Historiadora brasileira aborda região da Serra da Lousã em Festival Literário

Mundo Lusíada

Aconteceu no mês de junho, na Lousã, a 1ª edição do Festival Literário Internacional do Interior em homenagem às vítimas dos fogos florestais de Portugal.

Uma das participantes foi a historiadora brasileira, Sonia Freitas, que apresentou questões relativas à Região Centro, especificamente a região da Serra da Lousã e a área mais afetada pelos incêndios. Participaram deste painel ainda o escritor cabo-verdiano Filinto Silva e o escritor português Fernando José Rodrigues.

“Portugal e outros países europeus vivem o fenômeno do envelhecimento de sua população. Há baixa natalidade e os jovens continuam emigrando em busca de melhores oportunidades de trabalho para as maiores cidades litorâneas ou outros países” explanou a escritora.

Nos últimos 40 anos a população portuguesa aumentou 20% e o Interior per deu 36% dos habitantes. Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), 50% da população se concentra em 33 municípios da faixa litoral, que representam apenas cerca de 11% do total dos municípios portugueses.

Objetivando combater essas injustiças econômicas e sociais empresários e autarquias se uniram e criaram o Movimento pelo Interior que objetiva dinamizar e repovoar regiões, elaboraram propostas para o Governo, entre elas, criação de empregos, incentivo a indústria pela diminuição de imposto (IRC), criar política de fixação de estrangeiros no interior com incentivo de não cobrança de IRS, e outras.

A historiadora destacou ainda a ampliação da atividade turística da região, como exemplo, as 23 aldeias do Xisto de 13 municípios do Pinhal Interior que foram requalificadas e transformadas em polo de atração turística. E apontou para problemas, como a ausência de transporte público entre aldeias, freguesias, vilas e concelhos dificultando a aproximação, convívio, integração e as trocas culturais.

“É inegável o potencial turístico da Serra da Lousã, por seu rico ecossistema quer por suas ofertas culturais, museus, gastronomina regional, rica caça, pesca, patrimônio e lazer. É inégável o esforço de pessoas, instituições, municipalidades que têm se dedicado ao Turismo da Serra. Mas a meu ver, a Serra como um todo e, especial o Concelho da Lousã e Castanheira de Pêra oferecem condições a um Turismo em pequena escala considerando-se o número de hoteis, pousadas campings, restaurantes, cafés disponíveis e se comparada a outras regiões do país como Algarve, Lisboa e Porto. A Serra da Lousã não  dispõe de uma infraestrutura adequada para o turismo em massa” concluiu.

Programa

Sonia, que tem diversos trabalhos de pesquisa entre Brasil e Portugal publicados em São Paulo, pode cumprimentar e ofertar um dos seus livros ao presidente  Marcelo Rebelo de Sousa, e “perceber o quanto ele é querido pela população portuguesa”.

Durante a programação, Sonia ainda falou, ao lado do Dr. Aires Henriques, sobre a importância da memória e da história local para habitantes da Aldeia de Pesos, Pedrogão Grande, com alunos de escola pública de Castanheira de Pêra, e promoveu um workshop para bibliotecários de Pedrogão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos que atuarão no Projeto Memória, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

E durante a sessão solene do Festival, fez uma doação, em nome da Família Montenegro do Brasil, do livro de Visitantes da Colônia Nova Louzã ao Dr. Silvestre Lacerda, Presidente da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), na Biblioteca Comendador Montenegro, da Câmara Municipal da Lousã.

“Foi para mim uma experiência muito tocante, estar na área mais atingida pelos fogos, um ano depois, falar com pessoas que atuaram no combate aos incêndios, desde os heróis bombeiros à presidente do Concelho de Castanheira de Pêra, Sra. Alda Maria das Neves Delgado Correia de Carvalho” diz ela ao Mundo Lusíada.

O festival intermunicipal decorreu em onze concelhos da região afetadas pelos fogos de 2017 em Portugal, com pretensão de levar livros e escritores aos sítios mais imprevisíveis, como fábricas, campos, praias, igrejas, mercados, romarias locais onde as pessoas trabalham e convivem.

Em sua deslocação a Europa, Sonia Freitas seguiu ainda para atividades na Espanha, onde participou do 56º Congresso do ICA 2018, na sessão “Migraciones: espaços y conexiones en el torno digital”, abordando a Emigração portuguesa para o Brasil no século XXI e o papel dos espaços digitais na diáspora.

Doutorada em História Social pela USP e especialista em História Oral pela Universidade de Essex, Reino Unido, Sonia Freitas é autora de obras como Presença Portuguesa em São Paulo (São Paulo, 2006); e Beneficência Portuguesa de São Paulo: Um século e meio Provendo Saúde (2009); Vida e Obra do Comendador Montenegro: um lousanense visionário no Brasil (Brasil, Portugal, 2013, 2014); A Saúde no Brasil: do Descobrimento aos dias atuais (São Paulo, 2014).

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