Fados Dançados de Carlos Saura

Terça – feira | 10 NOV 09

ESTRÉIA NO BRASIL

Por Eulalia Moreno

Especial para Mundo Lusíada

Divulgação

>> Entre os artistas participantes do filme, Mariza, Camané e Caetano Veloso.

Fados é a mais recente criação de Carlos Saura e completa a trilogia sobre músicas étnicas do diretor espanhol que teve o seu início com Flamenco, em 1995 e Tango, em 1998. Exibido no último Festival de Cinema do Rio de Janeiro, o filme estreou no circuito comercial brasileiro no passado dia 16 de outubro.

No filme Fados, o espectador assiste em silêncio aos versos cantados por gargantas sofridas em cenas musicais primorosas, informação à mistura com apresentações de dança e música e tenta-se o quase impossível: descrever em gestos e sons o que consiste o sentimento de saudade tão característico na cultura portuguesa, esse sentimento que se apodera da alma e faz, segundo dizem alguns, com que os portugueses sejam como são.

De origem incerta essa música se ouve nas ruas de Lisboa há 150 anos e narra de nostalgia e dor, lamento pelo que se perdeu ou pelo que nunca se conseguiu alcançar. Nos primórdios do século XIX desenvolveu-se nas classes baixas, em bairros e ambientes portuários decadentes para depois tornar-se moda nas classes aristocráticas que foram introduzindo versos cantados nos seus salões.

E talvez tenha sido assim que o Fado começou a ser conhecido e saiu do seu aspecto marginal começando a chegar a públicos mais diversificados. O caminho foi longo, mas hoje o Fado é candidato e merecedor de ser nomeado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Silencio que se vai cantar o Fado Fados é quase como uma viagem de ida e volta, uma viagem que passa pelo Brasil, África e que se une ao flamenco para criar um intenso fado flamenco cantado por Miguel Poveda e Mariza (Fado Meu, de Paulo de Carvalho). E figuras indiscutíveis como Carlos do Carmo (também supervisor musical do filme), abrem alas para as novas gerações do Hip-Hop como NBC,SP e Wilson que homenageiam Alfredo Marceneiro.

Através de imagens de arquivo vemos Amália Rodrigues acompanhada por Alain Oulman, ao piano, durante um ensaio para a RTP cantando versos de Cecília Meireles em Soledad, Alfredo Marceneiro em Tricana de sua autoria com Henrique Lopes do Rego, fotos e voz de Lucília do Carmo em Foi na Travessa da Palha (Gabriel de Oliveira/Frederico de Brito) além de um pequeno trecho do filme A Severa de Leão Barros, de 1931. E quanto ao saudosismo, ficamos por aí. Homenagens a Amália na voz de Caetano Veloso em Estranha Forma de Vida (Amália Rodrigues/Alfredo Marceneiro) e a Lucília do Carmo através da mexicana Lila Downs.

A riquíssima presença do Fado no mundo surge nas interpretações de Toni Garrido com um lundum mineiro mais antigo do que o próprio Fado, Menina Você que Tem (Direitos Reservados), Lura em Nhá Esperança (Domínio Público), San Juan, um Grupo Folclórico de Cabo Verde além de Chico Buarque numa memorável interpretação do seu Fado Tropical (Ruy Guerra/Chico Buarque) com a declamação de Carlos do Carmo enquanto ao fundo são projetadas imagens da Revolução dos Cravos iniciadas ao som de Grandola Vila Morena (José Afonso).

Saura inova utilizando estruturas móveis sobre um cenário que tão rapidamente se desfaz quanto se reconstrói, projeções de fotografias e filmes, bastidores de plástico e espelhos, ferramentas que o diretor emprega para criar as vielas de Alfama, as salas onde os fadistas ensaiam com os seus músicos e os obscuros e carregados ambientes das Casas de Fado.

Nesse cenário vários fadistas novos e clássicos cantam enquanto bailarinos e atores representam, de forma expressiva, a canção cantada. E, dentre eles: Carlos do Carmo (Um Homem na Cidade de Ary dos Santos/Jose Luis Tinoco), Argentina Santos (Vida Vivida de João de Freitas/Felipe de Almeida Pinto), Mariza (Ó Gente da Minha Terra de Amália Rodrigues/Tiago Machado), Camané (Sopra Demais o Vento, de Fernando Pessoa/Jose Joaquim Cavalheiro Jr), Ricardo Ribeiro e Pedro Moutinho (Fado Lopes de Conde Sobral/José Lopes), Vicente da Câmara, Maria Nazareth, Carminho, Catarina Moura e Sofia Varela.

Sem dúvida, um belo presente para Portugal, para os portugueses e para os lusófonos.

 

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