Sociólogo português discursa em universidade do Rio Grande do Sul e defende reforma profunda

Mundo Lusíada

Conferência Boaventura de Sousa Santos no ILEA. Foto: Ramon Moser
Conferência Boaventura de Sousa Santos no ILEA. Foto: Ramon Moser

Reconhecido como intelectual de destaque nas ciências sociais, o português Boaventura de Sousa Santos esteve no início deste mês na UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, para participar da conferência “As epistemologias do Sul e as ciências sociais do futuro”. O evento faz parte das comemorações dos 80 anos da UFRGS e contou com transmissão ao vivo pela internet.

Boaventura trouxe suas reflexões sobre o mundo atual a partir das mobilizações protagonizadas pelos jovens nos últimos cinco anos. O sociólogo defende uma nova utopia política, assentada na valorização do conhecimento produzido por aqueles que têm sofrido injustiças, opressão, dominação e exclusão causadas pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patriarcado.

Boaventura Santos apresentou a ideia de que é preciso fazer uma reforma profunda das ciências sociais. Apesar do aparente desenvolvimento que tem sido assistido no Brasil e na América Latina, ele diz que “neste momento há sinais de tempestade sobre nós os cientistas sociais, as universidades, a democracia e, muito particularmente, sobre as ciências sociais e humanas.”

Ataques externos orquestrados pelo neoliberalismo em nível global podem ser sentidos, sobretudo, nos países governados por conservadores. Afirma que quem não representa o mundo como seu tampouco pode transformá-lo a seu favor.

Na UFRGS, o sociólogo participou ainda da palestra “Conhecimento prudente para uma vida decente: epistemologias do Sul”, em 5 de setembro, analisando a importância da nova ciência à luz da complexidade dos fenômenos que envolvem a sociedade.

No sentido de apontar a gênese de suas pesquisas, Boaventura comentou o desenrolar de sua tese de doutorado desenvolvida na década de 1970 e publicada recentemente em língua portuguesa – havia edições em inglês e espanhol – com o título “O Direito dos Oprimidos”. A pesquisa foi desenvolvida junto à favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e, segundo ele, falar com as pessoas e estar presente na vida delas o trouxe sabedoria de vida e a compreensão de que “o conhecimento científico é válido, mas não completo, pois existem outras formas de conhecimento que merecem respeito”. Para ele, a maioria das pessoas vive com outros saberes que não o científico e há um valor nesses saberes, e formas de estigmatizar os demais conhecimentos não-científicos são comuns e demonstram uma “injustiça cognitiva”.

“Não é a primeira vez que a UFRGS tem o prazer intelectual e afetivo de escutar o professor Boaventura de Sousa Santos que, desde os anos 90 tem estado entre nós, sempre trazendo desafios a pensar nas ciências sociais”, disse o professor José Vicente Tavares em sua saudação ao sociólogo português.

Depois de ter falado por mais de uma hora para mais de mil pessoas no Salão de Atos, Boaventura Santos fez o lançamento, com sessão de autógrafos, do seu livro “O Direito dos oprimidos”, sobre a tese de doutorado realizada nos anos 1970 na favela do Jacarezinho.

Religião e política
Nascido em Coimbra no ano de 1940, Boaventura de Sousa Santos é doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Atua também como diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. E tem trabalhos publicados sobre globalização, sociologia do direito, epistemologia, e democracia, traduzidos para espanhol, inglês, italiano, francês, alemão e chinês.

Em recente artigo e entrevistas, o português declarou que a candidata do PSB à presidência do Brasil, Marina Silva, é um “instrumento” da direita brasileira, que entendeu ser muito difícil voltar ao poder numa disputa ideológica entre a esquerda (Dilma Rousseff) e a direita (Aécio Neves), citando um “retrocesso total” caso Marina se eleger. “Tive o cuidado de ver o programa da Marina e uma das coisas que diz é, no fundo, voltar ao alinhamento do Brasil com os Estados Unidos” diz criticando o programa de política externa da candidata.

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