Economia impulsiona o ensino de português na China

Por Rui Boavida Agência Lusa

Em um arranha-céus do centro de Pequim, a escola de línguas ASW fervilha de jovens alunos e professores, mas um canto da escola chama a atenção, com os cartazes do jogador de futebol Cristiano Ronaldo e de paisagens do Brasil.

Os cartazes pertencem a Marcos Castro, um brasileiro de 26 anos que ganha a vida como professor de português, uma profissão cada vez mais necessária no mercado chinês, onde a procura de profissionais que possam comunicar na língua portuguesa excede em muito a oferta.

“Vários dos meus alunos têm as aulas pagas pelas empresas, que necessitam de gente para os negócios que têm com o Brasil e com os países lusófonos”, diz Marcos, em frente do pôster de Cristiano Ronaldo, presente de um dos estudantes.

Segundo dados do Instituto Português do Oriente, apenas cinco universidades ensinam português na China continental. Poucas para as necessidades, à medida que o português vem se tornando cada vez menos uma língua de poetas e de livros, de descobridores e de jogadores de futebol e cada vez mais uma língua de cifrões, letras de crédito e de negociações de preços.

Tan Lixin, da Câmara de Comércio de Zhuhai, cidade fronteira a Macau, que organizou recentemente um curso básico de português comercial, calcula que faltam cerca de dois mil profissionais que falem português, para dar resposta às necessidades das empresas chinesas.

“A procura é muito grande para facilitar a relações entre os mercados lusófonos e as empresas com negócios com o exterior,” afirma Tan.

As relações diplomáticas cada vez mais intensas e o aumento das trocas comerciais fazem com que mais chineses queiram aprender português. Poucas são as empresas em que os responsáveis falam inglês, quanto mais a língua de Cristiano Ronaldo, o que, de resto, são boas notícias para os jovens prestes a entrar no mercado de trabalho.

“A procura de intérpretes de português é muito grande. Com a China a investir muito nos países lusófonos e as trocas comerciais com o Brasil a aumentar, quem acaba o curso de português na universidade geralmente consegue um bom emprego com um salário alto,” diz Wang Ge, finalista de Português na Universidade de Comunicações da China (UCC), em Pequim.

Angola é o maior parceiro comercial da China na África, e o Brasil o maior parceiro chinês na América Latina.

“O número de estudantes de português na nossa universidade aumentou muito rapidamente. Passamos a admitir alunos todos os anos, quando antes só o fazíamos de dois em dois anos,” disse Sílvia Yan, professora no departamento de português da UCC, onde estudam cerca de setenta alunos.

Na Universidade de Estudos Internacionais de Pequim, estudam outras duas dezenas, e o próprio governo chinês reconhece que a necessidade de quadros de língua portuguesa tem aumentado rapidamente nos últimos anos.

“A cooperação econômica com os países lusófonos é cada vez maior. Muitas empresas precisam de intérpretes de português ou pelo menos querem que alguns dos seus funcionários tenham alguns conhecimentos da língua,” disse Zhang Fang, do ministério de Comércio da China, à Agência Lusa.

No entanto, para lá da economia e do comércio, há ainda quem aprenda português por razões apenas pessoais. Para Meng Bo, calouro de português na Universidade de Pequim, foram os craques do futebol a dar o empurrãozinho.

“Eu adoro futebol e quero conhecer Portugal porque é um pais de futebol. O que eu mais queria era poder conversar com os meus jogadores favoritos depois de aprender a língua”, diz Meng.

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