Da Redação
Com Lusa
A maioria dos portugueses que vivem no Rio de Janeiro, Brasil, aprovam as medidas de austeridade tomadas pelo Governo português, acreditam que o país irá superar a crise e criticam o negativismo exagerado da imprensa.
“Portugal estava com muitos gastos, que atingiram, em quatro ou seis anos, 100% do PIB em endividamento. Era preciso fazer esses cortes, foi pena que só fizemos quando fomos obrigados”, afirma à Lusa o engenheiro civil Luís Guedes, há mais de um ano trabalhando no Rio de Janeiro.
Para Marcelo Cerqueira, pequeno empresário que administra o grupo “Portugueses no Rio de Janeiro”, na rede social Facebook, as medidas foram necessárias para reequilibrar as finanças do país e “organizar a casa”.
“Mal ou bem, o Governo está a tentar equilibrar as finanças. As pessoas, claro, estão chateadas, angustiadas. Mas acho que isso é uma fase e que o país vai superar. Agora, precisamos de tempo”, diz o empresário, há dois anos e meio no Brasil.
Tanto o engenheiro Luís Guedes como a farmacêutica Marta Geraldes coincidem que parece haver um descompasso entre o grau de pessimismo das notícias veiculadas na mídia e o real nível da crise.
“Acho que é mais negro quando vemos nos jornais, que fazem um pouco o seu drama, ou então focam-se só nas más notícias, o que ajuda a que o sentimento social seja mais negativo, ou muito apreensivo”, considera o engenheiro, realçando que todos os amigos da sua turma de engenharia que ficaram em Portugal estão empregados, embora uma grande parte tenha partido para tentar uma vida melhor noutros países.
“Não tenho um amigo em Portugal que esteja desempregado, mas são pessoas com licenciatura e especialização em alguma área, claro que haverá outros segmentos que sentiram mais a crise”, diz Marta Geraldes, acrescentando, no entanto, que no Brasil também sofre com a subida dos preços.
“Tenho notado, nos dois anos que estou a viver no Rio, um aperto muito grande nos preços, e o meu salário continua o mesmo. Portanto, não sei até que ponto a vida das pessoas [em Portugal] mudou assim tanto. Agora, com certeza, o que muda é a forma de estar na vida, noto que os meus amigos estão mais pessimistas e falam muito da recessão”, lamenta.
A farmacêutica, que chegou ao Brasil ainda como estudante, e após a conclusão do curso foi contratada por uma empresa brasileira, ressalva que o que falta a Portugal é um “líder de verdade”, capaz de passar “confiança” à população.
“Este Governo incentivou por duas vezes os jovens a saírem do país. Eu acho que foi bastante infeliz porque, imagine as pessoas que estão sem emprego e não têm a coragem de sair, ou são mais agarrados à família, eu não gostava minimamente de ouvir esse tipo de conselho”, critica.
Já para Filipe Estêvão de Figueiredo, que acaba de chegar ao Rio de Janeiro e ainda está à procura de um emprego fixo, a crise é passageira, mas ainda deve levar pelo menos cinco anos para ser totalmente ultrapassada.
“Esta crise, como todas as outras, é cíclica. Mas vai demorar a passar. Nesse momento, o desemprego [em Portugal] é alto e as oportunidades de crescimento na carreira são poucas. Então, a solução é vir para um país emergente, onde a economia está a desenvolver-se”, diz.
Todos concordam, no entanto, que o Governo deveria, além das medidas de austeridade, adotar também políticas de incentivo ao desenvolvimento.
“Só cortar as despesas sem fazer investimentos para as empresas e para os particulares não adianta”, conclui Filipe de Figueiredo.