Série de TV “encara de frente” preconceitos entre Brasil e Portugal

Por Vanessa Sene Mundo Lusíada

Mundo Lusíada

>> Presidente e apresentador da TV Cultura, Paulo Markun conversa com o jornalista português Carlos Fino e com o Cônsul-Geral de Portugal, Queiróz de Ataíde

Em 25 de abril, estreou o programa luso-brasileiro “Lá e Cá”, na TV Cultura, uma co-produção com a RTP2 de Portugal. A cerimônia de lançamento da série, que traz diferenças e semelhanças entre o Brasil e Portugal, aconteceu quatro dias antes, nas dependências do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

Os convidados dos jornalistas que encabeçam este projeto, o brasileiro Paulo Markun (presidente da TV Cultura), e o jornalista português Carlos Fino (conselheiro de imprensa da Embaixada de Portugal no Brasil) tiveram a oportunidade de assistir um trecho do programa, que tenta fugir do discurso acadêmico para uma conversa informal entre dois amigos. A estrutura do programa aborda idéias estereotipadas através de depoimentos colhidos nas ruas de Lisboa e em cidades brasileiras, comentados e esclarecidos pelos jornalistas. Entre os assuntos, os participantes citaram temas como a dúvida de muitos brasileiros sobre o que é o fado, ou a visão dos portugueses sobre a mulher brasileira, a colonização e uso das riquezas brasileiras por Portugal, ou a idéia portuguesa da violência vigorada no Brasil.

“O programa não tem este sentido sociológico em aprofundar, e também não é algo superficial” explica Markun. “O que o programa oferece é um painel da realidade dos dois países, que busca mostrar que somos sim diferentes, mas temos muita coisa em comum. Às vezes, de um lado e outro do Atlântico, acabamos esquecendo das semelhanças e tomando atenção apenas às diferenças”.

O que, segundo Paulo Markun, gera preconceitos e clichês, exemplificada por ele pela imigração. “A forte imigração brasileira, notadamente em Lisboa, acaba gerando preconceito contra os brasileiros. Dizem os portugueses que nós é que exportamos a tecnologia do sequestro relâmpago para lá, ou que toda brasileira é uma prostituta. Isso é preconceito, assim como há no Brasil, de dizer que todo português é burro” explica o presidente da TV Cultura, e idealizador do projeto, citando que o programa “encara de frente” estes assuntos, que tem origem sociológica e cultural, mas não passam de “visões equivocadas”.

Neste sentido, Carlos Fino afirmou que há muita história para se contar para ambos os povos. “Nós temos uma história comum de séculos, e ao mesmo tempo, temos alguns ressentimentos e desconhecimento daquilo que é o Brasil de hoje e do que é o Portugal de hoje. Com esta história e língua em comum, nós entendemos que era o momento de mostrar aos portugueses o Brasil que eles não conhecem, e mostrar aos brasileiros o Portugal que eles não conhecem” diz Fino ao Mundo Lusíada, defendendo ser hoje oportuno para mostrar a nova realidade, de um lado e outro do Atlântico.

A produção leva ainda a participação de artistas e personalidades portuguesas e brasileiras, como Fafá de Belém, Tom Zé, Mariza, além do escritor Laurentino Gomes, o historiador Eduardo Bueno, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os 13 capítulos da série “Lá e Cá” podem ser acompanhados aos domingo, às 21h, na TV Cultura.

Projeto de 6 anos atrás A idéia de Paulo Markun para a realização do projeto surgiu há 6 anos. E justamente neste ano, em que ele termina o seu mandato como presidente da TV Cultura, no próximo mês de junho, teve o seu projeto finalmente finalizado, apesar da sua difícil implementação. “O resultado final, embora não seja o que eu tenha imaginado, me agrada muito. Nós escapamos dessa conversa acadêmica, sem deixar de abordar questões importantes, com um certo bom humor” descreve Markun, citando a história, tradição e modernidade como parte do conteúdo da série. “Na conversa se apresenta um pouco da bagagem de cada um de nós, a tradição portuguesa no Carlos Fino e a brasileira no meu caso”.

Segundo Carlos Fino, havia um “perigo” da estrutura do programa se tornar uma conversa entre “dois velhos”, brinca. “Seria uma conversa chata. Mas evitamos isso porque demos vazão a um estilo informal que é próprio do jornalismo, e que é nosso” citou ao Mundo Lusíada. “Os jornalistas, um pouco como os poetas, sentimos o ar do tempo, e o que está no ar se desenha uma possibilidade de uma cooperação estratégica” diz Fino, citando uma aliança positiva entre Portugal, Brasil e África.

A intenção dos organizadores é fazer uma maior divulgação desta série, seja na Internet, seja em ações diversas, como incluir o conteúdo a bordo de aviões na rota aérea Brasil-Portugal. “Neste momento estamos discutindo novas maneiras de fazer com que este conteúdo seja visto por mais gente” afirma Markun.

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