China compra dívida pública de Portugal e de Espanha

Especialistas afirmam que o apoio da China custará mais do que juros. Chineses querem entrar ou ser parceiros privilegiados em bancos e empresas estratégicas portuguesas que lhe permitam reduzir as barreiras às suas próprias exportações.

Mundo LusíadaCom agencias

A China admitiu ter comprado, em 13 de janeiro, dívida pública espanhola em leilão depois de ter feito o mesmo por Portugal na quarta-feira, dia 12. "Estes são tempos complicados e estamos a adotar um papel positivo", disse um vice-presidente do Banco Popular da China citado pelo jornal inglês The Guardian. "Somos e continuaremos a ser compradores consistentes e temos um plano de investimento na Europa a longo prazo", afirma, de acordo com a mesma fonte.

A China comprou dívida de Espanha com juros a 4,5% a três anos. Portugal vendeu dívida pública nessa quarta-feira, com taxas de juro de 6,7% para as obrigações a 10 anos.

A participação da China na compra de dívida pública dos países europeus em crise financeira já estava prevista há algum tempo. Durante recente visita a Portugal, membros do Executivo chinês manifestaram publicamente o interesse de Pequim em comprar dívida pública destes países. O ministro português das Finanças, Teixeira dos Santos, esteve o mês passado na China para analisar com as autoridades chinesas a participação na operação.

Após o anúncio, especialistas afirmaram que o apoio da China custará mais do que juros. Um artigo de Luis Reis Ribeiro, no Diário de Notícias, aponta que os chineses querem entrar ou ser parceiros privilegiados em bancos e empresas estratégicas portuguesas que lhe permitam reduzir as barreiras às suas próprias exportações, inundar a Europa de produtos, beneficiar de apoios fiscais, aduaneiros e de fundos comunitários para a inovação e energias renováveis. Além disso, a China estaria pensando em usar Portugal e as suas empresas como `trampolim` para reforçar posições na África, na área da construção de grandes infra-estruturas e construção civil em Angola e Moçambique.

Esta seria a análise de especialistas em questões internacionais, que apontaram a declaração, no final do ano passado, da vice-ministra dos Negócios Estrangeiros da China, Fu Ying, que disse: "Temos vontade de participar nos esforços dos países europeus para recuperar da crise. Acreditamos que as medidas tomadas pelo Governo português conduzirão à recuperação dos setores econômico e financeiro".

 

Portugal não precisa, por agora, de ajuda internacional 

O presidente da delegação do Parlamento para a Crise defendeu, também dia 12, que Portugal não precisa recorrer, por agora, a ajuda internacional, depois do Tesouro ter colocado obrigações a 10 anos a 6,71%. "Há forte suporte à posição de que Portugal não precisa por agora do apoio internacional", disse o eurodeputado alemão Wolf Klinz, presidente da Comissão do Parlamento Europeu para a Crise, numa conferência de imprensa na Assembleia da República.

As declarações do eurodeputado aconteceram depois de já ser conhecido o resultado do leilão de obrigações a 10 anos, que foram colocadas a uma taxa de juro de 6,716%, inferior à da emissão anterior, o que para Wolf Klinz demonstrou a "confiança dos mercados" em Portugal.

O presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, elogiou em Bruxelas as medidas de consolidação orçamental tomadas por Portugal e Espanha, que permitiram diminuir o risco em investir na dívida soberana dos dois países. "Portugal faz esforços enormes, notáveis e admiro muito a coragem do Governo português para impor as reformas que está a impor", declarou Juncker, em conferência de imprensa. "Apesar de os mercados continuarem voláteis, os últimos desenvolvimentos são encorajadores", disse.

 

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