Universidades apostam no intercâmbio de alunos para a internacionalização

Mundo Lusíada
Com Lusa

Torre da Universidade de Coimbra. Foto Divulgação: ©UC|Sérgio Brito

Milhares de alunos descobrem por esta altura outras cidades, dentro e fora de Portugal, em variados programas de intercâmbio que as universidades encaram como oportunidades de internacionalização num mundo que se quer sem fronteiras para o conhecimento.

Só a Universidade do Porto (UP) coordena sete grandes programas europeus, que lhe permitem financiar mobilidades no valor de 28 milhões de euros. Beneficiam estudantes, professores e investigadores, dentro e fora da Europa.

“A universidade percebeu que, havendo crise e falta de fundos em Portugal, tinha de ir buscar verbas à Comissão Europeia. Foi isso que fez, apresentou candidaturas aos programas e ganhou sete grandes consórcios nestes últimos quatro anos”, disse à agência Lusa o vice-reitor com a pasta das relações internacionais, António Marques.

Neste momento, a UP tem 1.200 alunos em 50 países: “A universidade considera estes programas muito importantes para a formação dos estudantes, mas também para a sua própria estratégia”.

Em movimento inverso, estima que no total a UP tenha hoje 3.800 estudantes, de 110 países. Este ano letivo, chegaram 1.800 alunos, dos quais 800 da Europa e os restantes de vários países, “a esmagadora maioria do Brasil”.

Atrás do intercâmbio de estudantes, impulsionado sobretudo pelo programa Erasmus, vêm contratos com outras universidades e parcerias de investigação. “A internacionalização começou a fazer-se muito pelo lado da mobilidade estudantil”, admitiu o responável, sublinhando a importância do Erasmus, que agora comemora 25 anos de existência.

A mobilidade ainda se faz maioritariamente na Europa, mas cada vez mais abrange outras regiões do mundo, verificando-se uma grande aposta no Brasil, que financia a capacitação dos seus recursos humanos em universidades portuguesas.

Exemplos disso são os programas Ciência sem Fronteiras e de Licenciaturas Internacionais, em curso também nas universidades de Lisboa e de Coimbra. “É a mutação mais significativa destes últimos tempos”, disse à Lusa o vice-reitor da UC Joaquim Ramos de Carvalho, indicando que só ao abrigo daqueles dois programas vai receber 600 alunos.

“Isto faz da UC o principal destino de estudantes brasileiros fora do Brasil, com o apoio do Governo”, adiantou.

Já o Erasmus leva a Coimbra todos os anos perto de mil alunos. Fora de portas, a UC tem cerca de 500 a 600 estudantes. O Erasmus continua a ser o programa que envolve mais saídas na Universidade de Lisboa, entre 400 a 500 alunos por ano, segundo a vice-reitora Teresa Cid. “No conjunto da universidade, temos perto de 1.500 alunos por ano, em várias experiências”, acrescentou.

Fora da Europa, a parceria mais significativa é também com o Brasil, país que está a fazer “um grande esforço ao nível da formação”.

A professora defende que, além da qualificação, a experiência de estudar noutro país dá mais agilidade a todos os níveis, nomeadamente no domínio das línguas.

A UL tem já programas de bolsas com a China, que este ano resultaram no envio de um grupo de estudantes: “As pessoas cada vez mais pensam em alargar horizontes a nível de futuro”.

Valores como a tolerância e adaptação a outros ambientes e culturas são fatores também valorizados pelos reitores, tanto do ponto de vista humano, como profissional. “Isso cada vez é mais importante num mundo que é cada vez mais aberto e em mercados que são cada vez mais abertos”, sublinhou António Marques.

Alunos do superior a “mudar” de país

À chegada, o primeiro impacto é o clima. Segue-se a comunicação, quando a língua não é a mesma, mas para os alunos que arriscam estudar noutro país a vontade de descobrir o mundo e viver novas experiências fala mais alto.

“As primeiras impressões foram em nada negativas, talvez excetuando as diferenças climáticas de um sol mediterrânico para um vento glaciar e a barreira linguística, pois o inglês não é garantia de comunicação na Polônia, o que pode revelar-se um problema em certas situações”. O relato é de Hugo Fonseca, 20 anos, estudante português de Economia.

No 3º ano da licenciatura do Instituto Superior de Economia e Gestão (Universidade Técnica de Lisboa), Hugo embarcou em Lisboa com dois colegas para estudar em Bialystok, que descreve como “uma cidade modesta perto da fronteira polaca com a Bielorrússia”.

Inscreveu-se no Erasmus para viajar, conhecer outras culturas e locais. Está também a conhecer o que é viver com outras pessoas fora de casa e do conforto da família. Depois de uma semana em Varsóvia, “a fazer tempo até ter quarto na residência” de estudantes, Hugo prepara-se para tentar perceber como seria trabalhar noutro país.

Consciente da situação econômica em Portugal, diz que é difícil não considerar a hipótese de emigrar. “Há um conjunto grande de fatores que levam um recém-licenciado ou estudante português a querer um futuro com melhores perspetivas do que as que nos são apresentadas todos os dias no nosso país”, confessa à agência Lusa a partir da Polônia.

Já tem saudades de Portugal e da vida que levava, mas recomenda a experiência a todos os jovens de mente aberta e dispostos a conhecer novos costumes.

Manuela Mesquita tem 25 anos e viajou do Brasil até Lisboa com o mesmo propósito. Integra uma “comitiva” de 1.500 alunos estudantes brasileiros que o programa Ciência Sem Fronteiras traz este ano a Portugal. “Além de nos proporcionar um enriquecimento cultural muito grande, aprendemos técnicas que não temos no Brasil”, contou à Lusa esta aluna de Ciências da Saúde, natural de São Luís do Maranhão, no Nordeste do Brasil.

“O que me motivou foi essa possibilidade de agregar mais conhecimento, viver um ano noutro país, com outros costumes e um clima diferente”, afirma. Chegou à capital portuguesa há um mês: “Lisboa é encantadora, já conheço outras capitais europeias, mas não tem igual, e o ensino é muito bom, muito mais aprofundado, muito mais técnico”.

Já fez amizades na turma e partilha uma página no Facebook com os companheiros do programa. Combinam encontros e visitas a outras cidades perto de Lisboa.

A greve da CP adiou a visita a Sintra, que ficou agendada para o feriado. “Estou gostando muito. A vida cultural, a vida académica é muito boa”, diz animada.

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