Patrimônio: Douro recebe protestos no 10º aniversário de classificação da UNESCO

Pinhao, uma das adeias que fazem parte do Alto Douro Vinhateiro. Nesta quarta-feira é assinalado o décimo aniversário do Douro Património Mundial. Foto: ESTELA SILVA / LUSA

Da Redação
Com Lusa

Ambientalistas e dirigentes de “Os Verdes” recebem em 14 de dezembro, na Régua, o secretário de Estado da Cultura à entrada das comemorações do décimo aniversário do Douro Patrimônio Mundial em protesto contra a construção da Barragem de Foz Tua.

Francisco José Viegas preside à cerimónia evocativa dos 10 anos da elevação do Douro a Paisagem Cultural Evolutiva e Viva da UNESCO, que decorre no Museu do Douro. “Os Verdes” vão aproveitar para entregar ao governante e representantes de entidades com responsabilidade na área classificada uma carta aberta que tem como lema “Parar a barragem, salvar a classificação”.

Este partido sublinha que o Alto Douro Vinhateiro (ADV) “não pode agora ser ameaçada nem posto em causa pela construção da Barragem de Foz Tua”.

Um relatório elaborado pela Icomos, uma associação de profissionais da conservação do patrimônio, refere que a construção de uma barragem, na foz do rio Tua, terá “um impacto irreversível” e constitui uma “ameaça ao valor excecional universal”.

Para “Os Verdes”, “não restam dúvidas que a barragem será uma ferida que gangrenará a classificação, abrindo um precedente na área classificada que ditará a perda deste selo de qualidade, mais cedo ou mais tarde”.

O partido quer ainda entregar ao secretário de Estado da Cultura uma prenda que simboliza uma “gota de água do Douro” na qual se refletem os seus socalcos. Uma gota que “Os Verdes” não pretendem que se transforme numa lágrima do Douro pela perda da classificação.

Também a associação Quercus, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (Geota) e o Centro de Estudos de Avifauna Ibérica (CEAI) convocaram luto para esta quarta.

Os ambientalistas querem aproveitar o dia para alertar para a ameaça de desclassificação e, por isso, convidaram, através da rede social Facebook, os defensores dos vales do Douro e do Tua a estarem presentes na Régua vestidos de luto, com faixas e bandeiras negras.

O programa das comemorações é organizado pela Estrutura de Missão do Douro, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a Liga dos Amigos do Douro Patrimônio Mundial e a Comunidade Intermunicipal do Douro.

A iniciativa arranca com uma cerimônia, que servirá para apresentar um balanço dos 10 anos da classificação e antever os desafios do Alto Douro Vinhateiro na próxima década.

À tarde realiza-se a conferência inaugural do ciclo “Que Douro na Próxima Década?”, subordinada ao tema “Economia e Desenvolvimento” e contará com a presença de Arlindo Cunha, Miguel Cadilhe e Paulo Gomes.

Milhões em investimentos
Nas últimas três décadas, o Douro foi alvo de milhões de euros de investimento público e privado em hotéis e restaurantes, na construção de museus e novas adegas e na reconversão de vinhas ou estradas que rasgaram este território.

Entre a década de oitenta e 2006, o Douro foi alvo de 11 programas de desenvolvimento regional e recebeu à volta de 2,5 bilhões de euros de investimento público e privado.

No âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), a partir de 2007, a NUT III Douro viu aprovados cerca de 443 milhões de euros de investimento total, com comparticipação comunitária de 322 milhões de euros, distribuídos pelas rubricas Fatores de Competitividade, Potencial Humano e Valorização do Território.

Para Ricardo Magalhães, chefe da Estrutura de Missão do Douro (EMD), o apoio efetivo de fundos comunitários de que o território beneficiou nos últimos anos “não ficou no papel”. “Comprova-se no território. Há exemplos concretos em várias áreas: cultura, acessibilidades, ambiente, hotelaria e restauração”, acrescentou.

O responsável disse que a cultura foi assumida como um eixo estratégico do Plano de Desenvolvimento Turístico, destacando os museus do Douro e do Côa, a Rota de Cister, a Rede de Monumentos do Douro Superior, o espaço Miguel Torga, e a requalificação de vários centros históricos. “Este património é um passaporte para o mundo”, sustentou.

No âmbito do turismo, para além dos projetos de qualificação dos recursos turísticos (naturais, culturais e paisagísticos), referiu outros exemplos concretos, como a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro, a criação de uma nova geração de postos de turismo na região (rede de centros de informação turística regional que está em execução).

Ricardo Magalhães referiu ainda os investimentos turísticos privados, que ascendem aos 46.2 milhões de euros, desde 2007.

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