Sociedade Portuguesa de Autores diz que Brasil perdeu museu de “referência única”

Foto Agencia Brasil

Mundo Lusíada
Com Lusa

A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) também lamentou a destruição provocada pelo incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, com cerca de 20 milhões de peças, sublinhando que o Brasil “perde uma referência museológica única”.

Num comunicado, a SPA manifesta “tristeza” pelos efeitos do incêndio, que eliminou muitos milhares de peças e documentos que ilustram o que foi a vida do país durante mais de dois séculos, incluindo o período histórico e político que conduziu à independência.

“Num período muito conturbado da vida do Brasil e depois de ter perdido, em São Paulo, o Museu da Língua, o Brasil perde uma referência museológica única que muito o vai empobrecer ao nível das referências históricas, documentais e da memória coletiva”, acrescenta.

O edifício, que acolhia regularmente atividades culturais, nomeadamente exposições, colóquios e congressos, corre agora risco de desabamento.

O incêndio, que não causou vítimas, destruiu o arquivo histórico do museu com documentos que ilustram mais de 200 anos de história do Brasil.

A SPA recorda que, no auditório do edifício do museu decorreu, em outubro de 2016, parte da atividade que envolveu a aprovação do “Manifesto Sobre a Lusofonia”, proposto pela entidade portuguesa, e aprovado também por sete sociedades de autores brasileiras.

O acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, no Brasil, que foi consumido por um incêndio na noite de domingo e ao longo da madrugada, era um dos maiores históricos e científicos do país, com cerca de 20 milhões de peças.

A instituição, criada há 200 anos, foi fundada por João VI, de Portugal, e era o mais antigo e um dos mais importantes museus do Brasil.

Entre as peças do acervo estavam a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Pedro I, e o mais antigo fóssil humano encontrado no Brasil, batizado de “Luzia”, com cerca de 11.000 anos.

O Museu Nacional do Rio de Janeiro era, também, o maior museu de História Natural e Antropologia da América Latina, e o edifício tinha sido residência da família real e imperial brasileira.

Entre os milhões de peças que retratavam os 200 anos de história brasileira estavam igualmente um diário da imperatriz Leopoldina e um trono do Reino de Daomé, dado em 1811 ao príncipe regente João VI.

Por seu turno, o ministro português da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, que se encontra no Rio de Janeiro em visita oficial, já exprimiu pessoalmente ao seu homólogo, no domingo à noite, o seu pesar pelo ocorrido.

“Estamos consternadíssimos. Nós sentimos também essa perda porque era um acervo importantíssimo da história natural do país, da sociedade brasileira e também da história política, sendo este o palácio onde o rei de Portugal se veio instalar quando levou a corte para o Brasil. É um monumento muito importante para a história dos dois países”, disse o ministro à chegada ao Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, onde abriu o 9.º colóquio do polo de pesquisas luso-brasileiras.

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A instituição destruída pelo fogo foi criada há 200 anos por João VI, de Portugal, e era o mais antigo e um dos mais importantes museus do Brasil.

“Portugal perde sempre. É patrimônio de origem portuguesa, mas é patrimônio cultural do Brasil”, disse Luís Filipe Castro Mendes.

Em janeiro de 2015, este museu chegou a estar fechado ao público devido a “problemas com os serviços de vigilância e limpeza”, relacionados com o atraso de meses no pagamento, e os funcionários de limpeza também fizeram uma paralisação por falta de pagamento dos salários, noticiou a imprensa local, na altura.

O Presidente do Brasil, Michel Temer, reagiu, em comunicado: “Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia do nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para a nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros”.

A história do museu remonta aos tempos da fundação do Museu Real por João VI, em 1818, cujo principal objetivo era propagar o conhecimento e o estudo das ciências naturais em terras brasileiras. Hoje, era reconhecido como um dos principais centros de pesquisa em história natural e antropológica, na América Latina.

Governo

Além do ministro da Cultura, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal divulgou nota expressando “sua profunda tristeza pela perda de um acervo histórico e científico insubstituível, no incêndio que ontem destruiu o emblemático Museu Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, assim como pelos danos sofridos pelo próprio edifício, também ele um marco importante da História comum luso-brasileira”.

O Governo Português se colocou a “inteiramente disponível para, no que for útil e possível, colaborar na procura da reconstituição deste importante patrimônio identitário, não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina e do mundo, em prol das gerações presentes e futuras”.

A nota ainda lembra que na altura que se comemoram os 200 anos da Aclamação de D. João VI, fundador do originário Museu Real, e do nascimento da Rainha de Portugal D. Maria II, ocorrido neste Palácio de São Cristóvão, “somos dramaticamente recordados de que também nas tragédias se refletem os vínculos seculares entre os nossos dois Países”.

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