Etapa da Volta a Portugal “devia ter sido anulada” diz ciclista espanhol

Mundo Lusíada
Com Lusa

O espanhol Gustavo Veloso (W52-FC Porto) considerou que a segunda etapa da Volta a Portugal em bicicleta devia ter sido anulada, devido ao intenso calor sentido na ligação entre Beja e Portalegre.

“Para proteger a saúde dos ciclistas, a etapa de hoje tinha de ser anulada. Sair para fazer 100 quilômetros ou 200 é a mesma coisa. A temperatura está igual do início até ao fim”, referiu Veloso no dia 03, no final dos 203,6 quilômetros da tirada.

Considerando que se esteve “a fazer ciclismo na sauna”, o duas vezes vencedor da Volta disse que “todos os ciclistas do pelotão, do primeiro até ao último, são sobreviventes”.

“Quando há recomendações para não sair à rua e nós estamos a pedalar 200 quilômetros, só isso é significativo da dureza de hoje”, afirmou.

De acordo com Veloso, “cada ciclista bebeu 25 a 30 bidons”, o que equivale a cerca 15 litros de água, tendo o espanhol deixado um agradecimento aos bombeiros que ao longo da etapa foram refrescando os ciclistas.

O português Rafael Reis (Caja Rural) também aproveitou bem a água vinda das mangueiras dos bombeiros das várias corporações das localidades por onde passou a etapa e foi possível ver o camisa amarela, pelo menos uma vez, a parar à beira da estrada para se refrescar com os jatos de água.

“Estava com muito calor, ainda estava com mais do que quinta-feira e sabia bem parar debaixo da água que os bombeiros estavam a mandar e isso melhorava bastante”, referiu.

O espanhol Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano) disse que se devia pensar no que fazer numa etapa como estas, pois “este calor não faz muito bem”, considerando que, por vezes, se tratam os ciclistas “como se não fossem pessoas”.

O colombiano Victor Niño Corredor, o mais velho do pelotão, com 45 anos, disse que houve “muito calor” e as duas primeiras etapas foram “muito desgastantes”. “Há momentos que sentes que fogem as forças. Nunca corri com tanto calor como aqui”, admitiu.

No comunicado do final da etapa, a organização enalteceu a forma, “como munidos dos mais nobres valores desta exigente modalidade, abnegação, espírito de sacrifício e equipa”, os ciclistas e restantes membros da organização que “andaram mais desprotegidos” conseguiram “ultrapassar as enormes dificuldades provocadas pela temperatura extrema”.

A organização realçou ainda “o enorme espírito solidário de todas as corporações de bombeiros”.

Recordes

Os termômetros em Portugal continental atingiram na quinta-feira o segundo valor mais alto desde quando começaram os registros diários, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

A temperatura média de quinta-feira foi de 30,2 graus: para encontrar um valor mais alto é preciso recuar a 2 de agosto de 2003, quando a temperatura média foi 31,9 graus, de acordo com um comunicado divulgado pelo IPMA.

O valor da média das temperaturas máximas nas várias localidades do país atingiu 40,1 graus centígrados, “muito superior ao valor normal” para esta altura do ano, que é 28,8 graus, enquanto o valor médio das mínimas chegou aos 20,2 graus, acima dos 15,5 considerados normais.

A localidade de Mora, no distrito de Évora, e Alvega, no distrito de Santarém, registraram os valores mais altos, com 45,7 e 45,2 graus. Em mais de metade das estações meteorológicas, a temperatura foi superior a 40 graus. Em 90% das localidades superou os 35 graus. Só as estações do Cabo Carvoeiro e Santa Cruz, no Oeste, ficaram abaixo dos 30 graus.

Os dados são também citados num comunicado da Comissão Nacional de Proteção Civil, que se reuniu extraordinariamente esta sexta-feira, no primeiro de quatro dias de alerta devido às altas temperaturas, e concluiu que o sistema de prevenção e combate a incêndios tem respondido “com grande eficácia, desde logo, no ataque inicial às ocorrências registadas”.

Desde quinta-feira, só quatro incêndios rurais aumentaram de dimensão ao ponto de precisarem de ataque ampliado. Comparando com os valores dos dez anos mais recentes, em 2018 arderam até agora menos 85% da área e houve menos 36% de ocorrências.

O comandante operacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Duarte Costa, afirmou que o envolvimento e o “reforço da monitorização e vigilância” por parte da GNR, PSP, Forças Armadas e Instituto de Conservação da Natureza e Florestas tem sido chave para responder às solicitações, cerca de seis mil militares da GNR no terreno, 19 de 76 patrulhas das Forças Armadas em áreas críticas, e 51 equipes da PSP.

Os aviões de reconhecimento a sobrevoar o Alentejo e Algarve têm sido “fundamentais para a tomada de posições quanto ao posicionamento dos meios”. Por parte do Instituto Nacional de Emergência Médica, houve reforço de meios dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes.

A Comissão Nacional de Proteção Civil, presidida pelo ministro da Administração Interna junta todas as entidades que intervêm no sistema de proteção civil: ministérios com a tutela sobre defesa, justiça, ambiente, economia, agricultura e florestas, obras públicas, transportes, comunicações, segurança social, saúde e investigação científica, representantes dos municípios e freguesias, da Liga dos Bombeiros Portugueses e da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais.

Estão representadas também as Forças Armadas, GNR, PSP, PJ, Gabinete Coordenador de Segurança, Autoridade Marítima, Autoridade Aeronáutica e Instituto Nacional de Emergência Médica.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: