Crise na Europa preocupa, mas especialistas estão mais seguros quanto ao mercado interno

Pesquisa da Fecomercio, em parceria com OEB, indica maior confiança no cenário econômico nacional, mas retomada do ciclo de altas da Selic deve encarecer crédito.

Da Redação

A Crise na Grécia continua afetando a percepção dos economistas quanto ao cenário internacional, mas dentro do país o otimismo vem crescendo e especialistas enxergam melhoras nas taxas de juro, inflação e, até mesmo, nos gastos públicos. É o que revela o Índice de Sentimento dos Especialistas em Economia (ISE), medido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) em parceria com a Ordem dos Economistas do Brasil (OEB). Segundo dados da pesquisa, os economistas estão mais confiantes no cenário econômico do que estavam em maio, o que pode ser demonstrado com a elevação de 4,3% no indicador, que saltou dos 102,7 pontos, registrados no mês passado, para os 107,1 atuais.

“O fator decisivo para essa variação foi a melhora de 8,8% na percepção que os especialistas em economia têm quanto ao momento atual”, destaca o assessor econômico da Fecomercio, Guilherme Dietze. “Esse resultado é ainda mais expressivo se considerarmos que, em maio, o indicador do momento atual estava no nível de pessimismo, com 94,7 pontos, e agora voltou ao patamar de otimismo, com 103,1”. Dietze explica que o ISE é medido em uma escala que varia de 0 a 200 pontos, sendo que acima de 100 denota otimismo. Já as perspectivas para o futuro permaneceram praticamente estáveis, com leve impulso de 0,4%, chegando aos 111,2 pontos.

A avaliação do Cenário Internacional, voltou a piorar em junho, mas em ritmo inferior ao de maio, quando foi o principal motivo para a queda do ISE. Em junho, este quesito apresentou queda de 10%, chegando a 110,7 pontos. “Apesar de permanecer no patamar de otimismo, este resultado evidencia o crescente receio que os economistas têm quanto aos possíveis desdobramentos da crise na Europa”, avalia Dietze.

No cenário nacional, Taxa de Juro, de Inflação e Gastos Públicos, com 78,3, 67,7 e 36,2 pontos, respectivamente, continuam sendo os três itens com a pior avaliação em junho, os únicos com pontuação abaixo de 100 pontos. Entretanto, a percepção dos especialistas em relação a estes itens têm apresentado contínuos incrementos, o que se deve principalmente a decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) de retomar o ciclo de aumento da Selic, mas também há um arrefecimento do crescimento acelerado presenciado no primeiro trimestre e ao realinhamento de preços que estavam muito elevados.

Contudo, os itens que alavancaram o resultado positivo do ISE em junho são Nível da Atividade Interna e Oferta de Crédito ao Consumidor. Na avaliação do momento atual, a percepção quanto ao Nível de Atividade foi ampliada em 4%, alcançando os 179 pontos, o que se deve ao resultado positivo do PIB no primeiro trimestre de 2010. Quanto as perspectivas do Nível de Atividade para o futuro, houve queda de também de 4%, levando o indicador aos 156,2 pontos. “Este fato pode ser encarado de duas maneiras”, avalia o assessor econômico da Fecomercio, “ou como um reajuste do otimismo que estava muito elevado, ou, caso sejam registradas novas retrações, como um sinal de que o ritmo de crescimento para daqui a um ano não permanecerá no patamar previsto no início de 2010.”

Já a Oferta de Crédito recebeu uma avaliação 15% superior a do mês anterior, saltando para os 137,4 pontos. Para Dietze, um resultado que pode ser explicado pelos dados do Banco Central, que apontam uma evolução nos empréstimos, e a taxa média de juros para pessoa física, que apesar de registrar um leve aumento mensal, ainda está em um patamar baixo quando comparada a série histórica. “Houve um incremento de 9,9% no total de concessões de crédito até maio, 24,35 em 12 meses”, informa o economista. “Mas esses números devem sofrer uma arrefecimento, já que o aumento da Selic, certamente, vai implicar em encarecimento do crédito”, lamenta.

Os especialistas em economia também estão otimistas em relação à: Nível de Emprego (135 pontos; -8%); Salários Reais (124,7 pontos; 1%) e; Taxa de Câmbio (106,4 pontos; 12%).

Nota Metodológica O Índice de Sentimento dos Especialistas em Economia (ISE) é computado pela Fecomercio, em parceria com a Ordem dos Economistas do Brasil (OEB) desde junho de 2008. A pesquisa detecta as perspectivas dos economistas em relação às tendências da economia nacional e mundial. Sua composição, além do índice geral, apresenta-se em: percepção presente e expectativas futuras. O ISE varia de 0 (pessimismo total) a 200 (otimismo total). Envolve pesquisa mensal com mais de 100 economistas de todo País, por meio de metodologia similar àquela utilizada para a apuração do Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fecomercio.

A Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), entidade civil cultural e de utilidade pública, criada em 1935, é a mais antiga representação dos economistas brasileiros. Voltada ao aprimoramento, atualização e prestígio da categoria profissional, promove cursos, palestras, workshops, sendo credenciada pelo Ministério da Educação para ministrar cursos de MBA lato sensu. A Fecomercio é a principal entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços. Representa empresas e congrega 152 sindicatos patronais, que abrangem mais de 600 mil companhias e respondem por 11% do PIB paulista – cerca de 4% do PIB brasileiro – gerando em torno de cinco milhões de empregos.

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