O escritor José Saramago defendeu a diversidade das “línguas portuguesas” e pediu aos países lusófonos que se unam sem reduzir a língua, ao discursar no Rio, onde aconteceu o lançamento mundial do seu novo romance, "A Viagem do Elefante", quinta-feira 27 de novembro.
“Na minha opinião, é a mais bela língua do mundo”, disse Saramago num discurso na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro.
“Há línguas portuguesas e não uma só língua portuguesa. Essas línguas são, ao mesmo tempo, iguais e diferentes”, declarou, ao realçar a “tarefa de defender a nossa língua”.
Segundo o único escritor da língua portuguesa que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, as autoridades dos países lusófonos devem se esforçar para se unir sem diminuir o idioma.
O escritor aproveitou para criticar o “mau uso” que se faz do idioma. “A língua portuguesa está bastante mal no uso corrente que se faz, no ensino, sabemos que se fala mal”.
Saúde Aos 86 anos e ainda em recuperação de uma pneumonia que quase o levou à morte, Saramago afirmou que, no seu livro, “a ação transformadora se deve à doença” que o afetou.
“Há males que vêm para o bem, apliquemos o conto e pensemos que de alguma coisa se aproveitou desta enfermidade que foi grave da qual eu saí intacto”.
Seu novo livro narra a viagem de um elefante indiano presenteado pelo rei Dom João 3º ao arquiduque Maximiliano da Áustria, um fato verídico ocorrido no ano de 1551.
Para ele, “a questão da linguagem é fundamental numa narrativa” e explica que no romance há uma “simbiose” entre a linguagem atual e a linguagem do século 16.
Por outro lado, o diplomata Alberto da Costa e Silva, membro da ABL e também acadêmico correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, afirmou que Saramago possui o “dom de vestir a história de ficção” e é capaz de transformar o “real num sonho com os contornos do real numa prosa com vocabulário de um poeta”.
“É um grande escritor, desses que se atrevem a tentar recriar a humanidade. Salve José Saramago”, disse.
Consolidação Já o embaixador português no Brasil, Francisco Seixas da Costa, expressou a importância da obra de Saramago para a difusão da língua portuguesa e a sua afirmação no quadro mundial.
“Saramago escreve um magnífico português e brinca com as regras, mas os escritores podem dar-se a esse luxo. A língua portuguesa está a viver um momento chave de afirmação internacional e está a servir de instrumento no poder de afirmação dos países que a falam”, disse à Agência Lusa.
Segundo o diplomata luso, Saramago “tem razão quando diz que há uma falta de atenção à língua”. O fato de lançar o livro no Brasil, é “altamente significativo e comovente, tendo atenção ao estado de saúde dele. Vir ao Brasil apresentar a sua obra é um gesto magnífico”, destacou.
No Rio de Janeiro, Saramago doou o primeiro exemplar da edição especial numerada do livro a ABL.
O escritor segue para São Paulo, onde acontece a cerimônia de lançamento do seu novo livro. Na sexta-feira, dia 26, participa na inauguração, no Instituto Tomie Ohtake, de uma exposição que traça seu percurso por meio de um conjunto de objetos pessoais e manuscritos.
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