Entrevista: Governo Regional prioriza jovens açor-descendentes

Jovens estarão reunidos no Conselho Municipal da Casas dos Açores que este ano decorre de 31 de Agosto a 4 de Setembro no Rio de Janeiro.

Por Eulália Moreno
Para Mundo Lusíada

José Viveiros e Maria da Graça, em sua visita a Festa do Divino da Casa dos Açores de SP.

Desde Outubro de 2010, Maria da Graça Borges Castanho é a Diretora da Direção Regional das Comunidades (DRC) do Governo Regional dos Açores e, pela primeira vez, no exercício dessas funções deslocou-se aos Estados Unidos, Uruguai e Brasil onde visitou as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis, manteve encontros de trabalho com os diretores das Casas dos Açores locais e estabeleceu contatos com outras instituições, órgãos governamentais, associações, universidades e centros de investigação que estudam a saga açoriana em terras brasileiras.
A São Paulo chegou no dia 11 de Junho, primeiro dia das Festas do Divino Espírito Santo na Casa dos Açores, depois de um atribulado vôo que devido ao mau tempo na capital, foi desviado para a cidade do Rio de Janeiro onde a espera foi de mais de 5 horas. Com o necessário reajuste da agenda face a esses contratempos, a entrevista com Maria da Graça Borges Castanho para esta edição do Mundo Lusíada, foi feita por email.

Mundo Lusíada: Qual o apoio  financeiro que o Governo Regional concede às Casas dos Açores sediadas no Brasil?
Graça Castanho: As Casas dos Açores do Brasil desenvolvem um trabalho ímpar e de grande relevância no processo de preservação e manutenção do nosso patrimônio cultural. O Governo dos Açores apóia financeiramente essas Casas todos os anos, apoio esse que não cobre as despesas que as mesmas têm com o cumprimento dos seus planos de atividades que incluem a realização de eventos cívicos e religiosos. Financiamos sim, integralmente, a realização do Conselho Municipal da Casas dos Açores que se realiza anualmente numa Casa diferente, segundo uma sequencia pré-estabelecida e que este ano decorre de 31 de Agosto a 4 de Setembro no Rio de Janeiro.

ML: Recentemente a RTP Internacional transmitiu as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres e incluiu na reportagem o testemunho emocionado de muitos emigrantes que jamais voltaram ao arquipélago por dificuldades econômicas. O que o Governo açoriano faz ou pretende fazer em relação a isso?
GC: Os açorianos ou açor-descendentes são muito mais do que um milhão espalhados por todos os continentes. É impossível ao Governo atender às expectativas de todas essas pessoas. No entanto, temos a decorrer há vários anos um programa chamado “Saudades dos Açores” que visa precisamente levar às Ilhas todos os anos pessoas idosas, que não as visitam há mais de 20 anos. No âmbito deste programa, já visitaram a ilha centenas de açorianos como o apoio da SATA e de outros organismos. Este ano, pela primeira vez, foram executados dois projetos novos: “Ao Encontro de Famílias” dirigido a familiares de deportados dos EUA e Canadá e “De Mãos Dadas com os Açores” para portadores de deficiência que pretendiam visitar os Açores.

ML: O que tem feito o Governo no sentido de promover a cultura açoriana junto a camadas mais jovens de açor-descendentes?
GC: Todas as pessoas ou instituições que promovem atividades junto das populações açorianas na Diáspora podem candidatar-se aos apoios da DRC através da apresentação dos seus projetos entre os dias 15 de Outubro e 15 de Dezembro de cada ano. Existe um júri que analisa as propostas e sugere o montante do apoio. Lembro que só oferecemos apoios, nunca financiamos na totalidade os eventos ou grupos. No caso de filarmônicas, grupos de teatro, de folclore, coros, bandas, etc. é-nos de todo impossível trazer toda a gente aos Açores. Os custos são elevadíssimos. Tais apoios poriam em risco a programação da DRC, impossibilitando-nos de trabalhar com diversas instituições e em diversos projetos. Este ano, a pensar nos jovens, estamos prestes a começar o primeiro Campo de Férias Intercultural que irá juntar jovens da Diáspora com jovens dos Açores na ilha do Pico, com visitas programadas às ilhas do  Faial e de São Jorge.

ML: Não se nota na Comunidade açoriana do Brasil uma intervenção e participação política e social nas suas cidades de adoção, como se constata, por exemplo, nos Estados Unidos. Na sua opinião, isso acontece por que?
GC: Tem acima de tudo a ver com o nosso jeito português de considerar a intervenção política uma área de somenos importância. O meu discurso nas Casas dos Açores vai sempre no sentido de que precisamos fazer o que as outras comunidades estrangeiras fazem, no que diz respeito à afirmação política. Para isso, as comunidades têm de ter uma estratégia concertada, têm de preparar os jovens promissores, têm de criar condições para que cada vez mais jovens das nossas comunidades ascendam a patamares do poder que possam inscrever os nossos anseios e necessidades nos programas eleitorais. As nossas comunidades têm de aprender que exigir dos políticos o que prometeram é um exercício de cidadania. Não podem continuar caladas e escondidas nos seus bairros. Têm de ter uma intervenção cada vez maior com jovens formados nas universidades e com capacidades para tal.

ML: Qual o calendário de eventos propostos pelas Casas dos Açores do Brasil para este ano e para 2012, já aprovados pelo Governo Regional e em que medida a situação econômica portuguesa poderá causar o cancelamento de alguns desses mesmos projetos?
GC: O Governo dos Açores não cria nem cancela projetos das Casas dos Açores. Todos os anos as Casas dos Açores promovem as ações que acham mais pertinentes e fazem-no com muito sucesso e visibilidade. Por exemplo, e no caso do Brasil, existem projetos importantíssimos que irão acontecer já no próximo ano: em São Paulo, a organização, em parceria com o Governo dos Açores, de uma exposição sobre as ilhas no Shopping Anália Franco, em Santa Catarina, a Escola de Samba “Consulado” escolheu como enredo de 2012 os Açores e no Rio Grande do Sul a  =comemoração dos 260 anos da chegada dos primeiros povoadores açorianos àquele Estado além do já citado Conselho Mundial das Casas dos Açores que decorre de 31 de Agosto a 4 de Setembro no Rio de Janeiro.

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