Ricardo Salgado confirma que avisou Durão Barroso sobre dificuldades do GES

Da Redação
Com Lusa

BancoEspiritoSanto_RicardoSalgadoO antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, confirmou em 09 de dezembro que contatou o então presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, para o avisar sobre os problemas do GES (Grupo Espírito Santo), garantindo que não lhe solicitou qualquer ajuda para o grupo empresarial.

“Consideramos que era importante que o presidente da Comissão Europeia não fosse apanhado de surpresa caso viesse a acontecer alguma coisa”, afirmou Salgado durante a sua audição na comissão de inquérito ao caso BES.

Ainda assim, o líder histórico do BES assegurou que não pediu nenhum favor a Durão Barroso sobre uma eventual atuação do responsável junto do Governo português acerca do pedido feito pelo GES para receber um financiamento público, tendo explicado aos deputados as ligações entre o ex-presidente da Comissão Europeia e o GES.

José Durão Barroso “foi de fato conselheiro do grupo enquanto esteve em Washington e depois voltou para Portugal e deixou de ser conselheiro do grupo”, revelou Salgado.

Acusação
Salgado também disse na comissão parlamentar não querer atacar a sua família, mas realçou perante os deputados que José Maria Ricciardi, seu primo, teve um comportamento “muito curioso”. “O dr. Ricciardi teve um comportamento no mínimo muito curioso em relação àquilo que deveria quanto a mim ter tido. Certamente se fez alguma denúncia ao BdP é capaz de ter alguma contrapartida por isso. Não sei qual, não quero fazer suposições, mas acho curioso que isso tenha acontecido”, realçou o histórico banqueiro do BES.

E o presidente do Banco Espirito Santo de Investimento, José Maria Ricciardi, acusou o antigo presidente do BES de “infâmia” por Ricardo Salgado ter sugerido que o primo havia tido uma “contrapartida” após “denúncia” ao Banco de Portugal. “É uma verdadeira infâmia”, declarou Ricciardi na comissão de inquérito à gestão do Banco e Grupo Espírito Santo.

Primeiro, sublinhou, o Banco de Portugal (BdP) ou “qualquer entidade reguladora não faz negociações com administrações de instituições bancárias” e, segundo, falar com o regulador e denunciar situações menos lícitas é uma obrigação de um qualquer membro de uma administração.

“Não basta não ter participado nos atos que eventualmente possam ser considerados eticamente reprováveis ou mesmo ilícitos. É obrigatório quando se tem conhecimento deles não só se opor, fazer exigências para as atas, mas também denunciar os fatos que se consideram graves à entidade reguladora”, frisou.

José Maria Ricciardi foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito até cerca das 2 horas da madrugada, tendo sublinhado que não fez quaisquer trocas de favores ao fornecer informações ao Banco de Portugal.

Ricciardi ainda considerou patético” acusar o BdP pelo colapso da instituição, uma ideia defendida pelo seu primo. “Isso é patético. É a última coisa que um supervisor quer, sobretudo, quando se fala de um banco como o Banco Espírito Santo”, afirmou José Maria Ricciardi e reforçou: “O BdP nunca quis destruir o BES. E se pudesse evitar a resolução, seguramente, o faria”.

Banco de Portugal
O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, refutou as afirmações feitas por Salgado sobre a alegada aceitação Amílcar Morais Pires para futuro presidente da Comissão Executiva do banco.

A posição de Carlos Costa consta numa carta enviada à comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), depois das declarações feitas por Ricardo Salgado na mesma comissão.

“Aproveito a oportunidade desta carta para refutar veementemente diversas afirmações feitas pelo dr. Ricardo Salgado durante a audição na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] a respeito da alegada aceitação do dr. Morais Pires para futuro presidente da Comissão Executiva do Banco Espírito Santo”, lê-se na missiva, que é acompanhada por correspondência trocada entre Carlos Costa e Ricardo Salgado.

Num ‘email’ enviado a 20 de junho de 2014, Ricardo Salgado pede ao governador do BdP “com urgência a autorização” para que seja dada a indicação de Amílcar Morais Pires como próximo presidente executivo do banco.

Salgado alegava, entre outros motivos, que existiam “bancos a suspender as linhas interbancárias”, estando “em ‘hold’ [espera] até ao esclarecimento total sobre o novo comando executivo” do banco e que o então presidente do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, João Moreira Rato, manifestava “grande preocupação sobre o potencial impacto no mercado”.

“Desta forma, acredito ser essencial indicar ao mercado a proposta da ESFG [Espírito Santo Financial Group] para a assembleia geral de 31 de julho para a nomeação de Amílcar Morais Pires como CEO [presidente executivo]”, acrescentava Salgado.

Na resposta, enviada no mesmo dia, Carlos Costa afirma que “o Banco de Portugal não está em condições de validar um nome proposto, por um acionista de referência, para a presidência da Comissão Executiva, sem avaliar o preenchimento dos requisitos de idoneidade”.

O governador do BdP afirmou ainda que a escolha do novo presidente executivo competia, no caso do BES, ao Conselho de Administração.

O ex-administrador financeiro do BES Morais Pires, tido como braço direito de Ricardo Salgado, chegou a ser apontado para substituir o histórico presidente do banco, cargo que acabou por ser assumido por Vítor Bento.

Na carta enviada à comissão de inquérito, Carlos Costa esclarece ainda, sobre a proposta de nomeação de Ricardo Salgado para presidente do Conselho Estratégico, que “ao Banco de Portugal apenas compete legalmente avaliar a idoneidade dos membros dos órgãos de administração e fiscalização das instituições de crédito, e não de outros órgãos estatutários”.

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