Faculdade de Medicina da Bahia comemora bicentenário

Arquivos dos 50 primeiros anos da Faculdade precisam ser digitalizados para não serem perdidos, mas governo não apóia o projeto.

De Portugal Digital

Paulo Novais/Lusa

BIBLIOTECA DIGITAL >> Sala de leitura da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra que passa por processo de digitalização e permitirá a consulta das obras na Internet. No Brasil, arquivos dos 50 primeiros anos da Faculdade de Medicina da Bahia precisam ser digitalizados para não serem perdidos, mas governo não apóia o projeto.

 

A Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a primeira do país, completou 200 anos no último 18 de fevereiro. A data foi marcada por uma série de homenagens e pelo seminário Perspectivas da Medicina no Século 21, entre os dias 19 e 21.

De acordo com o diretor da faculdade, José Tavares-Neto, a mais antiga instituição de ensino superior do Brasil nasceu com o nome de Escola de Cirurgia da Bahia e foi uma das primeiras medidas tomadas pela Coroa portuguesa após a chegada da família real em Salvador, em 22 de janeiro de 1808.

“Poucas instituições no país têm tanta história para contar. Um dos tesouros mais preciosos de Salvador, ao lado dos arquivos da Igreja, é o conjunto de atas da congregação da faculdade, que remonta a 1826. Trata-se de um testemunho da história do Brasil”, disse Tavares-Neto à Agência FAPESP.

Apesar da importância, o acervo histórico da Fameb, com um total de 100 milhões e 200 mil páginas, corre risco de desaparecimento. “Entre 2004 e 2007 conseguimos recursos da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] para reordenamento e limpeza de todo esse material, que hoje está disponível para pesquisa. Mas os documentos, especialmente os dos primeiros 50 anos, estão muito fragilizados, e se não forem digitalizados e tratados, não deverão durar mais que cinco anos”, disse o diretor.

A digitalização de todo o arquivo, segundo ele, foi avaliada em R$ 1,2 milhão. “Ainda não conseguimos esses recursos, o que é uma grande preocupação nossa. Enviamos projetos ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] e ao Banco do Nordeste, que foram negados. Queremos abrir uma licitação para que uma empresa faça essa digitalização”, contou.

Alunos com escravos Em 18 de fevereiro de 1808, D. João VI seguiu o conselho do cirurgião-mor do reino, o pernambucano José Correia Picanço, e fundou a Escola de Cirurgia da Bahia. A nova escola tinha dois professores e pouca organização. “Foi um início precário, mas a escola sobreviveu até à reforma do ensino de 1815, quando o curso passou de quatro para cinco anos e começou a se consolidar”, disse Tavares-Neto.

“As atas da congregação revelam fatos pitorescos. Um deles relata a tentativa de um diretor de proibir que os alunos levassem escravos para a faculdade, porque, enquanto os senhores estavam em aula, eles faziam barulho. Foi vetado por unanimidade com a justificativa de que ele não tinha o direito de disciplinar propriedades particulares”, contou.

Em 1829, no período de regência, a escola deixou de ser uma simples repartição do governo e passou a ter um corpo diretivo. Em 1832, o curso subiu para seis anos e ganhou autonomia. “Até ali a interferência do governador era imensa. As provas eram realizadas em sua presença”, disse. A partir daquele ano, a instituição ganhou o nome atual de Faculdade de Medicina da Bahia e passou a formar doutores e não mais cirurgiões.

Agenda cheia no bicentenário A inauguração do restaurado Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFBA (Famed), no Terreiro de Jesus, Salvador, iniciou as solenidades de comemoração do bicentenário da instituição. As obras, realizadas pela Fapex, tiveram patrocínio da Petrobras, com apoio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura.

No mesmo dia, houve o lançamento do selo comemorativo do bicentenário pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). A solenidade prosseguiu com missas e visita às instalações da Biblioteca Prof. Gonçalo Moniz da Memória da Saúde Brasileira, cuja restauração do acervo e prédio, realizada pela Escola Oficina de Salvador (EOS), foi patrocinada pelo Ministério da Saúde.

Ainda, Eliane Azevedo, ex-reitora da UFBA, lançou o livro “Bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia – memória histórica de 1996-2007”. Depois, finalizando as comemorações no Terreiro, médicos artistas como Tuzé de Abreu e Luciano Fiúza, dentre outros, protagonizam um show musical.

 

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