Pandemia poderá afetar economia lusa, dizem especialistas

Mundo Lusíada Com Lusa

Uma pandemia de gripe, como a que o mundo receia, iria deixar a economia portuguesa doente. Tal como num cenário de guerra, quase todos os setores econômicos seriam afetados, mas a recuperação seria rápida, na análise de economistas.

Miguel Gouveia, especialista em economia pública e da saúde, disse à Agência Lusa que uma pandemia de gripe teria um efeito "semelhante ao de uma guerra". Ele considera que, atualmente, o fechamento total das fronteiras é "praticamente impossível". "Não faz sentido, uma vez que nem sequer somos um país autosustentável em termos alimentares", frisou. Por esta razão, Gouveia considera o isolamento de países como Portugal inviável, defendendo antes "uma política de quase tolerância zero em relação a qualquer movimento internacional que desperte receio de infecção".

Esta medida pode se traduzir em outro tipo de isolamento, a começar nas casas dos cidadãos. "Mesmo as pessoas saudáveis seriam evitadas dos seus contatos sociais, de trabalho e familiares", disse, detalhando que tal teria impacto na economia pública, uma vez que cabe ao estado o pagamento de subsídios pela doença.

Turismo e Fronteira Gouveia prevê que o turismo sofra um grande embate com uma pandemia, lembrando que isso já começa a ser visto. "Mesmo se a pandemia não se confirmar, as pessoas vão ser muito mais conservadoras na escolha dos seus destinos turísticos", disse.

O economista duvida que Portugal seja um destino alternativo a outros mais exóticos, como o México, para onde os turistas deixaram de viajar. A mudança das rotas é uma das conseqüências do receio de uma pandemia, a qual poderá beneficiar os novos destinos, como explicou à Agência Lusa o professor de Economia Pedro Pita Barros.

Ele afirmou que são poucos os que beneficiam de uma pandemia e menos ainda os que são favorecidos pelo medo da mesma. Os países que passam a ser destinos turísticos, em substituição de outros afetados pelo vírus, poderão beneficiar com o H1N1. Contudo, será o laboratório que detiver a patente do medicamento indicado para a pandemia que terá os maiores lucros.

Quanto ao impacto na economia portuguesa, Barros alerta para os efeitos de um possível fechamento das fronteiras, principalmente com a Espanha, o que significaria "o fim da importação rodoviária".

Os problemas também serão grandes se, por receio da transmissão da infecção, os navios forem impedidos de desembarcar nos portos portugueses. O fim da circulação das pessoas pode, na perspectiva de Barros, criar "efeitos graves", principalmente se estas forem impedidas de trabalhar. "Se as pessoas forem obrigadas a ficar em casa, todo o sistema de distribuição de bens fica afetado, podendo conduzir à perda de produção, com conseqüente escassez de alimentos", disse.

Além dos efeitos no turismo, o fim das viagens pode ter conseqüências nos negócios, porque "muitas das viagens que são feitas visam a realização de acordos econômicos. Sem estas, os negócios ficarão por fazer". Apesar do cenário não ser animador, as perspectivas de uma retomada são mais reconfortantes, segundo Gouveia. “Terá impactos na economia anual, mas se a pandemia afetar dois trimestres, o terceiro já será de retoma da produção e conseqüentes efeitos”, concluiu.

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