O crescimento das mulheres no empreendedorismo em áreas distintas

Cresce a participação feminina em diversos mercados dominado por homens

Da Redação

No Dia Internacional da Mulher, lembramos da luta de tantas mulheres para se destacarem no mercado de trabalho, que ainda possui muitos cargos ocupados, majoritariamente, por homens. Além das tarefas para se destacarem na profissão, ainda precisam cuidar da casa, dos filhos, se desdobrarem para darem conta de todas as missões que surgem.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são 45% da população economicamente ativa no Brasil, índice conquistado através do trabalho de muitos anos das profissionais em conquistar espaço dentro das organizações. O IBGE também mostra que elas dedicam mais tempo aos estudos em comparação aos homens. Mesmo assim, a remuneração média recebida pelas brasileiras no mercado é inferior à ofertada ao público masculino.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) aponta que apenas 7,2% dos membros dos conselhos são mulheres. Nos comitês fiscais a participação não é muito diferente: menos de 9%. Em relação aos cargos de liderança nas empresas, as desigualdades persistem. De acordo com o Ministério da Economia, as mulheres detêm 42,4% das funções de gerência, 13,9% de diretoria e 27,3% de superintendência. Com os dados é possível perceber que, quanto mais alto o nível dentro de uma companhia, menores são as participações femininas.

Pesquisa feita pelo Sebrae e pela Global Entrepreneurship (GEM), em parceria com o IBQP, aponta que 50% dos empresários que estão tentando abrir um negócio ou que já têm um empreendimento com até cinco anos de mercado são mulheres. No total são 26,5 milhões de brasileiras que comandam o próprio negócio.

TI
Apesar de muitas desigualdades ainda perdurarem entre homens e mulheres em diversas esferas, principalmente, no mercado de trabalho, algumas áreas caminham para uma maior equidade entre os gêneros, como acontece na área de Tecnologia da Informação (TI). Pesquisas apontam que as mulheres começam a conquistar um espaço cada vez maior em um setor amplamente dominado pelos homens.

E esse crescimento começa com o aumento do interesse delas por capacitação dentro das carreiras digitais. Um levantamento da Digital House, escola de habilidades digitais com presença em todo o País por meio de seus cursos online, mostra que em 2018 as mulheres representavam 18% dos alunos da escola. Em 2020, o número chegou a 26%, mostrando um aumento de 34% no interesse delas pelos cursos oferecidos nas áreas de Programação, UX, Marketing Digital, Dados e Negócios.

“As mulheres têm descoberto que as carreiras tecnológicas são acessíveis a todos e têm se mobilizado no sentido de garantir seu espaço em uma área em que a oferta de vagas ainda é muito maior do que o número de profissionais qualificados para ocupá-las”, comenta Hugo Rosso, diretor de operações acadêmicas da Digital House.

A consequência desse aumento de interesse delas pelas carreiras de TI, claro, também mostra reflexo no mercado de trabalho. Um levantamento feito pela Revelo, empresa de tecnologia para a área de recursos humanos, mostra aumento na contração de mulheres em carreiras de TI. Em 2017, as mulheres ocupavam 10,9% das vagas na área. Já em 2020, o número subiu para 12%. Outro estudo, “Women in the Workplace 2019”, realizado pela McKinsey, confirma a tendência de crescimento. De acordo com o levantamento, a representação de mulheres no setor cresceu 24%, nos últimos 5 anos.

A desenvolvedora Paula Guedes, que começou a trabalhar na área há cerca de seis meses, acredita que esse aumento da presença feminina nas carreiras digitais também se deve a um movimento que tem partido das empresas no sentido de promover maior equilíbrio entre homens e mulheres na área. “Muitas empresas estão buscando mulheres nessa área. Eu, por exemplo, fiquei sabendo da vaga em que estou hoje quando o CEO fez um post no LinkedIn chamando as mulheres desenvolvedoras para se inscreverem para as vagas. Eu havia terminado meu curso de programação em julho e, em setembro, fui aprovada no processo seletivo da empresa”, comemora.

Um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação revela que, até 2024, a busca por profissionais com habilidades digitais chegará a 70 mil pessoas por ano no Brasil, mas o número de formados será de 46 mil no mesmo período. Mesmo com a pandemia, a área continuou aquecida e teve um crescimento de 25% na contratação, também de acordo com a Revelo.

Gastronomia
Uma pesquisa da OnePoll realizada em 15 países com 9 mil mulheres, incluindo brasileiras, revelou que 72% têm vontade de ter um negócio próprio. Sendo o setor da gastronomia a principal área de interesse das mulheres, com 25%. E elas têm mostrado que, também dentro desse setor, qualquer área pode ser delas. É o caso de Lorena Lacava, veterinária e cozinheira criou o projeto Churras das Gurias no Instagram com o objetivo de dar dicas sobre técnicas de churrasco para mulheres. Apesar dos desafios da representatividade feminina como churrasqueira, Lorena impulsiona outras mulheres nesse ramo.

A veterinária conta que sempre se interessou por gastronomia e, como também é especializada em produção animal, percebeu uma oportunidade de trabalhar com as duas profissões. “Consegui juntar duas coisas que eu amo em uma profissão que me deixa muito satisfeita que é fazer comida, falar de carne e servir outras pessoas”, destaca.

Lorena comenta que sempre esteve inserida em um universo masculino e que é difícil ser respeitada. “A gastronomia também é um universo bastante machista”, afirma a cozinheira. Ela acredita que o principal fator para muitas mulheres se distanciarem da churrasqueira é por parecer ser uma área somente masculina. E é aí que entra a importância da participação feminina. “Eu sou defensora da nossa classe. Quanto mais mulheres fizerem parte desse universo, melhor será para nós”, ressalta. Mesmo com os obstáculos, atualmente, além de compartilhar nas redes sociais seu amor por carnes, Lorena também dá cursos de churrasco para mulheres.

Construção
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estima que a absorção das mulheres na construção civil tenha crescido quase 50% nos últimos dez anos, e que mais de 200 mil mulheres trabalhem no setor atualmente no Brasil. Em todo país, as habilidades e capacidades delas acompanham o crescimento do segmento, que surpreendeu no ano de 2020, em plena pandemia de Covid-19, em um ano de tantas incertezas.

A área da construção civil foi a que mais gerou empregos nos primeiros 10 meses de 2020, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Foram 138.409 empregos formais, de acordo com o Ministério da Economia. O melhor resultado desde 2013 (207.787).

E a evolução pede mão de obra qualificada. Por isso, tendências como automação de obras, industrialização dos sistemas construtivos e incremento de ferramentas de projetos e gestão devem levar a ainda mais contratações de mulheres ao setor, estima o relatório da McKinsey Global Institute (MGI), que aponta para um crescimento global de 10% até 2030.

Algumas destas mulheres empoderadas estão na Rottas Construtora, de Curitiba, que tem um quadro de colaboradores 60% feminino. Elas estão nas áreas administrativas e operacionais. Nos canteiros de obras, são 23, revela Débora Stratmann, da Gerência de Gente. “É notável que as mulheres estão assumindo cada vez mais posições no ramo da construção civil. Na Rottas, reconhecemos a importância da força feminina e de sua forma de conduzir os processos, estejam eles acontecendo no canteiro de obras, na arquitetura, nas áreas administrativas ou projetos.”

Webinar
Neste mês de março, a FecomercioSP preparou uma programação especial para os seus webinários semanais, com o objetivo de mostrar ao público histórias inspiradoras de mulheres que fazem a diferença no empreendedorismo. As lives serão realizadas todas as quintas, às 14h (04, 11, 18, 25 de março) e em duas terças, às 17h, (09 e 23 de março), estas duas últimas dedicadas especialmente ao setor de turismo. As transmissões serão feitas nas páginas do YouTube e do Facebook da Federação.

Os seis webinários pretendem oferecer um panorama abrangente e inspirador sobre os mais diversos aspectos do empreendedorismo feminino, tais como iniciativas vencedoras que surgiram durante a pandemia, ideias de inovação e tecnologia, dicas de como usar as redes sociais nos negócios e de como se adaptar às novas realidades, como o crescimento do e-commerce, além da importância da criatividade e de ideias disruptivas ao setor de turismo, um dos mais impactados pela crise do covid-19.

Participam deste encontro virtual mulheres que atuam como empresárias, mobilizadoras sociais, influenciadoras, palestrantes, pesquisadoras, consultoras, diretoras e CEOs, que enfrentam (e superam) os desafios de empreender todos os dias.

Entre as convidadas, Jandaraci Araújo, Viviane Duarte, Marianne Costa, Daniela Junco, Ana Fontes, Loise Nascimento, Mellissa Penteado, Rogéria Pinheiro, Daniele do Lago e Ely Ribeiro. E, para representar a Federação e receber as convidadas, estão Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo, Ana Paula Locoselli, assessora jurídica, Kelly Carvalho, assessora econômica, e Camila Silveira, jornalista.

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