No Rio, a “Feira do Podrão” celebrou a comida popular brasileira

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Da Redação
Com EBC

Não é incomum que turistas em visita ao Rio de Janeiro se surpreendam ao ouvir um carioca dizer que vai comer um “podrão”. A gíria, amplamente disseminada entre os moradores, pode soar estranho mas, na verdade, diz respeito a alimentos que fazem parte da cultura e do dia-a-dia de algumas capitais brasileiras, como muito consumida em São Paulo. Trata-se da comida rápida oferecida nas ruas por vendedores ambulantes.

Do cachorro-quente na saída do trabalho ao “x-tudo” na porta de cinemas e boates, as guloseimas muitas vezes são incrementadas com uma imensa variedade de ingredientes: batata palha, milho verde, ervilha, azeitona, ovo de codorna, etc. Os “podrões” existem espalhados pela cidade, seja de maneira dispersa em bairros mais periféricos, ou de forma concentrada em áreas de movimentação noturna de jovens, como a região da Lapa, no centro do Rio.

Para celebrar essa gastronomia popular, a Feira Nacional do Podrão reuniu, dias 11 e 12, diversos vendedores em um só lugar.

No Terreirão do Samba, no centro da cidade, milhares de pessoas tiveram a oportunidade de experimentar alimentos produzidos em mais de 30 barracas. Elas traziam uma variedade significativa de alimentos, entre os quais sanduíches, cachorro-quente, tapioca, churrasquinho, pizza, yakisoba, esfirra, batata-frita, coxinha, churros e açaí.

Os preços de cada “podrão” variavam de R$ 3 a R$ 40. Foram oferecidos desde lanches individuais até os que podiam ser compartilhados por toda uma família.

O público também pôde manifestar suas preferências por meio de voto popular e, ao final, o Açaí Tumucumaque foi premiado como o “podrão mais gostoso”.

Podrão exêntrico
A Delicoxinha foi, apontada como o “podrão mais excêntrico” devido à sua coxinha de um quilo. A Batata de Marechal, mesmo tendo exigido paciência dos interessados, que enfrentaram extensa fila, teve o reconhecimento de estabelecimento com o melhor atendimento. A menor porção da batata, cuja fama já ultrapassa os limites do bairro de Marechal Hermes, serve bem quatro pessoas. Os vendedores responsáveis por cada um dos três premiados receberão uma quantia de R$ 2 mil.

A Feira Nacional do Podrão foi idealizado por Suzanne Malta e Natália Alves, responsáveis pelo blog Onde Comer no Rio. “Nossa ideia era valorizar essa comida de rua de raiz e fazer um evento que fosse um pouco na contramão da ‘gourmetização’. A gente tem visto, em muitos eventos, os espaços sendo dados apenas aos vendedores dos chamados hambúrgueres artesanais. E o “podrão” tem o seu valor, tem preços bem acessíveis e são bem fartos”, disse Suzanne.

O evento chegou à sua segunda edição após o sucesso da primeira, realizada em março na sede do Sindicato de Telefonia do Rio de Janeiro (Sinttel), na Tijuca. Com o apoio da prefeitura, a iniciativa foi deslocada para o Terreirão do Samba. A programação também contou apresentações circenses e shows dos grupos Intimistas e Revelação. Além disso, a área infantil fez do evento uma boa opção para um programa em família.

O acesso à feira se dava mediante a aquisição de um ingresso de R$ 5 e a doação de um quilo de alimento não perecível. O projeto das organizadoras é que o evento entre de vez no calendário da cidade do Rio de Janeiro e seja realizado uma ou duas vezes por ano.

“A curadoria foi na rua. Fomos aos bairros, experimentamos. Também recebemos indicações pelas das redes sociais e fomos conhecer. Os selecionados tiveram uma palestra de empreendedorismo junto ao Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas]. Eles receberam diploma de vigilância sanitária. Fizemos um trabalho completo. Não foi apenas reuni-los aqui para vender produtos e ganhar dinheiro. Houve uma campanha de preparação do evento”, afirmou Natália. Segundo ela, os selecionados são de diversas regiões, mas há uma maior prevalência de barracas provenientes da zona norte. Além disso, há ainda alguns vendedores de outros municípios da região metropolitana e um de Angra dos Reis, o Los Praianos, que comercializa paletas mexicanas.

Algumas iguarias foram preparadas especificamente para o evento. É o caso da pizza de costela da Mano Pizza, de Queimados, município da Baixada Fluminense. A inovação foi bem sucedida, segundo a vendedora Aurilane Sena. Ela também aprovou o evento. “Estamos tendo contato com pessoas diferentes, gostos diferentes. Recebemos dicas de um moça da Bahia que nos acrescentou bastante e que vou levar em consideração”, ressaltou.

Para a advogada Nida Reis e sua filha, o evento se tornou uma oportunidade de programa familiar. Elas dividiram um sanduíche e escolheram um lanche para levar para o sobrinho que aguardava em casa. A advogada destacou as particularidades dos alimentos de cada região do Rio de Janeiro. “Tem diferença. Nós moramos em Copacabana e por lá atualmente só tem hamburgueria artesanal. Geralmente os lanches são caros. E aqui temos várias opções de podrões, que é bem mais barato e muito saboroso”, elogiou.

O responsável pelo famoso açaí que faz sucesso em Cavalcanti, na zona norte do Rio, é Rodrigo Rafael. “Eu vendia doces na rua e um dia apareceu um trailer disponível para aluguel. Eu e minha mulher pensamos em vender açaí. O dono do trailer não acreditava que teria saída, mas mesmo assim decidimos tentar. Fui aprender a fazer e foi um sucesso. Ficamos três anos no trailer e hoje, graças a Deus, já estamos com uma loja. No verão, chegamos a vender 15 toneladas de açaí por mês. O nosso crescimento foi muito rápido”, celebrou. O Açaí Tumucumaque oferece algumas peculiaridades como o açaí na melancia e o açaí batido no liquidificador, que inclui frutas e chocolate e possui até 2 litros e meio para quem deseja compartilhar.

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