Festival leva peças de seis países lusófonos a três unidades do SESC SP em novembro

Da Redação

Com a missão de aproximar os falantes da língua portuguesa, o Festival Yesu Luso chega à terceira edição entre 8 e 18 de novembro, com espetáculos encenados nas unidades do Sesc Vila Mariana, Santo Amaro e Campo Limpo. A programação, com curadoria da atriz Arieta Corrêa e do produtor Pedro Santos, reúne seis peças de Angola, Brasil, Cabo Verde, Macau, Moçambique e Portugal, sendo duas delas inéditas e montadas especialmente para a mostra.

O nome do evento é derivado de um dialeto moçambicano, no qual o termo “yesu” significa “nosso”; já palavra “luso” é usada em referência ao próprio idioma. A mostra surgiu a partir de um bem-sucedido projeto-piloto chamado Festival de Teatro Lusófono, organizado por Arieta e Pedro no Sesc Bom Retiro, em 2015.

“O teatro é ancestral, é aqui e agora, vida e morte – ele é tudo o que somos. E nosso maior desejo é que estes espetáculos sejam capazes de fazer o público se identificar com esses países irmãos, que falam a mesma língua. Gostaríamos que as pessoas sejam transformadas, tocadas por um incômodo, um pensamento ou um questionamento”, conta Arieta Corrêa.

Com o critério de dramaturgia em português, Pedro Santos diz que um dos destaques da terceira edição é o inédito “A Linha”, de Macau, inspirado livremente em uma obra do escritor José Saramago (1922-2010). Com falas em português e mandarim, a encenação é resultado de uma parceria entre a prestigiada Associação de Representação Teatral Hiu Kok e a Macao Artfusion. A trama trata da amizade entre os pastores Hon e Maria, que entram em conflito por causa da cegueira gerada pelo sentimento de posse sobre um território.

O outro espetáculo criado para a mostra é “A Última Viagem do Príncipe Perfeito”, do Grupo angolano Elinga Teatro, com direção de José Mena Abrantes. A trama narra histórias de pessoas que viajam entre Lisboa e Luanda em 1975, a bordo do navio Príncipe Perfeito (apelido do rei D. João II de Portugal). Uma das figuras é um estudante que decide regressar convencido de que terá papel decisivo na revolução em curso em seu pais, além de uma mulher que perde todas as ilusões e luta para reencontrar um lar, e um clandestino de todas as viagens que fez na vida e um casal que descobre que os sentimentos nunca morrem.

O representante brasileiro no festival é “Os Cadernos de Kindzu”, do Amok Teatro, inspirado no livro “Terra Sonâmbula”, do escritor moçambicano Mia Couto. A montagem narra a trajetória do jovem Kindzu, que deixa sua vila para fugir das atrocidades de uma guerra devastadora. Durante a jornada, ele encontra outros fugitivos, refugiados e personagens cheios de humanidade.

Encenada apenas três vezes antes de chegar ao Brasil, a versão do português João Garcia Miguel para “A Casa de Bernarda Alba”, do espanhol Federico García Lorca (1898-1936), cria uma reflexão sobre o aumento do isolamento criado pelas instituições no mundo contemporâneo. A obra, que se passa em uma vila na Espanha, fala sobre a vigilância absoluta que a matriarca Bernarda Alba mantém sob suas cinco filhas, Angústias, Madalena, Martírio, Amélia e Adela, que vivem trancafiadas em casa.

A moçambicana “Nos tempos de Gungunhana”, com direção de Klemente Tsamba, narra a saga de um guerreiro chamado Umbangananamani, da tribo tsonga, que fora casado com uma linda mulher chamada Malice, da tribo Macua. Embora tenham tentado muito ter filhos, não conseguiram realizar esse sonho. Essa história da tradição oral africana é contada junto com aspectos curiosos sobre a vida na corte do rei Gungunhana.

Já o cabo-verdiano Grupo Craq’ Otchod apresenta o monólogo “Esquizofrenia”, com direção de Edilson Fortes (Di) e atuação de Renato Lopes. A peça cria uma reflexão sobre os estigmas provocados por esse transtorno mental e a necessidade de inclusão social das pessoas com essa doença.

Além das peças, a programação conta com uma mesa de dramaturgia e um ciclo de leituras de textos teatrais lusófonos, encenados pelo Coletivo de Heterônimos. Outra atração é a oficina “Processo Pedagógico de Criação, com João Garcia Miguel (Portugal).

Um dos destaques do ciclo de leituras dramáticas é o texto inédito de Silvia Gomez (Brasil), “Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante”, que fala sobre uma garota que delira abandonada em uma rodovia após ser violentada em uma noite estrelada. Há também obras de Elmano Sancho (Portugal), Valódia Monteiro (Cabo Verde) e Venâncio Calisto (Moçambique).

Confira abaixo a programação completa do Festival Yesu Luso 2018:

ESPETÁCULOS

“OS CADERNOS DE KINDZU”, DE AMOK TEATRO (BRASIL)

Quando: 8 e 9/11, na quinta e na sexta-feira, às 20h

Onde: Sesc Campo Limpo

Duração: 130 minutos. Classificação: 14 anos

Sinopse: Inspirado no livro “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto, o espetáculo conta a trajetória do jovem Kindzu, que, para fugir das atrocidades de uma devastadora guerra civil, deixa sua vila e parte para uma viagem iniciática. Nela encontra outros fugitivos, refugiados e personagens repletos de humanidade que lhe farão viver experiências, ancoradas tanto na cultura tradicional do sudeste da África, quanto na vivência de um conflito devastador.

Vídeo: https://vimeo.com/191788891

“A CASA DE BERNARDA ALBA”, COM CIA. JOÃO GARCIA MIGUEL (PORTUGAL)

Quando: De 8 a 11/11, de quinta a sábado, às 20h; e domingo, às 18h

Onde: Sesc Santo Amaro – Teatro

Duração: 60 minutos. Classificação: 16 anos

Sinopse: Regressam as “Bernardas Albas” crescendo à luz cruel dos nossos dias, como monstros que despedaçam vidas. Elas fecham as casas, que representam nossas instituições, e são a cada dia mais coercivas. As oportunidades não são iguais para todos. Propagam discursos nos quais subentendem mecanismos de repressão e censura como se defendessem liberdades. A peça é inspirada na obra homônima do escritor espanhol Federico García Lorca.

ESQUIZOFRENIA, COM GRUPO CRAQ’ OTCHOD (CABO VERDE)

Quando: 10 e 11/11, no sábado, às 19h; e no domingo, às 18h

Onde: Sesc Campo Limpo – Espaço Contêiner Vermelho

Duração: 50 minutos. Classificação: 16 anos

Sinopse: O espetáculo “Esquizofrenia”, contribui para a minimização dos estigmas sociais que existem a volta deste transtorno. Há muito que os paradigmas da saúde mental modificaram o seu lema de “isolar” para “conhecer e tratar”. Pois o confinamento, o abandono, o descaso social e até familiar, intensificam o transtorno e diminuem as chances de melhora. Esquizofrenia nos faz pensar e perceber que o que sempre faltou foi humanidade e abraçar e olhar para esse problema é o que verdadeiramente ajuda. https://www.youtube.com/watch?v=dagDzBLdToc

“A ÚLTIMA VIAGEM DO PRÍNCIPE PERFEITO”, COM GRUPO ELINGA TEATRO (ANGOLA)

Quando: 15 e 16/11, na quinta-feira, às 18h, e na sexta-feira, às 20h30

Onde: Sesc Vila Mariana – Auditório

Duração: 120 minutos. Classificação: 14 anos

Sinopse: Em 1975, o navio ‘Príncipe Perfeito’ realizou a sua última viagem de passageiros de Lisboa para Luanda. Na intimidade de cada um começava a esboçar-se o fim agônico do império que o rei D João II de Portugal, cognominado o ‘Príncipe Perfeito’, tão decisivamente ajudara a construir. As situações a que aludem os seguintes momentos dramáticos poderiam ter ocorrido nessa época: o caso do estudante que decide regressar convencido de que vai ter um papel na revolução em curso no seu país (A vigia); a mulher que perdeu todas as ilusões e a que luta por reencontrar um lar (Oh, mar); o clandestino de todas as viagens que fez na vida (O clandestino) e o casal que descobre que os sentimentos nunca morrem e se renovam como as ondas do mar (Do outro lado do mar). “Todos os impérios são ilusórios e devem morrer para que a Liberdade possa renascer”.

“NOS TEMPOS DE GUNGUNHANA”, COM DIREÇÃO DE KLEMENTE TSAMBA (MOÇAMBIQUE)

Quando: 17 e 18/11, no sábado, às 19h; e no domingo, às 18h

Onde: Sesc Campo Limpo – Espaço Contêiner Vermelho

Duração: 60 minutos. Classificação: 16 anos

Sinopse: Era uma vez um guerreiro da tribo tsonga chamado Umbangananamani, que fora casado com uma linda mulher da tribo Macua, de nome Malice. Eles não tiveram filhos, embora tenham tentado muito. Este é o mote que dá início ao grande “karingana”, ou conto tradicional sobre a vida de um simples guerreiro, que muito rapidamente se vai transformar em uma sequência de outros pequenos karinganas, que relatam aspectos curiosos ligados à vida na corte do rei Gungunhana, onde a crueldade e as mortes por vezes se misturam com o humor. Cada karingana é contado e cantado com a graça dos ritmos tradicionais africanos. https://www.youtube.com/watch?v=6iSIv7KVBo4

A LINHA, COM TEATRO HIU KOK (MACAU)

Quando: 17 e 18/11, no sábado, às 20h; e no domingo, às 18h

Onde: Sesc Santo Amaro – Teatro

Duração: 60 minutos. Classificação: 12 anos

Sinopse: Dois pastores, Hon e José, amigos de longa data, passam o tempo contando histórias ou observando a natureza, procurando, nos seus sinais e formas, algo com que se entreter, quebrando assim a monotonia em que se poderia tornar as suas vidas, ocupadas a levar os animais a pastar. Um dia, Hon propõe um novo jogo: uma corda deitada sobre o prado separaria as duas partes do campo, onde cada um deveria permanecer, assim como os seus animais. O que passasse para o outro lado perderia. Para sair vitorioso da disputa, um e outro depressa recorrem a ameaças, mentiras e outros estratagemas. A ideia e o sentimento da posse de um território transformam-se em uma cegueira que irá perturbar e questionar a harmonia do convívio, a calma dos dias, a própria duradoura amizade entre ambos. A peça tem excertos do livro “Ensaio Sobre a Cegueira”, do escritor português José Saramago. https://www.youtube.com/watch?v=tYyg_ErzXnM

ATIVIDADES DE FORMAÇÃO

LEITURA DE TEXTOS DRAMATÚRGICOS, COM COLETIVO DE HETERÔNIMOS

Criado em 2015, o Coletivo de Heterônimos é uma reunião de artistas que possuem em comum a vontade de realizar espetáculos teatrais com dramaturgia própria inspirada na discussão sobre as gramáticas sociais que controlam o sujeito em sociedade. O Coletivo tem em seu núcleo principal os atores Bruno Ribeiro (NAC), Amanda Mantovani (CPT), o diretor e dramaturgo Alexandre França (Billie e Mínimo Contato), além da colaboração de artistas diversos.

8/11, às 18h

“A ÚLTIMA ESTAÇÃO”, DE ELMANO SANCHO (PORTUGAL)

Onde: Sesc Santo Amaro – Sala Multiuso

Sinopse: Na origem de “A última estação” encontra-se o assassino em série norte-americano Ted Bundy (1946-1989) – ou, mais exatamente, as semelhanças físicas entre este homem e Elmano Sancho. Da mesma forma que Bernard-Marie Koltès ficou obcecado pelo rosto de Roberto Succo, quando viu uma foto sua no metrô de Paris, também o ator e autor português se lançou a investigar a vida de Ted Bundy, que matou mais de 35 mulheres. Elmano Sancho guardou o retrato do assassino junto às suas próprias fotografias, até que um dia alguém confundiu o seu rosto com o do criminoso.

Foi esse o ponto de partida para uma reflexão sobre a violência e o desejo de transgressão na vida e na arte. A última estação interpela o conceito de dibukk, que na mitologia judaica representa o espírito ou o demónio que habita o corpo de cada um de nós, e apresenta à estrutura da Via Crúcis, as estações da Paixão de Cristo: a condenação à morte anunciada abre caminho a uma via dolorosa que culmina na inumação, mas que aspira à ressurreição, a XV e última estação.

16/11, às 18h

“SIM OU NÃO”, DE VALÓDIA MONTEIRO (CABO VERDE)

Onde: Sesc Santo Amaro – Sala Multiuso

Sinopse: Dois personagens – Antonius (ou António, tradicionalmente um dos mais vulgares nomes de Cabo Verde e Nemo (ninguém) – encontram-se desde sempre em um mesmo espaço, até que o primeiro, sufocado com o estado de coisas, decide sair e procurar outro espaço para viver. Convida o companheiro de sempre para essa jornada, mas este refuta o convite. Antonius não se dá por vencido e continua tentando convencer Nemo durante toda a peça.

14/11, às 18h

“(DES)MASCARADO”, DE VENÂNCIO CALISTO (MOÇAMBIQUE)

Onde: Sesc Vila Mariana

Sinopse: O conflito de gênero é tão antigo quanto a própria humanidade. A relação entre o homem e a mulher sempre foi uma espécie de braço de ferro. Um jogo de poder. É por conta desta necessidade, que ambos sempre tiveram, de dominar a sociedade que se inventou o mito e, ou a tradição. O Mapiko é exemplo disso, uma tradição cheia de ritos, cor e magia inventada pelos homens macondes (povo do norte de Moçambique) como forma de amedrontar a mulher e reivindicar um espaço dentro daquela sociedade matrilinear.

13/11, às 18h

“NESTE MUNDO LOUCO, NESTA NOITE BRILHANTE”, DE SILVIA GOMEZ (BRASIL)

Onde: Sesc Vila Mariana

Sinopse: Neste mundo louco, nesta noite brilhante. Enquanto aviões decolam e aterrissam em várias partes do mundo, a rotina da Vigia do KM 23 daquela rodovia brasileira é alterada pela presença de uma garota que delira, largada no asfalto após ser violentada nesta noite cheia de estrelas.

PROCESSO PEDAGÓGICO DE CRIAÇÃO, COM JOÃO GARCIA MIGUEL (PORTUGAL)

Quando: de 9 a 14 de novembro, das 14h às 18h

Onde: Sesc Santo Amaro – Teatro/Sala Multiuso
Taxa de inscrição: R$20 (inteira), R$10 (meia-entrada) e R$6,00 (credencial plena)
Inscrições: devem ser feitas diretamente no Sesc Santo Amaro

Vagas: 30

Descrição: imersão para experimentações de uma criação artística a partir dos expedientes e pensamentos da Cia JGM de Portugal, com João Garcia Miguel e integrantes da companhia.

ENCONTRO SOBRE DRAMATURGIA EM LÍNGUA PORTUGUESA

Quando: 14/11, às 20h

Onde: Sesc Vila Mariana – Foyer
Ingressos: Grátis

Participantes: José Mena Abrantes (Portugal), Dione Carlos (Brasil) e João Garcia Miguel – Portugal

Dione Carlos: Cursou jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo. Estudou atuação na escola de teatro Globe-SP. Atuou como atriz na Cia Teatro Promíscuo, de Renato Borghi e Élcio Nogueira. Formada em Dramaturgia pela SP Escola de Teatro, desenvolve parcerias com Cias de teatro. Estreou com a peça Sete, na Cia Club Noir, sob a direção de Juliana Galdino, em 2011. É autora de doze peças encenadas. É responsável pelo Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André. Em 2017 lançou seu primeiro livro: Dramaturgias do Front.

José Mena Abrantes: Nascido em 1945 em Malanje, na Angola, o jornalista, escritor, dramaturgo e diretor José Mena Abrantes é licenciado em filologia germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro da União dos Escritores Angolanos. Ele começou sua carreira no teatro em 1967, no Grupo Cénico da Associação Académica da Faculdade de Direto de Lisboa, e, deste então, integrou e fundou várias companhias, como o angolano Grupo de Teatro da Faculdade de Medicina de Luanda, o alemão Faust e o espanhol La Busca. Fundou o Grupo Elinga Teatro em 1988. Como jornalista, Abrantes foi diretor-geral da Agência Angola Press, chefe do setor de Informação e Divulgação da Cinemateca Nacional, assessor de imprensa da presidência da república de Angola, secretário de Estado para os assuntos de comunicação institucional e imprensa do presidente. Atualmente, foi nomeado consultor do presidente da república angolana.

João Garcia Miguel: Nascido em 1961 em Lisboa, em Portugal, o diretor e dramaturgo João Garcia Miguel tem suas práticas artísticas pautadas pelo experimentalismo performativo e a preocupação com o papel do artista enquanto investigador e interventor social. Ele ministra aulas em universidades em Portugal e no exterior, escreve obras performativas e ensaios sobre o ato criativo e o corpo. Fundou os grupos Canibalismo Cósmico, Galeria Zé dos Bois e OLHO – Grupo de Teatro. Em 2003, inaugura a Cia. JGM e abre em Lisboa o Espaço do Urso e dos Anjos, dedicado à formação e divulgação das artes performativas.

 

SERVIÇO
YESU LUSO 2018 – DRAMATURGIA EM PORTUGUÊS
De 8 a 18 de novembro
Sesc Vila Mariana – Rua Pelotas, 141, Vila Mariana. Informações: (11) 5080-3000
Sesc Santo Amaro – Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro. Informações: (11) 5541-4000
Sesc Campo Limpo – Rua Nossa Sra. do Bom Conselho, 120, Campo Limpo. Informações: (11) 5510-2700
Ingressos: R$20 (inteira), R$10 (meia-entrada) e R$6,00 (credencial plena)

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