Parada militar abre comemoração dos 200 anos da abertura dos portos

Da RedaçãoMundo Lusíada

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FAMÍLIA REAL >> Selo dos Correios comemorativo aos 200 anos.

Para assinalar a decisão do Príncipe D. João de autorizar a abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional, em 28 de janeiro de 1808, uma cerimônia em Salvador na Bahia marcou a data. O embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, esteve representando Portugal. O evento na Associação Comercial da Bahia reuniu ainda o ministro brasileiro da Cultura, Gilberto Gil, e ministro dos Portos, Pedro Brito.

Seixas da Costa destacou a cidade de Salvador, que há 200 anos recebeu o Príncipe regente e a sua corte, como "a cidade do mundo onde melhor estão retratados os cruzamentos das gentes que foram convocadas pela aventura colonial portuguesa". Para o diplomata, "muito daquilo que, no imaginário brasileiro, sobrevive historicamente como caricatura da Corte, o sublinhar cruel de alguns dos seus sinais físicos e comportamentais, tidos por risíveis, foi, e parece ser ainda em alguns setores brasileiros contemporâneos, o produto de uma mecânica rejeição anti-colonial, da necessidade de compensar pela crítica o imperativo de reconhecer os efeitos altamente positivos que, para o Brasil, resultaram desse mesmo tempo".

Sobre a decisão de D. João, o embaixador disse que, além de um gesto de gratidão com os ingleses, teria sido um gesto de "realismo e pragmatismo", diante de pressões dos comerciantes da Bahia e também destinado à "viabilização econômica do império português, nas condições difíceis em que o país operava". "D. João estava longe de supor que o Brasil iria caminhar rapidamente para a independência, 14 anos depois. Com toda a certeza, acreditava que o gesto que então fazia, embora mudasse radicalmente o estatuto funcional da colônia, não ia pôr em causa a integridade do império. Antes pelo contrário, pensava mesmo que iria reforçá-la".

Na ocasião, foi relançado o livro Abertura dos Portos no Brasil, de Pinto de Aguiar. Também foi lançado o selo dos Correios comemorativo ao bicentenário da abertura dos portos brasileiros à nações amigas.

Desfile em ÁguasJá em 22 de janeiro, um desfile naval pelas águas da Baía de Todos Santos abriu oficialmente as comemorações na Bahia, numa cerimônia com a participação do navio-escola brasileiro "Cisne Branco" e mais 11 embarcações da Marinha Brasileira. Representantes e autoridades participaram de uma reconstituição do desembarque de D. João, embarcando em um dos navios para o porto de Salvador.

No evento presidido pelo Governador da Bahia, Jacques Wagner, Portugal esteve representado pelo Cônsul-Geral de Portugal, João Sabido Costa, acompanhado pelo Conselheiro Cultural da Embaixada, Adriano Jordão. As embarcações partiram do antigo Porto da Barra, local onde aportou D. João VI e parte da comitiva vinda de Lisboa. "Estamos vivendo um momento de reencontro, inclusive no nível econômico, com empresários brasileiros investindo em Portugal e empresários portugueses buscando oportunidades de investimentos no Brasil", disse o governador Wagner.

Na mesma ocasião, foi lançado o selo comemorativo da data, da autoria do artista português José Luiz Tinoco, em conjunto pelos Correios de Portugal e do Brasil, e teve lugar no Palácio Rio Branco. Ambas as cerimônias teve participação de autoridades civis e militares locais, além do vice-presidente dos Correios de Portugal, Dr. Pedro Coelho.

As comemorações dos 200 anos da vinda da família real acontecerão em diversas cidades do país durante todo o ano. Na Bahia uma comissão formada pelo Governo do Estado, Prefeitura de Salvador e Associação Comercial elaboraram uma programação que se estenderá até final de 2008, com a realização de diversos eventos.

Os eventos foram marcados também pelo lançamento do site www.200anosaberturadosportos.com.br. "O Brasil presenciou a abertura dos portos às nações amigas, o livre comércio, a implantação de indústrias, a introdução de diferentes hábitos culturais e a criação de importantes instituições, como: a Imprensa Régia, o Banco do Brasil, a Biblioteca Real (Biblioteca Nacional), Real Academia de Belas Artes (Museu Nacional de Belas Artes), o Jardim Botânico, a Real Academia Militar".

Positivo ou NegativoQuestionado sobre a decisão positiva ou negativa da abertura dos portos, Seixas da Costa afirmou que o acontecimento só poderia ser favorável à Portugal se "a sede do império tivesse permanecido no Brasil ou se, regressando a Corte a Lisboa, Portugal tivesse conseguido prolongar, por qualquer forma, a sua tutela sobre o Brasil".

A perda do Brasil inviabilizou o projeto do império: "É que o Brasil era então a única verdadeira colónia de Portugal. As possessões africanas eram meros entrepostos costeiros, cuja rentabilidade assentava em pouco mais do que o tráfico de escravos". Assim concluiu o embaixador que "a criação das instituições portuguesas em terra brasileira, que temporariamente havia salvo a Corte e a soberania do país, acabou por impulsionar, de forma decisiva, o desejo de libertação. A independência do Brasil era já inevitável".

Sobre a história contada nos dias de hoje, afirmou: "Talvez a nossa historiografia não tenha sabido valorizar como estratégico o gesto que a saída de Lisboa significou para a salvaguarda da soberania portuguesa, poupando à Corte a humilhação a que a França napoleônica submeteu grande parte da Europa" disse. "Talvez a circunstância de D. João VI, no seu regresso a Portugal, ter sido mais do que equívoco na sua posição face às idéias liberais, então já prevalecentes, tenha contribuído também para firmar o juízo maioritariamente negativo que o país sobre ele veio a fazer".

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