Crescimento econômico baseado no consumo privado pode criar nova crise

Da Redação
Com Lusa

A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP), Teodora Cardoso, alertou em 14 de outubro que o crescimento econômico baseado no consumo privado, com diminuição da poupança e desequilíbrio das contas externas, pode criar as condições para uma nova crise.

“Há o risco de esta política de crescimento de curto prazo voltar a revelar-se insustentável e voltar a criar as condições de uma nova crise, que seria resultado de um crescimento impulsionado pelo consumo privado e pela quebra de poupança, acentuando a contribuição negativa das importações e a deterioração da balança corrente”, advertiu Teodora Cardoso, numa conferência de imprensa sobre a atualização do relatório ‘Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2015-2019’.

A economista admitiu que “o regresso a uma política de estímulo ao consumo privado pode agravar o déficit externo, agravando também o défice orçamental, com o grau de endividamento público e privado”, alertando, assim, que a economia portuguesa ficaria “exposta de novo à falta de confiança dos mercados, o que se traduziria numa crise de financiamento”.

Para o CFP, a recuperação econômica verificada nos últimos dois anos pode “não ser sustentável”, porque o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) “voltou a assentar na contribuição da procura interna, com realce para o consumo privado” e porque o contributo da procura externa tornou-se negativo, “com o rápido aumento das importações a superar o crescimento das exportações, não obstante o seu bom comportamento”.

“Os números demonstram esse risco. É um risco muito tentador. O consumo privado crescer satisfaz toda a gente, aumenta o emprego, e no curto prazo aumenta o orçamento, o que não cria é condições de sustentação deste modelo”, considerou Teodora Cardoso.

A economista lembrou que esta política foi mantida durante “muitos anos” e que “não leva realmente ao crescimento estável da economia”, que “no passado viu-se que isso não aconteceu”, disse a presidente do CFP, lembrando números da economia portuguesa entre 2000 e 2010.

Segundo dados enumerados no relatório do CFP, em termos acumulados, entre 2000 e 2010, a economia portuguesa cresceu 7,6% (0,7% ao ano), a remuneração real por trabalhador cresceu 29,9%, (enquanto a produtividade subiu 11,4%), o consumo privado cresceu 45,6% (enquanto o endividamento das famílias ultrapassava o seu rendimento disponível).

Nas contas públicas, o Estado manteve déficits orçamentais ao longo de todo o período (5,5% do PIB em média) e o rácio da dívida pública subiu de 50,3% para 96,2% do PIB.

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