falava aos jornalistas em Coimbra, voltando a dizer que se a moeda única na Europa apenas significa “austeridade então a moeda única não interessa” constatou, escusando-se a dizer se o Governo grego deveria ter recusado ou não o acordo.

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